
Intrigados com a forma como certas criaturas marinhas respiram pelo intestino em situações de emergência, pesquisadores da Tokyo Medical and Dental University puderam demonstrar o mesmo em circunstâncias experimentais para camundongos, ratos e porcos. Suas descobertas foram publicadas na revista Med nesta sexta-feira (14/5).
Os cientistas argumentam que os humanos também poderiam apelar para essa possibilidade em caso de dificuldades respiratórias quando os ventiladores não estão disponíveis ou são inadequados.
Para animais de ordem superior, a respiração envolve inalar oxigênio e exalar dióxido de carbono pelos pulmões ou guelras.
No entanto, algumas espécies desenvolveram mecanismos alternativos de ventilação.
Alguns tipos de peixes, bagres, pepinos-do-mar e aranhas obreiras também podem usar seu intestino posterior (reto) para oxigenação e sobrevivência em situações de emergência. Isso é chamado de ventilação enteral através do ânus ou EVA (sigla em inglês).
"O reto tem uma rede de finos vasos sanguíneos logo abaixo da superfície de seu revestimento, o que significa que as drogas istradas pelo ânus são facilmente absorvidas pela corrente sanguínea", disse o autor principal do estudo, Ryo Okabe.
Isso levou a equipe a se perguntar se o oxigênio poderia atingir a corrente sanguínea da mesma maneira.
Para responder à pergunta, eles decidiram conduzir experimentos com camundongos, porcos e ratos privados de oxigênio usando dois métodos: istrar oxigênio através do reto como um gás e infundir um enema carregado de oxigênio pela mesma via.
Os pesquisadores prepararam o revestimento do reto esfregando-o para gerar inflamação e aumentar o fluxo sanguíneo, o que melhorou a eficácia do suprimento de oxigênio.
No entanto, como tal preparação provavelmente seria inaceitável para humanos, eles também tentaram usar perfluorodecalina oxigenada, um líquido que já se mostrou seguro e está em uso clínico seletivo.
O fornecimento de oxigênio nas formas gasosa e líquida aumentou a oxigenação, normalizou o comportamento dos animais e prolongou sua sobrevivência.
- "Merece interesse" -
A equipe também confirmou a melhora da oxigenação em nível celular, por meio de uma técnica chamada coloração imunoquímica. Eles acrescentaram que a pequena quantidade de líquido que foi absorvida junto com o oxigênio não causou danos e não perturbou as bactérias intestinais, indicando que o método era seguro.
"Pacientes com dificuldade respiratória podem receber e no fornecimento de oxigênio com este método para reduzir os efeitos negativos da privação de oxigênio enquanto tratam da doença subjacente", acrescentou o coautor Takanori Takebe.
A equipe espera então estabelecer a eficácia da técnica em humanos em um ambiente clínico.
Em um comentário complementar, Caleb Kelly, da Yale School of Medicine, considerou que o EVA deveria ser levado a sério.
"Esta é uma ideia provocativa e aqueles que a estão encontrando pela primeira vez expressarão surpresa", disse ele.
"No entanto, à medida que o papel clínico potencial é considerado e os dados apresentados por Okabe e outros autores são examinados, o EVA surge como uma terapia promissora que merece interesse científico e médico."
A técnica pode ser útil quando há falta de ventiladores, como visto na atual pandemia de coronavírus, acrescentou o especialista.