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Estado de Minas ELEIÇÕES 2022

Uma avenida chamada Brasil: o país que vai às urnas resumido em via de BH 2p5c5p

Via da capital pode ser vista como um retrato do país que escolhe seu presidente neste domingo (30). De lá, brasileiros falam de seus sonhos e preocupações


30/10/2022 04:00 - atualizado 24/02/2023 17:21


Neste domingo de eleição, em que os brasileiros definem a escolha do nome de quem deve governá-los pelos próximos quatro anos, o Estado de Minas percorre uma via de Belo Horizonte batizada com o nome do país e que pode ser vista, em certa medida, como um microcosmo de sua realidade.

Em pouco mais de dois quilômetros, unindo duas praças emblemáticas da Região Centro-Sul, a Avenida Brasil, traçada no mapa como uma linha reta e na paisagem da cidade como um corredor arborizado, mostra, a exemplo de quem lhe inspirou o nome, desde o lado nobre às feridas das misérias sociais, mais visíveis nas barracas da população em situação de rua.

E, mesmo com todo o sofrimento, chama a atenção perceber que alguns de seus moradores mais carentes até elegem esse pedacinho do Brasil como “o melhor da cidade para se viver”.

Elo entre as praças Floriano Peixoto e da Liberdade, cruzando a Região Hospitalar e os bairros Santa Efigênia e Funcionários, a Avenida Brasil abriga também um resumo de paixões políticas, opostas ou não, preocupações socioeconômicas e istrativas, além de um retrato de vários tempos e camadas de BH, que completará 125 anos em 12 de dezembro.

Na planta original da capital, feita pela Comissão Construtora no final do século 19, o corredor com o nome inspirado no país já estava projetado e batizado. “Houve, depois da inauguração da capital (1897), uma mudança para 'Avenida Floriano Peixoto', mas, em 1901, quando o nome Belo Horizonte foi oficializado, o mesmo ocorreu com a Avenida Brasil”, explica o historiador e pesquisador Yuri Mello Mesquita.

Se muitos prédios tombados ajudam a contar a trajetória da avenida, são os brasileiros que moram lá, além de comerciantes e iradores, que fazem a vida urbana ganhar forma, cor, identidade – assim como no país.
Ver galeria . 13 Fotos A Avenida Brasil, em Belo Horizonte, estava nos planos originais da nova capitalGladyston Rodrigues/EM/D.A Press
A Avenida Brasil, em Belo Horizonte, estava nos planos originais da nova capital (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )

Nascido na casa de número 57, logo no início deste Brasil, o aposentado Marcos Santos, de 81 anos, lembra a infância e o clima de interior, com as peladas na rua e jogos como o de finca.

No outro extremo, no Edifício Niemeyer, já na Praça da Liberdade, o Eduardo Rondas ressalta a comodidade de ir a pé para o trabalho, “logo ali”, na Savassi.

Entre essas duas pontas, em cada voz está a opinião sobre importantes questões do país e da cidade que está inserida nele: educação, saúde, habitação, segurança pública e economia, entre outros assuntos.

Vista da Avenida Brasil em BH
Localizada na região central de Belo Horizonte, a Avenida Brasil tem 2.094 metros de extensão e termina na Praça da Liberdade (foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)

Em tempos de preferências políticas tão polarizadas entre os brasileiros, a avenida guarda mais uma curiosidade que, ao mesmo tempo, a une e separa. Bem no seu começo está o Bar Brasil 41.

Pintado de vermelho, é lá que apoiadores do candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva costumam se reunir. Já no fim da via fica a Praça da Liberdade, escolhida pelos eleitores de Jair Bolsonaro (PL) – e pelo próprio presidente, em atos de campanha – para manifestações.

Independentemente do resultado da eleição de hoje, a esperança é que a avenida, honrando seu nome, se torne um exemplo permanente de união – mas essa é outra história, que somente o futuro poderá contar.

Sílvio Lisboa de Oliveira, médico, que teve consultório durante 30 na Avenida Brasil
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

"Todos os governantes se preocupam com outros setores, menos com a saúde. Obviamente, se não é prioridade, assim como ocorre com educação, não funciona" 4e1262

Sílvio Lisboa de Oliveira, médico, que teve consultório durante 30 na Avenida Brasil 451x33



Território de anseios, belezas e apreensões 7nk

São 9h de uma segunda-feira ensolarada, e o médico Sílvio Lisboa de Oliveira, de 81 anos, está firme na sua caminhada, que tem sempre a Avenida Brasil como parte do roteiro.

Durante 30 anos, o cardiologista teve consultório no corredor, que considera um retrato da Região Centro-Sul da sua cidade natal, e a qual conhece bem: “Muitos bairros de Belo Horizonte receberam o nome dos templos religiosos católicos já existentes no local, como acontece aqui, com a Igreja Santa Efigênia dos Militares”, informa.

No ano que vem, a paróquia, que fica nas proximidades do 1º Batalhão da Polícia Militar (1º BPM), antigo Quartel da Brigada Policial de Minas Gerais, na Praça Floriano Peixoto, vai completar 100 anos.
Ver galeria . 9 Fotos Encontro das avenidas Afonso Pena com Brasil, 1902Arquivo EM/Reprodução
Encontro das avenidas Afonso Pena com Brasil, 1902 (foto: Arquivo EM/Reprodução )

Na sua caminhada diária, Sílvio quase sempre se encontra com o amigo Marcos Santos, também de 81, nascido numa casa no início da avenida. E vai logo dizendo, com um sorriso que traz o sabor de histórias, a força do tempo e o valor da boa memória: “Nascemos no mesmo ano”, conta, em um sinal de “estamos em casa”.

Um segundo depois, Sílvio diz que a área teve muitos militares residentes, e, ao mesmo tempo, ressalta que o carnaval ganhou espaço por lá, e veio para ficar.

Da porta da casa onde Marcos vive com a família, é possível ver vários ícones do bairro: o prédio do 1º BPM, a praça, as ruas Domingos Vieira e Manaus, o monumento “Liberdade e Resistência”, de Jorge dos Anjos, em homenagem a Zumbi dos Palmares, e muitas árvores.

“Na minha infância, este pedaço da avenida era de terra, a gente jogava pelada, finca... Você sabe o que é finca">

"Neste local onde moro é tranquilo, mas não tenho coragem de sair à noite. A violência tomou conta do mundo, e temo pelos meus cinco netos, com idades de 12 a 22 anos. Os valores mudaram muito" 6n4u2e

Marcos Santos, de 81, nascido e residente em uma casa no início da Avenida Brasil, no Bairro Santa Efigênia 6yx4l



Protegida do sol, à sombra e com chapeuzinho charmoso, Silma Vieira, viúva, de 73 anos, explica o motivo de estar ali, em plena manhã. “Vai a uma consulta médica">

"ou a pandemia, e agora a economia está melhorando bem. O Brasil precisa de mais investimentos, para gerar empregos, e de redução de impostos. Estou confiante" 124f6q

Paulo Roberto de Paiva Moraes, chaveiro, pai de cinco meninas 3b5z1a

PONTOS-CHAVE 1p2m2g

Mais adiante, do mesmo lado da avenida, está o chaveiro Paulo Roberto de Paiva Moraes, de 53, carioca residente há 35 em BH, muitos deles no célebre Edifício Maletta, na Avenida Augusto de Lima com Rua da Bahia, no Centro. Vestido com a camisa amarela da Seleção Brasileira, Paulo Roberto declara seu voto em Jair Bolsonaro e diz estar confiante na força do comércio para vencer as crises. “ou a pandemia, agora a economia está melhorando bem. O Brasil precisa de mais investimentos, e de redução de impostos.”

Entre uma chave e outra, o carioca Paulo Roberto, pai de cinco meninas e com seis netos, olha para a avenida e diz do que mais gosta neste pedaço do Brasil: “O movimento é a melhor coisa daqui. Tem sempre um serviço”.

De frente para o Colégio Arnaldo, na confluência das avenidas Brasil, Carandaí e Pasteur, Reginaldo dos Santos Amorim, de 45, diz que está vivendo no gramado de um dos canteiros há sete meses. “Estou há um ano na rua, e acho este o melhor lugar para viver”, afirma o desempregado, que vive de recolher materiais recicláveis, diante da sua barraca de plástico, que tem como “chave da porta” duas pedras que impedem o plástico preto de voar.

Reginaldo dos Santos Amorim, de 45, morador em situação de rua, que acha a confluência das avenidas Brasil, Pasteur e Carandaí o melhor lugar de BH para viver
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

"Falta vergonha aos governantes para resolver a situação de moradia no país. Sou pedreiro, e, se tivesse condição de trabalho, não estaria aqui. As pessoas precisam de uma casa" 5x5t13

Reginaldo dos Santos Amorim, de 45, morador em situação de rua, que acha a confluência das avenidas Brasil, Pasteur e Carandaí o melhor lugar de BH para viver 2v711p




Ao lado do cachorrinho Basé, Reginaldo conta que tem 10 filhos e nove netos. Devido aos caminhos tortos e “paradas erradas”, está hoje sem teto, mas se sente acolhido. “O lugar é a gente quem faz. Sou muito respeitado, as pessoas me acolheram, sempre recebo doação.”

Sobre a situação de moradia no país, ele acredita ter a explicação: “Falta vergonha aos governantes. Sou pedreiro, e, se tivesse condição de trabalho, não estaria aqui. As pessoas precisam de uma casa”, diz Reginaldo, detalhando a dificuldade de morar na rua. “Dormir, à noite, é quase impossível, fico sempre com medo. De dia, mal dá para cochilar.” Sobre as eleições, Reginaldo decidiu que vai votar em Lula.

DOIS LADOS c1n6f

Um dos trechos mais bonitos da avenida começa na esquina da Rua Pernambuco e prossegue no cruzamento com a Gonçalves Dias, Alagoas, Cláudio Manoel e Sergipe, até chegar à Praça da Liberdade, tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). Nesse pedaço do Brasil, como em muitos outros, cores dão o tom da preferência política de eleitores.

Nas janelas de apartamentos, tremulam tanto bandeiras vermelhas quanto verde-amarelas.
A beleza na pista elevada em direção ao Palácio da Liberdade, ex-sede do governo de Minas e atual equipamento cultural vinculado à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, se dá, especialmente, pelas palmeiras-imperiais plantadas no início do século ado.

No Circuito Cultural, com prédios da época da construção de BH, museus, construções em estilos moderno e pós-moderno, como o Rainha da Sucata, a Avenida Brasil termina em grande estilo, bem ao lado do Edifício Niemeyer, com suas curvas sinuosas. Projetado em 1954 pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) e concluído em 1960, uma herança do gênio que deixaria sua marca inconfundível em muitos outros locais de BH e também na história do Brasil, com os traços que deram origem à capital da República, Brasília.

Célia da Costa, psicóloga, no terraço do Edifício Niemeyer, ícone da Praça da Liberdade, no fim da Avenida Brasil, tombado pelo Iepha
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

"Aqui do alto, temos a vista maravilhosa e a diversidade de construções na Avenida Brasil. Há prédios antigos e modernos, como o Edifício Niemeyer. Além disso, estamos de frente para a Praça da Liberdade" 1f6z1p

Célia da Costa, psicóloga, no terraço do Edifício Niemeyer, ícone da Praça da Liberdade, no fim da Avenida Brasil, tombado pelo Iepha 3a46u



No endereço icônico, a tarde chega. Moradora do edifício, Célia da Costa, psicóloga, conduz a equipe do EM ao terraço para oferecer uma visão privilegiada deste Brasil. Do alto, numa vista de 360 graus, vê-se a avenida “quase” em direção ao infinito, pois, ao longe, no fim do quadro, está a Serra da Piedade – com a luz solar, distingue-se a silhueta da ermida do século 18.

Casada, com dois filhos e natural de São Bernardo do Campo (SP), Célia elogia a paisagem “maravilhosa” e destaca a diversidade do patrimônio, com as edificações antigas e modernas, muitas delas tombadas pelo Iepha ou pelo município.

“O bom de morar aqui é poder fazer tudo a pé. A Avenida Brasil se encontra com várias ruas e avenidas, está bem localizada; você chega ao Centro da cidade com rapidez. Além disso, temos a Praça da Liberdade, que é bonita de se irar, ainda mais aqui do alto, e é ótima para caminhadas”, avalia a psicóloga, no alto do prédio. Neste domingo, ela diz que votará em Lula. E diz não conceber a ideia de que um dos lados da disputa se aproprie da Bandeira Nacional, “que é dos brasileiros”.

Também morador do Niemeyer, o Eduardo Rondas se mudou com a esposa e a filha para um apartamento no edifício há três anos, e revela que, desde adolescente, quando namorava nos bancos da Praça da Liberdade, gostava de ficar olhando para o prédio. “É um patrimônio importante”, ressalta.

O tempo ou, a oportunidade chegou e o serviço ficou completo: “O melhor é poder ir trabalhar a pé, sem precisar pegar carro. A localização é excelente”. Como se trata de um imóvel tombado pelo município, acrescenta Eduardo, o proprietário está isento do IPTU, o que une, assim, o útil ao agradável. Já na hora de votar, Eduardo vai de Bolsonaro.

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