
Poeira, problemas respiratórios, barulho e tremores: em discussão desde que a mineração na Serra do Curral voltou com força aos debates públicos, os impactos da atividade já fazem parte do cotidiano de muita gente que vive próximo às minas. É o caso dos moradores do Bairro Paciência, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que sofrem os efeitos da operação da Global Mineração na região e já temem nova redução na qualidade de vida diante do licenciamento do complexo da Taquaril Mineração S.A. (Tamisa).
Aprovado na madrugada de sábado pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) e com licenças prévia e de instalação publicadas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais (Semad) na quarta-feira, o projeto do empreendimento, que vem sendo contestado judicialmente inclusive pela Prefeitura de Belo Horizonte, prevê a exploração de minério de ferro em uma área de 1.250 hectares na face do maciço voltada para Nova Lima, que faz limite com BH e Sabará.
“Moro aqui há 59 anos e sempre foi assim, mas o que já está ruim pode piorar. Até condução aqui é difícil, porque quando a gente pega o ônibus, os caminhões atrapalham a agem”, conta Roberto Luiz, de 59. E reclama: “Se os ricos querem ganhar, deixem os pobres viverem. Porque o pobre aqui não vê nada, só destruição”, afirma. Ele ite que a atividade minerária gera empregos, mas questiona a relação entre o custo e o benefício para a população: “Gerar emprego, gera. Mas se você vai trabalhar sabendo que sua família está morrendo, então, pra quê trabalhar">Ricardo Rocha reclama do transporte de minério na
principal via do bairro: "Eles am carretas com 35 toneladas, quando deveriam ter um limite de 20"
Não é só o barulho que incomoda e tira o sono dos moradores do bairro. Muito pesados, os caminhões carregados de minério também provocam tremores, que abalam a estrutura das residências. “A gente tem medo porque há casas antigas aqui, que têm 70, 80 anos e não foram estruturadas para aguentar esse tremor e essa movimentação”, afirma Rocha.
O efeito citado por Rocha é bem conhecido da comerciante Valquíria Glernon, de 46. “A gente sentia tremer embaixo da casa, mas não sabia o que era. Era quase o dia inteiro. Eles (representantes da mineradora) não aparecem. A única coisa que fazem é dar uma cesta (de alimentos) para a gente uma vez por ano, am nas avenidas entregando para as famílias no fim de ano”, relata.

DIFÍCIL RESPIRAR
Os problemas não param por aí. Moradores do Bairro Paciência reclamam ainda que a exploração e o transporte do minério levantam uma poeira que, além de tornar a limpeza de casa uma tarefa interminável, afeta a qualidade do ar. Problemas respiratórios são frequentes e o incômodo não abandona os vizinhos das minas. “Tudo está sempre sujo, a gente está sempre com uma tosse, a garganta coça, a gente começa a espirrar. E acho que tudo é mesmo por causa desse pó fininho que a gente aspira”, diz a comerciante Leonor Severiano, de 78. Valquíria, filha de Leonor, acrescenta: “Hoje eu percebo que muitas pessoas têm pigarro, problemas de garganta. O cotidiano das pessoas mudou, não está a mesma coisa não, a gente percebe isso”.