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Estado de Minas SAÚDE PÚBLICA

'A dona do posto': supervisora de UBS em Juiz de Fora é alvo de denúncias 2y5750

Preconceito, omissão de atendimento, assédio moral no trabalho e autoritarismo estão entre as principais acusações; prefeitura e gestora do posto enviaram nota


17/03/2022 14:05 - atualizado 17/03/2022 15:49

Fachada da UBS
Reportagem obteve depoimentos de funcionários e moradores durante visitas realizadas, entre janeiro e março, ao Bairro Alto Grajaú, em Juiz de Fora (foto: Bruno Luis Barros/Especial para o EM)
Preconceito, omissão de atendimento, assédio moral no trabalho e autoritarismo estão entre as principais denúncias apuradas pelo jornal Estado de Minas contra Renata Heloísa Cerqueira, supervisora de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. A reportagem obteve depoimentos de funcionários e moradores durante visitas à comunidade realizadas entre janeiro e março. Por receio de represálias, alguns dos relatos foram fornecidos sob condição de anonimato.
 
Entre as denúncias que vieram à tona, dois dos entrevistados deram a mesma versão: que Renata "persegue pessoas negras", sendo uma delas a atual responsável pela faxina da unidade. A reportagem teve o à cópia de um e-mail no qual a supervisora pede que a colaboradora seja remanejada por ser moradora da comunidade. Um episódio semelhante teria acontecido com um ex-funcionário da recepção, que também é negro (confira abaixo).
 
Além da insatisfação de trabalhadores da Saúde com o tratamento recebido no ambiente de trabalho, a responsável geral pela istração da UBS – localizada no Bairro Alto Grajaú, na Zona Leste da cidade – é alvo de um abaixo-assinado, com 190 s, que pede sua saída do cargo. Todos os entrevistados, inclusive, atribuem à supervisora a alcunha de “dona do posto”, em decorrência de uma postura supostamente autoritária.
 
O Estado de Minas entrou em contato com a Secretaria de Saúde e a denunciada Renata Heloísa Cerqueira, que, em resposta, questionou a autenticidade do abaixo-assinado e negou todas as acusações (leia os posicionamentos completos no fim da reportagem).
 
"(...). Ocorre que a servidora tem agido em desacordo com o código de conduta de nossa primorosa instituição de saúde, fugindo das suas responsabilidades, mantendo postura ética profissional duvidosa, sendo agressiva, prepotente, ríspida e arredia [com os usuários] (...)", destaca trecho do documento subscrito pelos moradores.
 
Ainda conforme o texto, a má qualidade do atendimento fornecido pela supervisora tem acarretado “traumas emocionais e psíquicos” à população.
 

'Ela persegue pessoas negras' 3x5u3j

 
Sob condição de sigilo, uma agente comunitária, que atua na UBS há mais de 10 anos, afirma que, em 2020, "a supervisora disse para a moça da limpeza que ela não estaria trabalhando no posto caso soubesse que ela era moradora da comunidade". "A Renata insinuou que a funcionária poderia vazar informações sigilosas de pacientes. A questão, aqui, é que ela persegue pessoas negras lá dentro. Isso repercutiu muito mal entre os funcionários e até hoje as pessoas comentam sobre esse caso", complementa.  
 
Responsável por protocolar o abaixo-assinado junto à Secretaria de Saúde em 17 de fevereiro, o ex-recepcionista da UBS, Francisco de Assis Beato, de 62 anos, relata que ou por episódio semelhante e acredita que foi demitido, no início de 2021, por ser negro. "Ela diz que aquela é a unidade de saúde dela e realmente age como se fosse a dona. A moça da faxina continua lá, mas eu não tive a mesma sorte. Ela falou que eu não teria nem entrado lá caso ela soubesse que sou morador do bairro", conta. 
 
"Fiquei empregado por apenas 45 dias. Ela alegou que eu poderia vazar informações para os pacientes do bairro, pois eu tinha o aos fichários deles. Ela não sossegou enquanto não me tirou de lá", acrescenta o ex-funcionário, que foi eleito conselheiro local de saúde na semana ada. 
 
Em relação ao episódio envolvendo a colaboradora da faxina, outro funcionário do posto, que também optou por não se identificar, cedeu à reportagem a cópia de um e-mail, enviado em 27 de maio de 2020, no qual Renata Heloísa Cerqueira pede que a funcionária responsável pelos serviços gerais, entre eles o de limpeza, seja remanejada. À época, servidores flagraram a correspondência eletrônica aberta em um dos computadores do posto.
 
No texto, embora os serviços prestados pela profissional sejam elogiados, a supervisora alega que a unidade trabalha com dados pessoais e sigilosos de pacientes. Logo, "pelo fato de ser moradora do bairro", a gestora insinua que a presença da colaboradora na UBS seria um risco à segurança de tais informações.
 
Leia o e-mail na íntegra:
 
Em e-mail, supervisora pede que a colaboradora seja remanejada por ser moradora da comunidade
Em e-mail, supervisora pede que a colaboradora seja remanejada por ser moradora da comunidade (foto: Reprodução)
 
Ainda segundo a mesma agente comunitária ouvida sob condição de sigilo, Renata tomou conhecimento do vazamento da correspondência. "Depois disso, ela restringiu o o ao e-mail – que era público – para um seleto grupo aliado de funcionários. A situação lá já está insustentável devido à postura muito autoritária com funcionários recém-chegados e à perseguição com pessoas negras", inicia. 
 
"Às vezes, até a conduta médica ela questiona. Não é atoa que a apelidaram de ‘dona do posto’. Como ela não lida bem com opiniões contrárias, as reuniões internas não surtem muito efeito, pois ela não segue o que ficou acordado e acaba fazendo o que quer", afirma.
 
A restrição ao serviço de e-mail, inclusive, foi confirmada por outra agente, que também não quis se identificar. "Eu sou branca e trabalho há muitos anos no posto, lidando direto com informações de pacientes. É curioso que a Renata nunca disse que eu não poderia trabalhar aqui por também morar no bairro", pondera.   
 

Assédio moral, autoritarismo e desvio de função 1n1n5x

 
Além de questionar a real motivação da supervisora para retirar funcionários específicos do posto, esta segunda agente ouvida pela reportagem conta que Renata "não mede as palavras com os servidores na frente dos usuários".
 
"Muitas vezes, ela nos trata em tom de deboche e conversa com a gente com se fossemos uma criança. É o tipo da pessoa que não sabe o significado da palavra respeito", avalia.
 
"Teve um caso que a funcionária questionou, com educação, uma ordem da Renata. Na frente de todos os usuários que aguardavam atendimento, e em tom muito ríspido, ela respondeu: ‘eu estou mandando’. Não há espaço para diálogo. As coisas têm que ser do jeito dela. Ela sempre fala assim com muita ignorância: ‘vai, anda, a!’. Não é desta forma que se trata as pessoas. Há dias que a gente sai de lá chorando", desabafa.
 
Conforme os relatos das duas profissionais, a insatisfação é praticamente unânime. Conforme uma delas, durante uma reunião na UBS com a presença da gerência de Atenção Primária à Saúde, em 3 de fevereiro, e que durou cerca de cinco horas, médicos, técnicos de enfermagem, agentes comunitários e os respectivos residentes "demonstraram insatisfação com as condutas e o autoritarismo da supervisora".
 
"Como, nesse dia, ela não estava presente, as pessoas se sentiram à vontade para reclamar", conta a agente, destacando que não aconteceram avanços significativos desde então.
 
Conforme define o Tribunal Superior do Trabalho (TST), "o assédio moral é a exposição de pessoas a situações humilhantes e constrangedoras no ambiente de trabalho, de forma repetitiva e prolongada, no exercício de suas atividades. É uma conduta que traz danos à dignidade e à integridade do indivíduo, colocando a saúde em risco e prejudicando o ambiente de trabalho".
 
Ambas as agentes comunitárias entrevistadas destacam que o serviço delas é essencialmente externo, mas os desvios de função frequentes atrapalham todo o cronograma de trabalho. "Não nos compete fazer serviço istrativo, mas a Renata, de certa forma, nos ‘obriga’. Ela diz que é voluntário, mas, caso o agente se negue a fazer, ela anota o nome dele em ata, alegando que é apenas um controle interno", diz uma das agentes.
 
No entanto, conforme a funcionária, a manobra da supervisora é uma "pressão psicológica". "É como dizer: ‘ok, você não vai, mas está aqui registrado que você não colaborou’. Então, o funcionário fica inseguro, com receio de ser perseguido, e acaba fazendo o que ela quer", finaliza.
 

Usuários reclamam do atendimento 29306o

 
A dona de casa e conselheira de saúde local Rosângela Berion, de 53 anos, conta que a primeira experiência ruim de atendimento aconteceu em 2019. "Fui levar minha filha Maria Clara lá no posto, que atualmente tem 18 anos, e ela me tratou muito mal. Então, eu falei: ‘tá parecendo uma rainha, né", enfatiza.

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