
Djonga leva Arena Hall ao delírio na estreia da turnê "Inocente 'demotape"
Rapper empolgou o público na madrugada deste sábado (20/1), com casa lotada, cenografia caprichada, balé, crianças no palco e reza da vovó
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Siga no“Abram alas pro rei/ Ô/ Abram alas pro rei/ Ô/ Me considero assim, pois só ando entre reis e rainhas”. Os versos de “Hat-trick”, sucesso do álbum “Ladrão” (2019), dão bem a ideia da abertura do show de Djonga, na sexta-feira (19/1). Empolgadas, quase 5 mil pessoas presentes no Arena Hall, na Savassi, sentiram o chão tremer.
Uma hora antes, o espaço começou a lotar, com abertura do portão às 21h e show à meia-noite, marcando a estreia da turnê nacional do disco “Inocente ‘demotape”, lançado em outubro de 2023.
Com ingressos a R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), esgotados esta semana – “preço popular”, como o artista fez questão de ressaltar –, Djonga, de 29 anos, mostrou ali por que é um dos artistas mais brilhantes do rap nacional. E da música brasileira.
O “menino do São Lucas”, cria do Aglomerado da Serra, subiu ao palco 15 minutos atrasado. Com as cortinas tampando o palco, a multidão não poderia imaginar o que a aguardava: balé completo e cenografia caprichada, algo muito diferente das turnês anteriores do rapper.
A primeira canção da noite foi “5 da manhã”, faixa de abertura de “Inocente ‘demotape”. Ali, já dava para sentir o clima. Em cima da cama, no centro do palco, Djonga deu início ao show com uma canção romântica.
Logo, os artistas de sua lista expressiva de convidados aram a acompanhá-lo. Lisboa, cantor d'AQuadrilha, produtora de Djonga, emprestou sua voz ao maior sucesso do novo álbum até agora: “Da lua”, parceria com Veigh.
Companheiro desde sempre de Djonga, Coyote Beatz emprestou seu talento ao show, embora, desta vez, não tenha assinado os beats do novo disco do amigo.
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Rap pagodeiro
Para surpresa geral, a versão pagodeira de "da lua" canção soou bem aos ouvidos da multidão, que cantou ainda mais alto em resposta. Na sequência, mais artistas apadrinhados por Djonga subiram ao palco.
DougNow e Zulu, jovens promessas da produtora A Quadrilha, o acompanharam em “Coração gelado”, parceria com Tz da Coronel. O público viu surgirem no cenário o sorvete derretido – presente na capa do disco, inspirada no álbum “Perfect angel”, de Minnie Riperton – e o coração de gelo.
Laura Sette e Iza Sabino, que abriram a noite no Arena Hall acompanhadas de DJ Kingdom, voltaram, agora no cenário que remetia a uma praça. Cantaram “Fumaça” com Djonga.
Em “Camarote”, uma dezena de amigos subiu ao palco para comemorar o sucesso do rapper, como diz a letra. Jorge, de 6 anos, primogênito de Djonga, entrou na garupa de uma moto. Cantou e pulou ao lado do pai e dos “tios”.
Com a presença do herdeiro, Djonga voltou ao ado e cantou “O menino que queria ser Deus”, faixa de seu álbum homônimo de 2018, responsável por colocá-lo no mapa dos artistas mais relevantes do país.
Vieram, então, os hits, o que agitou ainda mais o mar de gente que se preparava para o “bate cabeça” tradicional dos shows de Djonga. Cantou “Junho de 94” e se mostrou romântico em “Penumbra”, com participação especial de Sarah Guedes.
Seguiram-se “Leal”, maior sucesso de “Ladrão” (álbum de 2019), e “Solto”, com participação da dupla Hot e Oreia. Nova surpresa: esta dupla havia se separado em 2021, mas ressurgiu agora.
Leia também: Djonga fala de sua carreira em entrevista exclusiva ao Estado de Minas
Sidoka, Hot e Oreia (juntos!)
“Geminiano” veio com solo de guitarra. Ele também lembrou os discos “Histórias da minha área” (álbum de 2020), com “Hoje não”, e “Heresia” (de 2017), com “Santa ceia”. Outra surpresa aguardava os fãs de rap: a dupla mineira Hot e Oreia, que se desfez em 2021, se apresentou com Djonga em "Solto".
“Conversa com uma menina branca”, letra forte sobre o racismo, chegou sob luzes que se alternavam de azul para vermelho, como nas viaturas de polícia.
Sidoka entrou no palco emocionado, abraçando Djonga. “Muito barulho para o cara que ajudou a realizar meu sonho”, disse o astro mineiro do trap.
O "coração gelado" da canção foi parar no palco de Djonga
Djonga mostrou que não domina apenas o rap. Cantou funk com MC Saci. Emendou com trechos de sua autoria no medley “Poesia acústica”.
Depois, fez com que o Arena Hall se emocionasse com “Procuro alguém”, faixa em homenagem ao nascimento da caçula Iolanda, de 4 anos. Usando camiseta maior do que ela, a garotinha curtiu o espaço do palco, correu atrás do pai e gritou para a plateia: “Eu amo vocês”.
Na arquibancada, o universitário Rafael Souza, de 24 anos, se emocionou com a cena. Natural de Arujá, em São Paulo, ele nunca havia visto Djonga de perto. “Depois que me mudei para BH, infelizmente não tive condições financeiras de ir aos festivais com o Djonga. 'Ladrão' (disco) foi o meu melhor amigo em um momento muito difícil da minha vida. Tive a oportunidade de vir de última hora e não consigo descrever a emoção de estar aqui, em um show só dele”, contou.
“Vocês são foda!”
Emocionado, o rapper agradeceu à plateia. Afirmou que a nova turnê é um projeto pessoal construído com o apoio dos fãs. “Vocês são foda! Fizemos o show do nosso próprio bolso para vocês. Nenhuma marca quis fechar com nós, agora tá mais caro também, o preço aumentou”, avisou.
E cantou seu rap icônico, “Olho de tigre”. Desceu para a pista e se juntou aos fãs no grito de guerra do refrão: “Fogo nos racistas”.
Djonga terminou a noite ao lado de outro grande do rap nacional, o carioca BK, que veio a Belo Horizonte prestigiar o amigo. Em coro, os dois gritaram: “O mundo é nosso”.
Tudo ali foi pura emoção. Bailarinos dançaram, luzes piscaram e as crianças corriam pelo palco. Quando elas saíram, Djonga voltou com “Bença”, homenagem à avó, dona Maria Eni, de 87 anos. Depois de 130 minutos de apresentação, o “neto coruja” fechou a noite com a oração da matriarca.
Ouviu-se, então, a voz de dona Maria: “Que são todos filhos de Jesus, gemendo e chorando tem uma cruz. Que é o Pai, é o Filho e o Espírito Santo. Que Deus dê saúde a Gustavo pra poder continuar nesse lindo serviço maravilhoso que tá prestando pra todos nós. Em nome de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Que Deus ilumine o caminho de todos”.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria