
Brumadinho – Nas ruas do distrito de Tejuco, em Brumadinho, na Grande BH, há sempre um braço para amparar, um abraço para acolher e uma palavra ou duas, sempre abafadas pela dor, para dar forças a um amigo. No mais, são os olhos do espanto, o andar a esmo ou o choro convulsivo pela falta de informações ou notícias dos desaparecidos na tragédia, ocorrida no início da tarde de sexta-feira, do rompimento da Barragem da Mina do Córrego do Feijão, empreendimento da Vale. “Estou segurando minha mãe, ela está desesperada, saiu andando por aí, entrou no mato e fui atrás”, disse, ontem, Mary Cristina Nunes, de 32 anos, que também não esconde a apreensão pelo desaparecimento do irmão Peterson Firmino Nunes, de 35, casado e pai de três filhos. A exemplo de muitos moradores de Tejuco, Peterson trabalhava na unidade da empresa, com atuação no almoxarifado.
No alto, no fundo das casas, dá para ver as montanhas lavradas pela mineração, o que faz Malvina lembrar que, na madrugada de ontem, soou o alarme na mineradora, embora o risco de rompimento de outra barragem tivesse sido descartado, pelo menos por enquanto. “Pois é, na hora que não precisa, eles ligam a sirene. Agora, quando tem que avisar, não fazem nada”, disse Malvina, para em seguida, citar baixinho o nome do filho Peterson e dizer que quer o filho vivo. Logo após a conversa, dava para ver amigos e vizinhos chegando perto e se abraçando numa união de força contra o sofrimento máximo.
Sem perdoar a mineradora e lembrando a tragédia ocorrida há pouco mais de três anos em Mariana, na Região Central, Fernando perguntou: “Até quanto a Vale vai destruir Minas e causar tanto mal">(foto: Gabriel Ronan/EM/DA Press)
Também desamparada, Marli Silva procurava pelo cunhado Anjo Gabriel da Silva Lemos. “Ele vestiu o uniforme e foi trabalhar sexta-feira. Agora, eles (autoridades) não dão uma informação correta? Está com a lista de ontem (sábado) ainda”, disse. Segundo ela, a família não recebeu qualquer assistência desde o tsunami de lama e rejeitos. No local, ela estava acompanhada de vários parentes do desaparecido.
O protesto dentro do comitê de crise durou cerca de 10 minutos, antes de ser barrado pelas forças de segurança. Certo é que, momentos depois, as autoridades voltaram a conceder entrevista à imprensa. No boletim da vez, eles informavam sobre a volta do trabalho dos militares nas zonas quentes da tragédia, com intuito de encontrar os desaparecidos. (Gabriel Ronan)
Fake news 3z615n
Além da falta de informação, as famílias enfrentam a disseminação de notícias falsas. “A gente recebe toda hora uma
ligação com coisa errada. Mandaram uma foto de um bombeiro com uma pessoa, dizendo que era meu pai. Mas a foto é de 2011”, disse Eliel de Freitas, sobre um registro feito em Patos de Minas, durante um resgate do Corpo de Bombeiros.