Santos Dumont, 150 anos: a história não contada do inventor em Minas 102e2g
Nascido há um século e meio na Zona da Mata, gênio que ajudou a mudar a trajetória da humanidade e sua família têm ligações profundas e pouco conhecidas com MG
O inventor em um voo em Nova York: engenhosidade valeu reconhecimento mundial (foto: International News Photos/O Cruzeiro/Arquivo EM - 1915.
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Em um voo das alterosas a Paris, na França, alçado com as asas da imaginação e da engenhosidade, Alberto Santos Dumont ganhou os ares e o mundo, deixando uma história surpreendente e sempre fascinante para todas as gerações. Neste 2023, em que são lembrados os 150 anos de nascimento do “Pai da Aviação”, o Estado de Minas mostra parte dessa trajetória e as homenagens que estão a caminho para reverenciar sua memória.
Mais que isso, revela que são muitos os caminhos da família Dumont pelas Minas Gerais. O pai, Henrique, nasceu em Diamantina, Vale do Jequitinhonha; a mãe , em Ouro Preto, na Região Central; Alberto, o filho inventor, na Fazenda Cabangu, hoje município de Santos Dumont, na Zona da Mata; três dos irmãos, na Fazenda da Jaguara, em Matozinhos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Em Sabará, também na Grande BH, o engenheiro Henrique projetou uma ponte de madeira sobre o Rio das Velhas, além de ter trabalhado no projeto de trecho ferroviário. Referências que possibilitam redescobrir as origens de um gênio que decolou do território mineiro para ajudar a mudar a forma como avança a humanidade.
Em Paris, multidão cerca o 14-Bis, invento mais famoso de Santos Dumont, com o qual o mineiro surpreendeu o mundo ao decolar de forma autônoma e voar por 60 metros (foto: Monde Et Camera/O Cruzeiro/Arquivo EM %u2013 1906)
As pegadas da família Dumont pelo estado 6d3v51
O “Pai da Aviação” nasceu na Fazenda Cabangu, hoje município de Santos Dumont, na Zona da Mata, em Minas, mas suas raízes no território das Gerais são muito mais profundas do que contam os livros. Para falar sobre a fascinante história de Alberto Santos Dumont (1873-1932), cuja memória recebe todas as homenagens em 2023 pelos 150 anos de nascimento do “mineiro voador”, é preciso começar em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, onde nasceu o pai, o engenheiro e empreendedor Henrique Dumont (1832-1892).
No caminho da família por Minas Gerais, estão ainda as cidades de Ouro Preto, na Região Central, onde brota o Rio das Velhas, mas também Sabará, Matozinhos e Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, banhadas pelo afluente do Rio São Francisco. “Depois de consagrado na França, ele veio algumas vezes a Minas, mas não fixou residência. Na verdade, vivia mais em hotéis, viajava muito. Temos foto dele no Egito, olhando as pirâmides”, conta Andréa Oliveira, historiadora do museu Casa Natal de Santos Dumont, da Fundação Cabangu, em Santos Dumont. Nas comemorações deste ano, o museu também está em festa pelo seu cinquentenário de funcionamento, com eventos em outubro, na Semana da Asa, para lembrar o herói dos ares.
Filho de ses, Henrique Dumont morou em Sabará e também na Fazenda da Jaguara, em Matozinhos, quando a área ainda pertencia ao município de Santa Luzia. Na Jaguara, nasceram três de seus oito filhos: Virgínia, Luís e Gabriela. Assim, em homenagem a Alberto Santos Dumont, o sexto filho de Henrique e Francisca Paula Santos, a Câmara Municipal de Santa Luzia deverá conceder a ele o título “post mortem” de cidadão honorário. A proposta do vereador Paulo Henrique de Assis leva em conta que, se três irmãos nasceram na Jaguara, quando pertencia ao território luziense, há um forte vínculo com a cidade tricentenária.
O local de nascimento de Alberto, algumas vezes, confundiu pesquisadores. “Curiosamente, nas primeiras décadas do século ado, houve discordância sobre o local exato de nascimento de Santos Dumont. Para se ter uma ideia, em 28 de setembro de 1913, foi aprovada, por unanimidade, no Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), uma proposta do senador Camilo de Brito nomeando uma comissão para “proceder às indagações e verificar o local de nascimento”, conta o presidente da Associação Cultural Comunitária de Santa Luzia, Adalberto Andrade Mateus, integrante do IHGMG.
Adalberto, que considera importante a homenagem do Legislativo municipal ao “Pai da Aviação”, observa que até mesmo a Academia Brasileira de Letras (ABL) chegou a se confundir. Eis um texto publicado pela ABL: “Alberto Santos Dumont, inventor e aeronauta, nasceu a 20 de julho de 1873, em Santa Luzia do Rio das Velhas (nome antigo do município), hoje cidade de Santos Dumont, depois de ter sido denominada cidade de Palmira por dilatados anos”.
Nas suas pesquisas, especialmente em “Notas Cronológicas de Belo Horizonte, de Octavio Penna (publicado pela primeira vez em 1950), Adalberto Mateus verificou que em 21 de setembro de 1903, Santos Dumont visitou BH e foi recebido com “apoteóticas manifestações” – a recepção calorosa ocorreu três anos antes do célebre voo do 14-Bis, em Paris, França. “Naquele dia, em meio às 5 mil pessoas presentes, estava uma comissão da Câmara Municipal de Santa Luzia”, destaca.
Em igreja de Sabará, o pesquisador José Bouzas mostra pequeno órgão vendido pelo pai de Santos Dumont (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A. Press
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ENGENHARIA 3c2m1q
Em Sabará, há muitas marcas da agem da família Dumont. “O engenheiro Henrique foi um grande empreendedor. Construiu a antiga ponte sobre o Rio das Velhas, da qual ficou apenas a placa de bronze, pois foi demolida para construção de uma de concreto armado, na década de 1950”, mostra o pesquisador da história local José Bouzas, chefe do Departamento de Patrimônio da Ordem Terceira do Carmo. A placa fica no recém-restaurado prédio do Solar Padre Correia, no Centro Histórico, antes sede da prefeitura.
“Alberto Santos Dumont teve a quem puxar... Ele e o pai eram avançados para seu tempo”, diz José Bouzas, segurando a placa na qual se lê: “Construída por ordem do Presidente Saldanha Marinho – 1871”, em referência ao advogado Saldanha Marinho (1816-1895), presidente, como se denominava na época, da província de Minas Gerais.
A casa onde morou o pai de Santos Dumont ainda resiste em Sabará (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Marcos em Sabará e agem pela Jaguara 1n3q12
Em Sabará, na Praça Ourives Duarte Costa, vê-se a casa onde Henrique Dumont morou com a família, ainda sem o filho que se tornaria conhecido como “Pai da Aviação”. O imóvel, hoje com placa de “aluga-se” fica exatamente diante da ponte, no o ao Bairro Paciência e a Nova Lima, que substituiu a de madeira projetada pelo engenheiro.
Voltando da escola com seu uniforme, dois adolescentes veem o fotógrafo do Estado de Minas registrando a fachada da casa e perguntam por quê. “Sabia que aí morou o pai de Santos Dumont">(foto: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional %u2013 Brasil- 4/10/1903)
A “Revista da Semana”, de 4 de outubro de 1903, fotografou Santos Dumont, ladeado por autoridades, na frente da então Secretaria de Finanças, depois Secretaria de Estado da Fazenda e atual Memorial Minas Gerais Vale, na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul da capital. Os aplausos, certamente mais intensos, voltaram a ocorrer, em BH, 20 anos depois, em 1º de dezembro de 1923.
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