Brasil tem sentimentos contraditórios em relação ao resultado do Oscar 2025
Políticos celebraram vitória do Brasil em Filme Internacional, mas grande parte dos internautas se decepcionou com resultado do Oscar de Melhor Atriz
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Siga noO resultado da 97ª edição do Oscar, realizada na noite do último domingo (2/3), causou reações controversas no Brasil. Indicado a três categorias (Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz), "Ainda estou aqui", de Walter Salles, teve ampla torcida dos brasileiros, que, em pleno domingo de carnaval, deram um tempo na folia para acompanhar a premiação.
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O longa de Salles conseguiu feito histórico ao vencer a categoria de Melhor Filme Internacional. Em quase 100 anos de premiação, o país nunca havia levado uma estatueta pra casa. No entanto, a derrota de Fernanda Torres para a atriz Mikey Madison, protagonista de "Anora" – o maior premiado da noite, inclusive com o Oscar de Melhor Filme –, foi um banho de água fria.
Nas redes sociais, as reações foram diversas: do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) celebrando a conquista a internautas acusando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood de roubo. Houve até ameaça de agressão a Madison, caso ela venha ao Brasil. Fernanda Montenegro celebrou o sucesso do filme e da filha, Fernanda Torres.
No perfil oficial do X, antigo Twitter, Lula escreveu: "Hoje é dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia. Eu e Janja estamos muito felizes assistindo tudo ao vivo".
"O Oscar de melhor filme internacional para 'Ainda estou aqui' é o reconhecimento do trabalho de Walter Salles e toda equipe, de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, Selton Mello, do Marcelo Rubens Paiva e família e todos os envolvidos nessa extraordinária obra que mostrou ao Brasil e ao mundo a importância da luta contra o autoritarismo", concluiu o presidente.
Hoje é o dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia. Eu e Janja estamos muito felizes assistindo tudo ao vivo.
— Lula (@LulaOficial) March 3, 2025
O Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui é o… pic.twitter.com/Boi8KQzwxJ
Em resposta à mensagem enviada pelo ator Lázaro Ramos, um dos apresentadores da transmissão da cerimônia pelo streaming Max, Fernanda Montenegro enviou áudio compartilhado por ele nas redes sociais.
“É um trabalho extraordinário que ela está trazendo para esse prêmio. Acho que ela foi lá só pegá-lo, porque ganhar, já ganhou. Mas tem que ir lá pegá-lo, entendeu? Não tem saída”, disse Fernanda. “É impressionante o momento em que um filme atravessa a Linha do Equador.”
A visão retratada pelo longa conseguiu chegar até “as ruas”, afirmou a atriz, ressaltando a importância dos atores na divulgação das expressões artísticas.
Bumbo para salvar o Brasil
“Isso é a nossa arte, Lázaro! É a nossa vocação. Somos atores, somos instrumentos de uma realização artística", afirmou Fernanda Montenegro, de 95 anos, quase todos eles dedicados ao ofício. "Na nossa condição social carente, sempre batendo bumbo para dizer: ‘Gente, vamos salvar o nosso país?’”, concluiu.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), lembrou que os foliões pararam em pleno domingo de carnaval.
"O Oscar de Melhor Filme Internacional recebido por 'Ainda estou aqui' é de todo o mérito de Walter Salles, Fernanda Torres, Selton Mello, Fernanda Montenegro e equipe, a quem cumprimento pela vitória. Um orgulho para todos os brasileiros e brasileiras que, em meio ao carnaval, pararam para assistir ao nosso país ser reconhecido mundialmente pela sua arte e pela defesa dos valores democráticos, tão bem representados pela família Paiva", afirmou.
O Oscar de Melhor Filme Internacional recebido por “Ainda Estou Aqui”, é de todo o mérito de Walter Salles, Fernanda Torres, Selton Mello, Fernanda Montenegro e equipe, a quem cumprimento pela vitória. Um orgulho para todos os brasileiros e brasileiras que, em meio ao carnaval,… pic.twitter.com/2miD6KtaY0
— Geraldo Alckmin ???????? (@geraldoalckmin) March 3, 2025
Em nota conjunta, o Ministério da Cultura e o Ministério das Relações Exteriores parabenizaram a equipe do filme e exaltaram o cinema nacional. "A premiação reflete a excelência do cinema brasileiro, ampliando sua projeção no cenário internacional", escreveram.
Eduardo Paes (PSD), prefeito do Rio de Janeiro, foi além. Parabenizou a equipe do filme e convidou Fernanda Torres para o Desfile das Campeãs no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Ele disse que a atriz desfila no sábado (8/3), sem afiliação a escolas de samba.
Cineastas e celebridades endossaram as comemorações. O mexicano Guillermo del Toro, vencedor de três Oscars, publicou no X: "Walter ganhou!! Brasil ganhou!!". E Selton Mello, que interpreta Rubens Paiva no filme, compartilhou, pelo Instagram, sua euforia no momento do anúncio de Melhor Filme Internacional.
“Ainda estou aqui” ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional contando a história de luta da advogada Eunice Paiva, especialista em direitos humanos e indígenas, papel de Fernanda Torres. Baseado no romance homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice, o filme transforma a família Paiva em metáfora de um projeto de país brutalmente interrompido pela ditadura militar (1964-1985).
Em janeiro de 1971, o ex-deputado federal Rubens Paiva, marido de Eunice, foi preso por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), levado para o quartel da Força Aérea Brasileira, no Rio de Janeiro, e, depois, para os porões do DOI-CODI, onde foi torturado e morto.
Dias depois, Eunice também foi presa junto da filha Eliana, de 15 anos, e levada para o mesmo local onde os militares mantinham Rubens Paiva. Ela foi liberada 12 dias depois e nunca mais teve notícias do marido, a não ser um posicionamento do Exército defendendo a tese de que Rubens Paiva fora "sequestrado por guerrilheiros" quando era transportado para outro presídio. Eunice deu início a uma jornada para fazer o Estado Brasileiro reconhecer a morte de Rubens Paiva, o que ocorreu somente em 1996.
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Brasileiros invadem redes da Academia
O domingo não foi só de comemorações, contudo. Com a derrota de Fernanda Torres para Mikey Madison na categoria de Melhor Atriz, brasileiros invadiram os perfis da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood no Instagram e no X para classificar o resultado como roubo.
Poucos minutos depois do anúncio da vencedora, a publicação da Academia com a informação de Madison como ganhadora já tinha 6 mil comentários, a grande maioria de brasileiros.
"O que esperar de um país que elegeu Donald Trump duas vezes", escreveu um internauta.
"Fernanda merecia TÃO mais? Sim. Vamos ser sinceros. Ela era a melhor que estava nessa premiação. Mas a Demi viu o filme dela se realizar no palco, né, viu. Uma novinha ganhando o prêmio que já estava na mão dela", publicou outro usuário em referência ao longa "A substância", que trata do etarismo em Hollywood.
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Fernanda merecia TÃO mais? Sim. Vamos ser sinceros. Ela era a melhor que estava nessa premiação.
— Erva Daninha (@daninhaddl) March 3, 2025
Mas que a Demi viu o filme dela se realizar no palco, né, viu. Uma novinha ganhando o prêmio que já estava na mão dela.
Outro internauta lembrou a derrota de Fernanda Montenegro em 1999, quando disputou a mesma categoria por "Central do Brasil", também de Salles, e perdeu para Gwyneth Paltrow, protagonista de "Shakespeare apaixonado". "Roubaram em 1999 e roubaram de novo em 2025", escreveu.
Já um usuário mais exaltado publicou a foto de dois rapazes com pedaços de pau na mão, dizendo que aquilo seria para Madison.