Oscar 2025: Veja como estão as apostas em vitória de "Ainda estou aqui"
Parte da imprensa americana prevê as estatuetas para Fernanda Torres e Melhor Filme Internacional. Longa de Walter Salles concorre também a Melhor Filme
Jornalista com 25 anos de experiência em cobertura cultural. No Estado de Minas, repórter de Cultura. Graduada em Jornalismo pela Puc-Minas e pós-graduada em Produção e Projetos Culturais pelo IEC-Puc Minas.
Segunda brasileira a concorrer na categoria, Fernanda Torres pode se tornar a primeira artista do país a vencer o Oscar de Melhor Atriz. Fernanda Montenegro disputou em 1999 crédito: Alile Onawale/Divulgação
Não é exagero dizer que haverá duas cerimônias do Oscarneste domingo (2/3). A primeira, já tradicional, com piadas, alguns discursos interessantes, outros não tanto, e muitas lágrimas. A segunda vai acontecer a milhares de quilômetros do Dolby Theatre, o palco da festa em Los Angeles. Nesta, só três momentos, nas três horas e meia que dura a premiação, terão relevância: no Brasil, só importam as categorias em que “Ainda estou aqui” concorre.
O anúncio de Melhor Filme Internacional deve ocorrer na primeira metade da cerimônia, já que nos últimos anos a categoria foi a nona das 23 que integram a premiação. Já a de Melhor Atriz, em que Fernanda Torres concorre, e de Melhor Filme serão no início da madrugada de segunda (3/3), já que costumam ser as duas últimas.
Pela primeira vez em quase 100 anos da premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, o Brasil tem chances reais de levar o Oscar.
Ainda que Fernanda Torres tenha se tornado a “garota nacional” para a ruidosa comunidade das redes sociais, impactado audiências internacionais com sua Eunice Paiva e encantado a imprensa especializada nos Estados Unidos, a probabilidade maior é de que o prêmio fique com a categoria de Melhor Filme Internacional (a de Melhor Filme não é cogitada).
Ontem, três réplicas da cobiçada estatueta dourada podiam ser vistas em frente ao Dolby Theatre, em Los Angeles, onde será realizada a cerimônia do Oscar neste domingo (2/3) Angela Weiss/AFP
Parte da imprensa americana aposta que o troféu de Filme Internacional virá para o Brasil: “Variety”, “The Hollywood Reporter” e “The New York Times” cravaram. Já o “Deadline” continua apostando em “Emilia Pérez”, que venceu o European Film Awards, Bafta, Critics Choice e Globo de Ouro. O “Los Angeles Times” vai na mesma toada: “É provável que os eleitores que lhe deram 13 indicações não o abandonem”.
Apoio
Já nas previsões para Melhor Atriz, o maior apoio que a candidatura de Fernanda Torres recebeu veio do The New York Times: “Vale a pena ser a última concorrente a que as pessoas assistem, e ela está recebendo muitos votos de membros da Academia que estão apenas agora se atualizando com seu filme”.
A “Variety”, que previu corretamente que a brasileira levaria o Globo de Ouro, aposta no Oscar para Demi Moore (“A substância”). Mesma opinião tem o “Deadline”, “Los Angeles Times” e “ The Hollywood Reporter”. A segunda opção seria Mikey Madison (“Anora”).
Contra Fernanda pesa o fato de que, além do Globo de Ouro, cujo grupo de votantes é formado por correspondentes internacionais, ela não foi indicada a nenhum outro dos prêmios vistos como termômetros para o Oscar: Bafta, Critics Choice, Screen Actors. Este último, em especial, é o mais importante, pois parte de seu corpo votante (atores e atrizes) é membro da Academia.
Na corrida pelo Oscar, "Ainda estou aqui" concorre nas categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, para Fernanda Torres Sony Pictures/divulgação
A americana Mikey Madison é a mais jovem concorrente ao Oscar de Melhor Atriz. Aos 25 anos, protagoniza o filme 'Anora', de Sean S. Baker. Madison interpreta a prostituta de luxo que impulsivamente decide se casar com um jovem oligarca russo, mas a família dele decide anular a união dos dois. O longa disputa seis Oscars.
Universal Pictures/divulgação
A veterana Demi Moore concorre ao Oscar de Melhor Atriz por sua atuação no filme 'A substância', sobre estrela descartada de programa de TV que recorre a perigosa droga experimental para se manter jovem. Mubi/divulgação
A espanhola Karla Sofía Gascón, de 52 anos, é a primeira artista trans indicada a Melhor Atriz no Oscar. Concorre pela interpretação de Emilia Pérez no longa homônimo de Jacques Audiard. O filme é indicado em 13 categorias. Gascón faz o papel de um chefão de cartel que a pela transição de gênero.
Paris Filmes/divulgação
A britânica Cynthia Erivo, de 38 anos, já foi indicada ao Oscar de Melhor atriz em 2019 por 'Harriet'. Este ano, ela concorre por 'Wicked', do diretor Jon M. Chu. Faz o papel de Elphaba, jovem de pele verde com poderes fantásticos, incompreendida e tachada de Bruxa Má do Oeste. É a única atriz negra indicada ao Oscar 2025. 'Wicked' disputa 10 estatuetas.
Universal Pictures/divulgação
Atualmente, a Academia conta com cerca de 10,9 mil membros. Desses, 9,9 mil estiveram aptos a votar nesta edição. Entre os acadêmicos, 35% são mulheres e 20% pertencem a comunidades étnicas e raciais sub-representadas (negros, asiáticos, latinos, indígenas).
Esta mudança foi gradual e ocorreu a fórceps. Em 2012, o “Los Angeles Times” revelou que a Academia, então com 5,7 mil membros, era 94% branca e 77% masculina. Entre 2015 e 2016, na esteira da campanha #OscarSoWhite (criada diante da ausência de intérpretes negros, asiáticos ou latinos nas categorias de atuação), a instituição finalmente se mexeu. Anunciou uma reformulação entre seus membros, aumentando o número de mulheres e de minorias.
Convites
Ano após ano novos profissionais da indústria, muitos deles brasileiros, foram convidados a integrar a instituição. Rodrigo Santoro e Kleber Mendonça Filho em 2017; Carlinhos Brown, Alice Braga, Vânia Catani e Maria Augusta Ramos em 2018; Laís Bodanzky, Lucy e Luiz Carlos Barreto em 2019 são alguns exemplos.
Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 1999, é membro vitalício. Walter Salles, Fernando Meirelles, Wagner Moura, Selton Mello também são votantes. Mas o número de brasileiros não chega a uma centena.
Todos os membros votam, on-line, em todas as categorias. Eles são incentivados a assistir a todos os filmes no páreo, com sessões especiais nos cinemas durante a temporada de premiações ou em casa, por meio de um portal de exibição especial.
Produção franco-brasileira, 'Ainda estou aqui', dirigido por Walter Salles e candidato ao Oscar de Melhor Filme Internacional, é protagonizado por Selton Mello e Fernanda Torres Sony Pictures/divulgação
O sombrio dinamarquês 'A garota da agulha' aborda dilemas morais em torno da compra e venda de bebês na Copenhague pós-Primeira Guerra. Candidato ao Oscar de Melhor Filme Internacional, é dirigido por Magnus von Horn e protagonizado por Victoria Carmen Sonne. Na trama, costureira pobre encontra parceira para comandar agência de adoção clandestina.
Lukasz Bak/divulgação
'A semente do fruto sagrado', de Mohammad Rasoulof, é um longa iraniano, mas representa a Alemanha no Oscar de Melhor Filme Internacional. Isso porque o Irã perseguiu Rasoulof enquanto rodava o longa. Indicado a uma estatueta em 2025. Na trama, juiz luta contra a paranoia numa Teerã em ebulição política depois da morte de uma jovem.
Run Way Pictures/divulgação
Produção sa e mexicana, 'Emilia Pérez' é dirigido por Jacques Audiard. Com Karla Sofía Gascón, Zoe Saldana e Selena Gomez. Indicado a 13 Oscars em 2025, inclusive de Melhor Filme Internacional. Chefão de cartel decide se aposentar e desaparecer do radar das autoridades, com ajuda de advogada, para realizar o desejo de assumir sua verdadeira identidade trans como Emilia Pérez.
Pathé/divulgação
Desenho animado da Letônia, 'Flow' acompanha gato que teve o lar destruído por enchente e ou a viver em um barco com outros animais. Dirigido por Gints Zilbalodis, concorre ao Oscar de Melhor Filme Internacional e de Melhor Animação.
Dream Well Studio/divulgação
A pergunta que não tem resposta é: quantas destas 9,9 mil pessoas assistiram aos filmes? Por isto a importância de uma campanha promocional como a que Fernanda Torres e Walter Salles conduziram nos últimos meses. Porque, no fim das contas, o Oscar não é somente sobre cinema.
Notório pessimista, Salles chegará à noite de hoje “com o coração aberto”, segundo afirmou na última sexta, em Los Angeles. Sobre o Oscar, ele disse: “Se vier, veio. Se não vier, a viagem foi linda, muito bonita, dessas que a gente não esquecerá nunca”.
'Ainda estou aqui' (Brasil e França) é dirigido por Walter Salles. Com Fernanda Torres (foto), Selton Mello e Fernanda Montenegro. Indicado a três Oscars em 2025: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz. Nos anos 1970, auge da ditadura militar, o ex-deputado Rubens Paiva é levado por agentes do Exército, no Rio, e desaparece. Sua mulher, a dona de casa Eunice, luta por décadas para descobrir a verdade sobre o marido, que fora torturado e morto nas dependências do I Exército. Mãe de cinco filhos, ela se reinventa, torna-se advogada e, já madura, tem Alzheimer.
Sony Pictures/divulgação
'Anora' (EUA) é dirigido por Sean Baker. Com Mikey Madison (foto, centro), Yuriy Borisov e Karren Karagulian. Indicado a seis Oscars em 2025, inclusive de Melhor Filme. Jovem profissional do sexo, Anora trabalha em Nova York. Ela se casa com o filho de um oligarca russo, mas os pais dele desaprovam o relacionamento e viajam aos EUA para cancelar o casamento. Universal Pictures/reprodução
'A substância' (EUA, França, Reino Unido e Irlanda do Norte) é dirigido por Coralie Fargeat. Com Demi Moore (foto), Margaret Qualley e Dennis Quaid. Indicado a cinco Oscars, inclusive de Melhor Filme. Considerada velha, atriz famosa é demitida de programa de TV. Deprimida, submete-se a tratamento que lhe promete a versão mais jovem de si mesma, por meio de droga clandestina de replicação celular. Nesse processo, a ex-estrela vive momentos de terror.
Mubi/divulgação
'Conclave' (EUA e Reino Unido) é dirigido por Edward Berger. Com Ralph Fiennes (foto), Stanley Tucci, Isabella Rossellini e John Lithgow. Indicado a oito Oscars em 2025, inclusive de Melhor Filme. Com a morte do papa, o cardeal Lawrence questiona a própria fé, enquanto conduz a escolha do novo pontífice, enfrentando intrigas, guerra política de líderes católicos, corrupção e os bastidores profanos do Vaticano.
Diamond Films/divulgação
'Duna: Parte 2' (EUA e Canadá) é dirigido por Denis Villeneuve. Com Timothée Chalamet e Zendaya (foto), Rebecca Ferguson, Florence Pugh e Javier Bardem. Indicado a cinco Oscars em 2025, inclusive de Melhor Filme. Na era pós-web, seres humanos avançam pelo universo e clãs dividem o poder no império intergaláctico. O jovem Paul Atreides planeja se vingar dos conspiradores que destruíram sua família.
Nico Tavernise/divulgação
'Emilia Pérez' (França e México) é dirigido por Jacques Audiard. Com Karla Sofía Gascón (foto), Zoe Saldana e Selena Gomez. Falado em espanhol, foi indicado ao maior número de Oscars (13) em 2025, inclusive de Melhor Filme. Advogada recebe convite de um chefe de cartel para ajudá-lo a se aposentar, sumir do radar das autoridades e de seu mundo. O que ele deseja, na realidade, é assumir sua verdadeira identidade trans, como Emilia Pérez.
Pathé/divulgação
'Nickel Boys' (EUA) é dirigido por RaMell Ross. Com Ethan Herisse e Brandon Wilson (foto), Hamish Linklater e Aunjanue Ellis-Taylor. Indicado a dois Oscars em 2025, inclusive de Melhor Filme. Nos anos 1960, Elwood e Turner, adolescentes afro-americanos, são enviados a um violento reformatório juvenil na Flórida, no ápice da implementação das leis segregacionistas nos EUA, onde enfrentam a face mais cruel do racismo.
Orion Pictures/divulgação
'O brutalista' (EUA, Reino Unido e Hungria) é dirigido por Brady Corbet. Com Adrien Brody (foto), Felicity Jones e Guy Pearce. Indicado a 10 Oscars em 2025, inclusive de Melhor Filme. Arquiteto húngaro e a mulher migram para os EUA em 1947, deixando para trás a Europa castigada pela guerra. Na América, ele recebe a proposta de um magnata para criar projeto grandioso que impactará os EUA. Por vários anos, enfrenta revezes e decepções.
Universal Pictures/divulgação
'Um completo desconhecido' (EUA) é dirigido por James Mangold. Com Timothée Chalamet (foto), Edward Norton e Elle Fanning. Indicado a oito Oscars em 2025, inclusive de Melhor Filme. Em 1961, Robert Allen Zimmerman, de 19 anos, chega a Nova York, vindo de Minnesota, com planos de se dedicar à música folk. Algum tempo depois, lança o álbum "The Freewheelin" (1963) e participa do Newport Fok Festival (1965). Adota o nome artístico de Bob Dylan e revoluciona a música dos EUA.
Searchlight Pictures/divulgação
'Wicked' (EUA) é dirigido por Jon M. Chu. Com Ariana Grande e Cynthia Erivo (foto), Jeff Goldblum e Michelle Yeoh. Indicado a 10 Oscars em 2025, inclusive de Melhor Filme. Moça incompreendida, vítima de preconceito por causa da cor de sua pele, torna-se a Bruxa Má do Oeste. Na universidade, ela fica amiga da Bruxa Boa do Sul, loira seduzida pelo desejo de popularidade e poder. Porém, esta amizade enfrenta desafios diante dos valores que cada uma delas cultiva.
Universal Pictures/divulgação