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Estado de Minas VIAGEM AO GELO

Mergulho na História 28111g

Veleiro ligado a expedição icônica, que naufragou em 1906 na Antártida, é finalmente localizado a 3 mil metros de profundidade


10/03/2022 04:00 - atualizado 09/03/2022 23:57

Menson Bound, diretor, e John Shears, líder da missão para encontrar o Endurance, navio conduzido pelo inglês Ernest Shackleton
Menson Bound, diretor, e John Shears, líder da missão para encontrar o Endurance, navio conduzido pelo inglês Ernest Shackleton (foto: ESTHER HORVATH/AFP)
“Consegui. Maldito seja o Almirantado. Atravessamos o inferno, mas não perdi nenhum homem”, diz o texto com letras já quase apagadas, escrito no diário de bordo do explorador britânico Ernest Shackleton. Há 106 anos, o experiente marinheiro e sua tripulação embarcavam no veleiro Endurance rumo às águas geladas da Antártida.

Vestindo somente roupas de lã, munidos de mantimentos, 18 sacos de dormir à base de pele e cinco tendas de linho, Shackleton e 28 homens protagonizaram o que se tornaria um dos maiores casos de superação e sobrevivência da história marítima. À deriva no gelo, o barco acabou preso entre os blocos de gelo e a tripulação lutou por 497 dias para sobreviver às temperaturas negativas do lugar.

O mítico veleiro acabou naufragando em outubro de 1915. Ontem, os destroços do Endurance foram, enfim, localizados. No fundo do Mar de Weddell, a Leste da Península Antártida, a 3 mil metros de profundidade e usando drones submarinos, uma equipe de aventureiros, arqueólogos marinhos e técnicos encontrou o que restou da embarcação.

Foi em 8 de agosto de 1914 que Shackleton deu início à maior expedição da sua vida. Com o sucesso do norueguês Roald Amundsen, que chegou ao Polo Sul em dezembro de 1911, o explorador britânico decidiu mudar de objetivo e se propôs a fazer a travessia a pé, de quase 3 mil quilômetros, entre a costa do mar de Weddell e o mar de Ross. Além da tripulação havia 69 cães de trenó, dois porcos e um gato.

Em 5 de dezembro de 1914, porém, o Endurance se prendeu num banco de gelo, logo após deixar a Geórgia do Sul – próximo da Argentina – em direção à baía de Vahsel, ficando à deriva por nove meses, esperando a chegada da primavera para poder seguir viagem.

Em setembro de 1915, o cenário mudou. Quando o gelo começou a se quebrar, uma forte pressão atingiu o casco da embarcação. Inicialmente, Shackleton esperava que o Endurance se desprendesse, mas percebeu que o navio estava afundando e ordenou o abandono da embarcação.

Naquele 27 de outubro de 1915, sem a tripulação, que vivia no Acampamento Paciência, a 500 metros dali, houve o naufrágio. A escuna de três mastros tinha 44 metros.

Os homens estavam divididos em cinco tendas de linho e vestidos só com roupas de lã. Com oscilação de temperatura que chegava a quase 30oC negativos, havia apenas 18 sacos de dormir de pele, sorteados entre os 28 tripulantes. Com um pouco de madeira que restou do barco, improvisaram uma minicozinha, comendo carne de focas e pinguins. Em momentos de escassez, acabaram sacrificando os cães da expedição.

Em 23 de dezembro de 1915, depois de dois meses, a tripulação desmontou acampamento para tentar alcançar um lugar mais seguro. Munidos de botes, marcharam com dificuldade na esperança de conseguir um ponto sem gelo e lançá-los no mar. Sob péssimas condições de tempo, avançaram somente 12 quilômetros e decidiram, mais uma vez esperar a fragmentação do gelo para outra tentativa.

VIVOS Em 24 de abril de 1916, Shackleton partiu com cinco homens para uma viagem de 1.300 quilômetros em um barco salva-vidas de 6 metros, em direção à Geórgia do Sul. O objetivo era voltar à estação baleeira de onde haviam partido um ano e quatro meses antes.

Após 17 dias em alto-mar, o pequeno barco chegou à baía King Haakon, na ilha Geórgia do Sul. O grupo, porém, aportou a 240 quilômetros das estações baleeiras mais próximas. Shackleton e dois tripulantes decidiram que atravessariam, então, pelas montanhas cobertas de gelo para buscar socorro. Sem nenhum equipamento de segurança, levaram 36 horas para alcançar a estação.

Em meio à Primeira Guerra Mundial, o resgate do restante da tripulação foi dificultado. Somente em 30 de agosto de 1916, quatro meses depois de chegar à ilha da Geórgia do Sul, a outra parte do grupo foi salva. Os 22 homens encontrados com vida.

Em 5 de janeiro de 1922, aos 47 anos, Ernest Shackleton morreu de um ataque cardíaco na Geórgia do Sul, quando liderava mais uma expedição para a Antártida.
 
Tripulação ou nove meses sob frio rigoroso, mas todos sobreviveram: vestígios contam parte dessa saga
Tripulação ou nove meses sob frio rigoroso, mas todos sobreviveram: vestígios contam parte dessa saga (foto: ESTHER HORVATH/AFP)
 
 

“Em fantástico estado de preservação” 3e1514

 
Os restos do "Endurance" foram encontrados a seis quilômetros do local onde afundou em 1915. A expedição de pesquisa anunciou que tinha imagens dos destroços de madeira. "Está de pé, muito orgulhoso no fundo do mar, intacto, em um fantástico estado de preservação", disse Mensun Bound, diretor da missão organizada pela Falklands Maritime Heritage Trust. "Você pode até ler o nome 'Endurance' em uma proa na popa", acrescentou.

A equipe de 100 pessoas deixou a Cidade do Cabo, na África do Sul, em 5 de fevereiro a bordo de um quebra-gelo sul-africano, com o objetivo de encontrar os destroços. O leme do navio permanece intacto. Há também equipamentos empilhados contra a amurada, como se a tripulação tivesse acabado de abandonar o navio. Um dos mastros está quebrado, mas a estrutura, embora danificada, ainda está de pé. O naufrágio é protegido como um local histórico e nada foi trazido à superfície.

A expedição de pesquisa, chamada Endurance22, usou tecnologia de ponta, incluindo dois drones submarinos, para explorar a área descrita pelo próprio Shackleton como "a pior parte do pior mar do mundo".

"Este é o projeto subaquático mais complexo já feito", disse Nico Vincent, membro da missão. Os cientistas estudaram também os efeitos das mudanças climáticas, além de coletarem 630 amostras de gelo e neve. (Com agência)
 

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Ernest Shackleton consolidou seu nome na história da navegação mundial e se tornou um dos maiores exploradores da Antártida. Ele nasceu em 15 de fevereiro de 1874 em Kilkea, na Irlanda, mas se naturalizou inglês. Experiente marinheiro, desempenhou sua profissão desde os 16 anos. Aos 24, em 1898, foi qualificado pela Marinha Britânica a comandar qualquer navio de sua frota. Em 1901, embarcou junto à tripulação do Discovery, partindo pela primeira vez em direção à Antártida. Em 1907, foi novamente rumo ao Sul, desta vez em seu próprio navio, o Nimrod. Com mais três tripulantes, desistiu a 180 quilômetros do Polo Sul, em 1909. Embora sem sucesso, a expedição alcançou novo recorde de aproximação. 

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