
Muitos estudantes apostavam em temas polêmicos e com grande espaço na mídia, como a corrupção e o aniversário de 2 anos do estouro da Barragem do Fundão, em Mariana. Foi o caso de Alessandro Mateus Vieira, de 23. “Este domingo completa dois 2 anos da tragédia da Samarco. Achei que poderia ser o tema. Também pensei que poderia ser corrupção, Lava-Jato. Estaria na ponta da língua”, lamentou o jovem, que fez a redação em 35 minutos e acredita ter feito um bom texto, mesmo tendo se surpreendido. Antonio Alberto, de 27, também itiu ter sido pego desprevenido. Para ele, um assunto com grande chance de ser exigido seria os novos formatos de famílias. “Está mais aceito pela sociedade e está sendo divulgado constantemente pela mídia”.


Na turma dos que gastaram menos de 4h na resolução da prova e desenvolvimento da redação, João Gabriel Costa dos Santos, 20 anos, se inscreveu no Enem pela segunda vez. O objetivo é uma vaga em Educação Física. “Achei as provas de português e história bem cansativas, até por que tenho desempenho melhor em exatas, mas respondi todas as 90 questões. Já o tema da redação me pegou totalmente de surpresa, então apelei para o improviso e citei que nem tudo é problema da esfera governamental: também a população promove a exclusão social dos deficientes por meio da intolerância e do preconceito”, detalha.
PENSAMENTO CRÍTICO Específica e surpreendente, a proposta de redação “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”, segundo especialistas em educação, chamou atenção. Apesar de as questões relacionadas a deficiências e inclusão social serem trabalhadas em sala de aula nos cursos preparatórios, a limitação à surdez foi desafiadora. “A especificidade dos temas já tem sido uma característica das últimas provas, porém o assunto não estava entre os esperados. Ainda assim, ele está totalmente dentro das possibilidades de escrita do aluno”, afirma a professora de redação do Chromos Pré-vestibular, Fernanda Nader.

Outro problema é a falta de domínio da Língua Brasileira de Sinais (Libras), o que dificulta o aprendizado e convívio social dos surdos com professores, demais colegas e funcionários”, explica. A professora destaca pontos positivos na escolha de temas tão específicos como o apresentado pelo MEC nesta edição, quando é levado em consideração o espaço reservado para o texto. “A redação tem 30 linhas e quanto mais o tema for limitado, melhor, porque o aluno consegue desenvolver de forma mais direta”, disse.
Especialista em português e redação, a professora Regina Mota também confirma o caráter desafiador da redação neste ano. “Recebi muitas ligações de pais e alunos comentando a dificuldade do tema. Mas, como trabalhei com meus alunos textos voltados para a temática das deficiências e ibilidade, fica mais fácil”, afirma. A professora, que há 12 anos mantém um curso preparatório em BH, também destaca a atenção que os candidatos devem ter quanto à proposta central da redação.

FORMAÇÃO CONTINUADA Ao falar dos desafios, ela destaca a falta de investimento tanto do poder público como do setor privado na formação dos professores. “É preciso ter profissionais que possam ajudar na inclusão dessas pessoas na sociedade. Outra preocupação deve ser incluir as famílias nesse processo, para que a formação seja continuada em casa”, afirma. De modo geral, Regina Mota diz ter sido o tema uma proposta de grande relevância social. “Achei sensacional por que são 7 milhões de pessoas fazendo as provas de uma discussão que depois ecoa em toda a sociedade. É sempre muito importante refletir sobre essas questões”, afirma.
O texto da redação é dissertativo-argumentativo, com até 30 linhas, e deve ser desenvolvido a partir da situação-problema e de subsídios oferecidos pelos textos motivadores. É a primeira vez que a redação é aplicada no primeiro dia de provas. Ontem, os participantes também fizeram provas de linguagens, códigos e suas tecnologias; e ciências humanas e suas tecnologias, que somaram 90 questões de múltipla escolha. Neste ano, continuam em vigor os critérios de correção das cinco competências, conforme estabelecido na Cartilha de Participante – Redação no Enem 2017. O respeito aos direitos humanos será considerado na correção como previsto na competência 5: “Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.”