
A provável mudança nos critérios de avaliação de barragens e o temor de assumir a responsabilidade técnica pela estabilidade de represas, especialmente as de rejeitos de minério, tornam provável que sirenes voltem a soar, determinando evacuação imediata de comunidades em outras cidades de Minas. A retirada de moradores de Brumadinho, Barão de Cocais, Itatiaiuçu e, agora, de São Sebastião das Águas Claras (Macacos), em Nova Lima, pode ser apenas o início de uma sequência de ações preventivas, diante da preocupação com possível rompimento dessas estruturas. O alerta é de especialistas, que chamam a atenção para as consequências do aumento da produção do minério de ferro e da falta de uma política estadual de acompanhamento da situação dessas estruturas. Em declaração dada ontem, o governador Romeu Zema (Novo) também considerou que, se a legislação atual se mantiver, o estado pode ter dezenas de cidades com pessoas retiradas de suas casas nos próximos meses. Porém, ele avaliou que os últimos alertas criaram reações “além do recomendável”.
“Até antes do evento em Brumadinho, muitos laudos davam como coeficiente de estabilidade o índice 1. Mas um coeficiente de barragem de rejeitos é de, no mínimo, 3”, afirma o professor titular do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Evandro Moraes da Gama. “Estão revendo esse critério, já que duas represas ruíram. As empresas agora ficaram preocupadas e adotaram um novo critério de segurança. Logo, não sei se esse protocolo de evacuação vai ocorrer apenas em um período inicial. Penso que sirenes podem tocar todo dia e a qualquer hora”, afirma.
Segundo o professor, desde 2006 a universidade tenta mostrar que dá para transformar o conteúdo de barragens em cimento, areia, entre outros materiais, além de recuperar o ferro. Teses desenvolvidas ao longo desse tempo reforçam os alertas. “Estamos falando sobre isso há muito tempo, mas a produção de minério de ferro triplicou, o estado exportou bilhões de reais e, como consequência óbvia, foram gerados milhões de toneladas de rejeitos. Barragens que foram construída para ter determinada capacidade começaram a ter volumes maiores e, agora, estamos vendo o que isso tem acarretado: caos e pânico na população”, ressalta.
Evandro da Gama defende o uso do rejeito na forma industrial em escala, a exemplo da China, que aproveita 25% dos resíduos de barragem. “E exporta para nós, em forma de diversos produtos. No Brasil, vamos continuar na relação extrativista com o planeta Terra">(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Itatiaiuçu: 166 pessoas retiradas de suas casas
Fonte: Defesa Civil/MG