
“A violência patrimonial é mais uma forma de abuso, mais uma forma de disputa de poder. Identificar isso é muito importante, porque provavelmente você também vai se deparar com uma relação tóxica”, resume a psicóloga e mentora de mulheres Najma Alencar.
Ela conta que a violência patrimonial, muitas vezes disfarçada de cuidado e proteção, é um dos tipos de violência – majoritariamente cometido contra as mulheres – mais desconhecidos e menos denunciados, ainda que bastante comum.
No primeiro semestre de 2022, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) recebeu cerca de 22 mil denúncias de violência patrimonial, enquanto a violência física teve 7,4 milhões de denúncias no mesmo período, de acordo com pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O termo veio à tona nos últimos meses devido ao caso da atriz Larissa Manoela, que revelou ao Fantástico, da Globo, ter sido vítima de violência patrimonial pelos seus próprios pais, que istravam sua renda e seus bens sem informá-la sobre o que estava sendo feito.
“Qualquer conduta que configure como retenção de bens, destruição de bens, de qualquer coisa que seja de valor econômico, ou algum tipo de recurso e direitos, o abusador vai fazer algum tipo de subtração, ou seja, vai tentar pegar, reter, para manter as manipulações”, explica a psicóloga.
Ainda que o caso da atriz evidencie a necessidade de se falar mais sobre a violência patrimonial cometida por familiares, Najma afirma que a maioria dos casos, na realidade, tem como vítimas mulheres manipuladas por seus parceiros amorosos.
“Como se trata de uma disputa de poder, a pessoa abusadora tem uma chavinha girada por ter mais poder que a pessoa abusada, então ela vai fazer o que ela acha que é certo, inclusive destruir os bens da outra pessoa. Então, quando há uma briga em que, por exemplo, acontece de uma das partes do casal pegar o celular da outra e jogar na parede, que é uma coisa que infelizmente acontece com muita recorrência, isso é violência patrimonial”, atenta ela.
Para a psicóloga, nem sempre é fácil identificar se uma pessoa é vítima desse tipo de violência. Por isso, ela lista uma série de dicas que podem ajudar a reconhecer comportamentos padrões que podem estar relacionados à violência patrimonial:
1. Alerta para a justificativa da “istração”
“Muitas vezes a pessoa abusadora, seja o marido, os pais ou outrem, usa da justificativa que está istrando os recursos familiares para a partir disso impedir que a mulher tenha o a eles. No entanto, istrar é diferente de reter e não permitir que essa mulher saiba quanto há ou o que está sendo feito com o dinheiro, por exemplo. Para convencê-la, é comum o abusador afirmar que ela não é capaz, que é descontrolada financeiramente e que é melhor que apenas ele tenha o aos bens e recursos”, afirma Najma.
2. Observe a agressividade em outros posicionamentos
“Grande parte das pessoas violentas em relação ao patrimônio demonstram sua agressividade também em outros aspectos da relação, como a violência verbal e psicológica, com insultos e ofensas para ferir a vítima. Além disso, o controle financeiro se extrapola e a violência patrimonial acontece em tom de ameaça ou punição com danos a objetos, como quebra de aparelhos celulares e ocultação ou destruição de documentos”, explica a mentora.
3. Pedido de autorização: posso?
“A restrição financeira é quando o abusador começa a colocar limite nos recursos da vítima para que ela precise pedir autorização para tudo o que quiser adquirir, o que gera uma dependência muito grande. Essa dependência começa com o controle financeiro e segue para as proibições de necessidades básicas, como despesas com alimentação e medicamentos, por exemplo”, diz Najma.
4. Manipulação emocional e necessidade de controle
“Não é raro, ainda, o abusador distorcer a situação quando a vítima questiona sobre as finanças e dizer para ela que ela não confia mais nele. Ele também mina a confiança dela aos poucos, até mesmo de forma sutil, como ao afirmar que ela não tem habilidade com matemática. Tudo confirma outro aspecto muito comum nas relações abusivas: a disputa de poder, elemento sempre presente em relacionamentos assim, uma vez que o abusador tem necessidade absoluta de controle”, complementa ela.
5. Você sente mais medo ou é mais feliz?
“Embora seja realmente difícil para a vítima se enxergar nesse cenário em um primeiro momento, ela deve estar atenta aos sinais e ser sincera consigo mesma. Pergunte-se: ‘você está vivendo o melhor do seu relacionamento">
O podcast DiversEM é uma produção quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar além do convencional. Cada episódio é uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar único e apurado de nossos convidados.