Cerca de quarenta fotos são exibidas por alguns dias no coração de um enorme pavilhão de bambu de 1.000 m2, inspirado nas "malocas" dos indígenas da Amazônia e construído pelo arquiteto colombiano Simon Vélèz, no bairro empresarial de La Défense.
Em preto e branco e em grande formato, vêm das inúmeras viagens do fotógrafo pelo planeta, da Amazônia à Islândia, do Ártico ao Saara, e convidam o público a um "salto espaço-temporal" no coração da natureza interagindo com os humanos e o reino animal.
No bairro empresarial, "selva de cimento, vidro e aço, este pavilhão ganha toda a sua dimensão: feito de fibras naturais, assemelha-se a todas as construções tradicionais da história da humanidade, enquanto tudo à sua volta é artificial, as janelas não se abrem, tem que aquecer no inverno, esfriar no verão, tudo é caro e você gasta energia demais", comenta o fotógrafo de 78 anos.
"As imagens (suas fotos) no interior representam a essência da vida, a água que nasce das florestas (...) Contam a história da água em abundância e aquela que falta para aqueles que vivem em campos de refugiados, no deserto", acrescenta.
O todo é "um manifesto", observa Simon Véldèz.
- Guadua da Amazônia -
De longe, o pavilhão parece um enorme telhado de colmo, resistente à chuva, com uma complexa estrutura que evoca certos aparelhamentos antigos ou a geometria de uma catedral.
Foi construído em "guadua", um bambu gigante da zona mais úmida do nosso planeta e que necessita de muito pouca água para crescer.
"Os estoques de bambu vêm da Colômbia e foram transportados de barco", sublinha o arquiteto, questionado sobre o impacto "pouco ecológico".
Para Sebastião Salgado, este pavilhão "leva a uma grande reflexão sobre a natureza" e "sobre as opções que escolhemos para a nossa sociedade".
"Estamos vivendo um momento difícil, a grande maioria da humanidade vive em cidades, nos afastamos muito do nosso planeta que usamos excessivamente".
"Estamos destruindo grande parte das florestas, uma quantidade muito grande de mananciais", lamenta.
A foto de uma onça bebendo na beira de um rio convive com a de uma baleia "símbolo da biodiversidade, em perigo de extinção", lamenta.
"Se olharmos para a história da humanidade, do homo sapiens, é uma história de destruição massiva da biodiversidade e da natureza desde que se organizou em comunidade", acrescenta.
"Reconstruir parte dessa biodiversidade destruída, restaurando ecologicamente as florestas com o plantio de espécies nativas de árvores, não monoculturas", para reparar "uma natureza que precisamos", é uma "necessidade", diz.
"No entanto, houve uma conscientização recente, talvez desde 20 ou 30 anos". A partir daí, é "mudar de rumo" e encontrar "equilíbrio".
PARIS