
Amanhã, às 20h, com parte da avenida reservada para o evento, o público vai ser tomado de luzes em projeto especial para 12 canções natalinas. A organização preparou surpresas para dentro e fora da cantata. Presente para artistas e plateia. O melhor da arte que há no show é o desdobramento de solidariedade. Há três anos, por meio da música, o TJMG busca oferecer ajuda aos mais jovens e mais carentes, com o apoio da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), do Conservatório da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Escola Municipal Ulysses Guimarães e da Escola Estadual Dona Augusta Gonçalves Nogueira. Do elenco, 48 pequenos artistas são sujeitos abrigados, sem pai nem mãe.
Impossível não se emocionar, do canteiro central da avenida, com o ensaio de Noite feliz. Ou ainda com Eu quero apenas, de Roberto Carlos – no trecho “quero levar o meu canto amigo/ a qualquer amigo que precisar”, até mocinhos e mocinhas no palco deságuam sentimentos. Ali, muitos perderam irmãos vítimas de violência.
Jorge Zarif, de 78 anos, de São Paulo, foi pego de surpresa com o ensaio geral. Vindo de São Paulo para correr a Volta da Pampulha, o atleta parou na calçada para “reger” orquestra e coro. Olhos luminosos e boca entreaberta, o engenheiro era retrato de emoção na avenida. “Achei bonito. Sugestivo. A unidade, a disciplina, a escolha do repertório e a graça das crianças me tocaram. O Natal é a união da família”, considerou o visitante.
Marco Antônio, a caminho do trabalho, não resistiu e também parou pelo ensaio. “Isso é maravilhoso. Nem sabia do show. Não perco de jeito nenhum. Já até liguei para minha irmã. Para combinar de trazer a mãe e o pai na terça-feira”, conta o vendedor. Nas janelas dos dois andares do Palácio da Justiça, a meninada canta e balança bandeirinhas brasileiras. O diretor, microfone nas mãos, orienta os intérpretes.
Desafio É Cristiano Peixoto quem assina a direção artística da cantata. Para ele, o maior desafio é ajustar todos os elementos do que ele chama “duas vozes” – a inclusão social e o artístico. “Procuramos respeitar ao máximo o conjunto e preservar o artístico. A arte é transformadora e não pode chegar de maneira impositiva. É preciso chegar à justa medida desses dois fatores”, explica. Para o encenador, o teatro é a arte do possível. Na cantata, Cristiano precisa lidar especialmente com os limites de segurança, com todos os cuidados para os pequenos artistas afivelados ao alto, nos janelões do Palácio.
Hemanuelle de Andrade, de 22, sorri. “Estava ando. Achei tudo muito bonito e emocionante. Acho que deve ser muito especial para eles”, diz. A professora decidiu ficar até o fim dos ensaios para dar apoio ao grupo. Eskarlate Juliana, de 21, e o irmão Weslei Romão, de 10, não escondiam o encantamento com a encenação. “Fui doar sangue… estava voltando… não fazia a menor ideia de que estava tendo essa apresentação. Estou muito impressionada. É lindo! E olhe que eles estão apenas ensaiando. Devia ter sempre. É tão raro ver tantas crianças cantando”, disse.
Personagem da notícia
Paixão à primeira vista
Agora ela diz que, quando crescer, quer ser "mais ou menos veterinária". Apaixonada por bichos desde bem pequeninha, Ana Lívia descobriu nova paixão: o violino. Orgulho do pai, Tiago, e da avó, Maria Aparecida, Ana Lívia é uma das 174 crianças matriculadas no programa social do TJMG. A mocinha está feliz da vida com a Cantata e com as novas portas conhecidas na orquestra infantojuvenil. Moradora da Vila Santa Rita de Cássia, no Morro do Papagaio, dona Maria também se diz tocada pela descoberta da neta. “Antes, eu não entendia o que ela fazia com o violino. De tanto ouvir os ensaios em casa, agora, eu descobri e aprendi a gostar das músicas que ela toca. Foi uma bênção o violino ter entrado na nossa casa”, emociona-se.