
Daniel e Geisy responderão por cárcere privado qualificado e estupro de vulnerável. Uma audiência de custódia na Justiça decidirá pela conversão ou não da prisão em flagrante em preventiva. "Daniel alegou desvio psicológico e que precisa de uma intervenção para frear esse ímpeto dele. Eles não têm antecedentes no DF. A gente não descarta a possibilidade de ser uma rede de pedofilia", afirma o delegado da 2ª Delegacia de Polícia do DF, João Guilherme Medeiros Carvalho.
Segundo o delegado, Daniel disse, em depoimento, que eles queriam sequestrar outra menina, mas não conseguiram chegar até ela. "Foi então que resolveram ir a uma escola, no Jardim Ingá, ficaram observando e, em dado momento, eles entraram numa rua, próxima à escola, onde ou a vítima. Lá, de forma violenta, jogaram a menor dentro do carro e, com uso de clorofórmio, a imobilizaram e a deixaram desacordada, sedada. Ele a raptou com uso de violência e Geisy, com ajuda de um lençol, ou o clorofórmio no rosto da vítima para que ela ficasse desacordada", detalha João Guilherme.
"Depois de ficar desacordada, tentaram colocar fita silver tape na boca da vítima, mas ela estava vomitando e não conseguiram. Então, a vítima foi colocada algemada pelos pés e pelas mãos dentro de uma mala de viagem e jogada no porta-malas do carro que eles estavam. Essa parte em que ela foi colocada no porta-malas aconteceu em um matagal nas redondezas da escola. Nesse matagal, eles também descartaram o celular da vítima, para que não houvesse o rastreamento", conta o delegado. Na sequência, Daniel deixou Geisy na residência dela, na Cidade Ocidental, e seguiu para a casa dele, na Asa Norte, onde praticou abusos sexuais contra a criança.
Ao Correio, o major Chiericato, da PMGO, que atuou nas diligências para a prisão do autor do crime, contou que a polícia tomou conhecimento do sequestro na tarde de quarta-feira. Pessoas informaram que um Ecosport de cor preta - veículo de propriedade de Daniel - foi visto na região. "Segundo as testemunhas, um casal desceu do carro, abordou a menina e a colocou dentro do veículo, tampando a boca da garota", destaca o militar. Com a placa do carro, os agentes identificaram Daniel e, com a ajuda da PMDF, foram em busca do autor do sequestro. O major da PMGO afirmou que o criminoso confessou o sequestro da menor.
Vídeo da câmera de segurança do prédio, onde o analista de TI Daniel Moraes Bittar mora, mostra o momento em que ele chega em casa na Asa Norte e retira uma mala do carro. Dentro da bagagem, está a menina de 12 anos, sequestrada por ele e por Geisy Souza no Jardim Ingá. Nas imagens, é possível ver Daniel retirando a mala do carro usado no sequestro. Coberta por um lençol branco, o pedófilo arrasta a mala em plena luz do dia com a menina dentro. Além da bagagem, ele também carrega uma sacola.
Segundo os policiais do Grupo Tático Operacional do 3º Batalhão (Asa Norte), a garota foi encontrada seminua na cama, com diversas escoriações pelo corpo e algemada pelos pés. A menina contou aos agentes que o homem usou uma faca para rendê-la e, em seguida, uma mulher colocou um pano (com clorofórmio para dopá-la) na cabeça dela. Após perder a consciência, a vítima foi colocada dentro de uma mala e transportada para a Asa Norte. Quando acordou, a garota já estava na casa do pedófilo.
Depois de ser resgatada pelos policiais, a menina foi atendida no Hospital Materno-Infantil de Brasília (Hmib), onde tomou coquetel contra HIV, fez exames de sangue e ou por um protocolo clínico para pessoas com infecções sexualmente transmissíveis (IST).
No apartamento, os militares encontraram máquinas de choque, clorofórmio, rolos de silver tape, correntes, cadeados, câmeras fotográficas, objetos sexuais e materiais pornográficos. A Polícia Militar suspeita que o homem tenha filmado o estupro da garota. Os equipamentos eletrônicos foram apreendidos e arão por uma perícia. Os agentes encontraram também uma estufa para produção de maconha. Imagens de uma câmera de segurança também registraram o veículo do criminoso, um Ecosport preto na região do sequestro.
Tio de consideração da vítima, que preferiu não se identificar, afirmou ao Correio que ajudou os PMs a encontrarem o criminoso. "Ele (Daniel) estava de cueca no momento da abordagem, no apartamento dele. Ele até perguntou o que a gente queria e pediu para nós (policiais) esperarmos para abrir a porta", relembra.
Entre cinco e sete minutos depois, os policiais tiveram que bater forte na porta para ele abrir. Em seguida, desceu com a equipe até o carro. Na conversa, ele mostrou onde estava a mochila preta e rosa da jovem e começou a relatar o sequestro e estupro. "Ele entregou toda a situação de que ela estava trancada no quarto, algemada, dopada e nua na parte de baixo. Foi um alívio quando ela me viu, ela disse: 'Tio, graças a Deus!'", conta. "É uma coisa de animal selvagem, que dá uma raiva enorme", desabafa.
O tio conta que ajudou policiais militares do Grupo Tático Operacional (Gtop) da Polícia Militar do DF desde o início do caso. Segundo ele, a menina sempre vai para a escola, com colegas, pelo mesmo caminho, mas uma delas pediu pra ir mais tarde e a adolescente pegou o caminho sozinha.
Alívio
A mãe da menina estuprada sente-se aliviada em ter a filha se recuperando em casa, no Jardim Ingá. "É um alívio grande a sensação de bem-estar que a gente está, porque o sufoco que amos foi muito angustiante de ver a sua filha estar em um lugar que você não sabe onde é, e não saber quem possa estar com ela", comenta ainda nervosa.
A mãe estava no trabalho quando foi informada pelo marido do sequestro da criança. Ela garante que a menina sempre ia acompanhada para a escola, localizada a 20 minutos de casa. "Agora, espero que a Justiça seja feita e que se cumpra o que é certo. Ela vai ficar em recuperação com a gente e ter acompanhamento com psicólogo, fornecido pelos colegas de trabalho do meu outro filho", informa.
e e amparo
O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, Adolescente e da Juventude, Charles Bicca ressalta que, pela legislação, o Estado tem que dar e e amparo médico e psicológico para a vítima. Segundo a cartilha da comissão, a violência sexual é qualquer conduta que possa constranger a criança e o adolescente a praticar ou presenciar qualquer ato sexual, inclusive a exposição do corpo em foto ou vídeo por meio eletrônico ou não.
O abuso sexual está entre as formas mais comuns de violência contra a criança ou adolescente. O presidente da comissão comenta que há uma incidência alta dos crimes sexuais dentro de casa e na internet. Na avaliação de Bicca, há uma falta de atenção e de cuidado com as crianças. "Os pais devem fazer com que essas crianças e adolescentes tenham confiança neles para que sejam as primeiras pessoas que eles vão contar caso algo aconteça. Uma relação próxima e de confiança com o filho é o básico e deve vir antes de qualquer coisa", comenta.
Bicca detalha que há vários canais de denúncias como o 190 da Polícia Militar e o 197 da Polícia Civil, além do número 125 que é a central dos conselhos tutelares no DF e o disque 100 dos Direitos Humanos. Pela internet, também há formas de denunciar, como pelo site do Safernet.