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Anna Marina
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ANNA MARINA

Santa semana da família

Esse período traz lembranças da alegria da chegada dos parentes, que se reuniam em torno de mesas fartas de delícias em Santa Luzia

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Não sei como é que os relacionamentos nos dias atuais andam, mas, no meu tempo, a Semana Santa era época de muitas alegrias. Tudo por causa da parentada que vinha de Belo Horizonte e outras cidades para ar a semana em Santa Luzia.

 


As casas ficavam repletas, com gente que vinha de todas as cidades e ninguém se importava com a acomodação. Quando a casa de minha avó e a outra, conhecida como Solar Teixeira da Costa, ficavam com todos os quartos e camas ocupados, colocar um colchão no chão para ar a noite não era desfeita para ninguém.

 


O tempo era curto para tanta conversa, mas o adro da igreja matriz era um bom local para as rodas de papo – e de bebida. Isso porque, nas casas mais tradicionais, nos dias religiosos a bebida era evitada, só voltava a aparecer no Sábado da Aleluia.

 


Só que, no adro, as rodas mandavam ver na cerveja, que vinha do bar em frente, Chico de Davina, que era casado com uma das minhas primas, cuja mãe já havia falecido. Ele levava garrafas e mais garrafas para os primos que se acomodavam no adro, e era só subir e descer as escadarias da igreja para renovar o estoque, que acabava em pouco tempo.

 


Outro lance mais importante era o das refeições. Primos que chegavam de fora corriam as mesas de casa em casa, porque a comida era servida em horários variados e dava tempo de correr todas elas, aproveitando o cardápio de cada uma.

 


No geral, o prato mais comum era o bacalhau, que chegava à cidade em caixas de madeira. O almoço na casa de minha avó era o melhor e o mais farto de todos. Meu avô, que já havia ado por um infarto, ficava no quarto ao lado da sala de refeições.

 


Mas como estava de regime, pagava a nós, netos, o que conseguíamos desviar, escondido, da mesa do almoço para ele. Conservava junto da cama um tanto de moedas, com contorno liso ou com rachaduras. As primeiras valiam menos e, quando a comida agradava, o neto servidor ganhava a moeda de entorno rachado.

 


Mas as comilanças duravam o dia inteiro, depois do almoço chegavam as cestas de biscoitos, broas e pães que minha avó fazia durante a semana e guardava em armário fechado para os netos não comerem tudo. Além dos sequilhos, bolos e roscas, havia também os doces – o de leite, cozinhado durante um dia inteiro, numa a de cobre, colocada sobre a prensa do fogão de lenha, que funcionava o dia inteiro.

 


Havia também os doces de frutas, como o da laranja, que era preparado com toda a polpa, que levava dias para ficar no ponto, que eu aprendi a fazer e fazia nas épocas em que ainda tinha tempo. Quem adorava era Fredy Chateaubriand, que avaliava que era melhor do que qualquer coisa feita na Europa.

 


Depois das procissões, chegava a hora da ceia, que repetia o cardápio do jantar, com algumas delícias a mais. Como o leitão, assado no forno de brasa, que chegava à mesa inteiro, recheado com farofa e que quebrava o jejum de carne da Sexta-feira da Paixão. Bons tempos aqueles, que não voltam mais. Mas que deixaram saudades nos que participavam das reuniões da família, que hoje também não existem mais.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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