(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas CORAGEM

Estão sumindo os extensores de cinto e ninguém sabe o que está acontecendo 4j5i5l

'Quantas vezes você, caro (a/e) leitor já foi 'arrancado' de um lugar marcado, pelo qual você pagou, por conta da sua aparência física?'


02/03/2023 10:00 - atualizado 02/03/2023 13:43

Jéssica é uma mulher branca, gorda, e está de cabelos presos. Ela usa um óculos e segura um extensor de cinto na frente de sua boca
(foto: Jéssica Balbino/Reprodução)
Se contar, ninguém acredita. É clichê começar uma história assim, mas o que aconteceu foi de desacreditar mesmo. No entanto, está consumado. 

A loucura é pensar que uma tarefa que exige tanta discrição foi executada por mim, que com os meus 130kg, não o exatamente despercebida. Não sei dizer se foi a arquitetura do plano, o calor da hora, sorte, ou falta de atenção de quem estava em volta. 

A discussão com a comissária de bordo teria sido um indicativo, caso as pessoas não estivessem tão absortas nas próprias vidas - e/ou no julgamento de que ‘não é saudável alguém desse tamanho’. 

Eu, no lugar dela, teria ficado esperta. Mas não foi o que aconteceu. O suor frio que escorreu da minha testa enquanto eu digitava, no bloco de notas do celular, freneticamente, um e-mail para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) também poderia ter entregado meu nervosismo. Mas não foi o que aconteceu. 

Onde é que já se viu?! Eu, logo eu. Ali, envolvida naquela trama. E o pensamento intruso do “e se" href='/app/noticia/diversidade/2022/12/12/noticia-diversidade,1431400/gordofobia-entenda-o-que-e-e-como-afeta-o-dia-a-dia-de-pessoas-gordas.shtml'>sociedade absolutamente gordofóbica e mais de 50% da população brasileira gorda. 

Assim, saí triunfante, pela porta da frente, segurando o extensor tal qual quem segura seu smartphone ou qualquer objeto de valor. O suor, devagar, virou uma sensação de alegria. Era possível sentir a dopamina trabalhando  meu corpo. Ficou impossível segurar o riso! 

E qual melhor forma de se vingar se não organizar a raiva e transformá-la em alegria? No pior dos casos, a história seria entretenimento para os meus amigos íntimos. Seria, claro. Se eu tivesse parado ali. 

Mas não, a sensação foi tão empoderadora que, desde então, qualquer viagem que eu faça, peço o extensor e, antes de sair, repito o ritual: suor escorrendo, frio na barriga, medo e excitação e ‘objeto a’ nas mãos. 

Se eu coleciono? Claro que não. Eu distribuo. Cada pessoa gorda que cruza meu caminho e relata problemas com o fecho do cinto em aeronaves ganha um. 

Desde então, me delicio com os olhares que antes me puniam e me sinto tão imoral e suja quanto os julgamentos que recebo. 

Isso seria suficiente para me transformar numa infratora? E qual seria a punição ideal para quem já é punido e violentado o tempo todo? 

Antes, aterrorizada com o medo de não caber, agora, sonho com o dia em que abrirei alguma revista, de alguma companhia aérea, a 12 mil pés de altura e lerei a manchete: “estão sumido os extensores de cinto das aeronaves e ninguém sabe o que está acontecendo”. 
*Para comentar, faça seu ou assine 6j5n34

Publicidade

(none) || (none)