"Minha cabeça virou só Adele", afirma Toninho Geraes
Cantor e compositor mineiro diz não escutar música estrangeira e conta como identificou o plágio que aponta de sua música "Mulheres" em"Million years ago"
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Siga noDesde que veio a público o processo envolvendo o cantor e compositor mineiro Toninho Geraes e a cantora britânica Adele, o artista brasileiro tem sido alvo de grande interesse da imprensa nacional e internacional, ocupando mais tempo do que gostaria com essa questão. Toninho acusa Adele e seu produtor, Greg Kurstin, de terem plagiado sua música “Mulheres” na canção “Million years ago”.
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Ele e o violonista e compositor Thiago Delegado participaram nesta semana do programa “EM Minas”, uma produção da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e o portal Uai. Na entrevista, o sambista revela bastidores do processo. Leia a seguir trechos da conversa.
Toninho, inevitavelmente, tenho que começar perguntando sobre o imbróglio com a Adele, que você está processando, alegando um plágio da sua composição “Mulheres”.
Já dei entrevista para o mundo inteiro falando sobre isso. Minha cabeça virou só Adele. Depois que a coisa virou uma questão judicial, eu pensei que minha cabeça daria uma refrescada, mas a primeira audiência foi só uma cortina de fumaça.
Meus advogados acreditam que foi para saber quais argumentos a gente usaria no processo. Eles nos sugeriram uma audiência de conciliação que foi conversa fiada. Quando chegamos lá, eles não tinham nada para oferecer. Como que você vai assim para uma negociação? Se foi você quem convocou, é porque acha que está errado.
Caso contrário, você nem pede conciliação. Mas eles pediram, e aquela primeira audiência foi uma cortina de fumaça danada. Fiquei muito nervoso e até ei mal.
E você gostou da música dela? Você curte Adele?
Não tenho tempo para música estrangeira. Quando tenho que ouvir música estrangeira, escuto os grandes clássicos. Para música atual estrangeira, eu não tenho tempo. Tem tanta música brasileira boa para ouvir.
E, já que você não ouve, como ficou sabendo da história?
O Misael da Hora, que é filho do grande maestro Rildo Hora, escreveu os arranjos das músicas que estão no meu espetáculo com a sinfônica. Ele é maestro e ouviu “Million years ago” e falou: "Toninho, pensei que fosse uma versão daquela música sua, mas é um plágio".
Ele me mandou a música por WhatsApp, eu escutei e fiquei estupefato. Falei: "Caramba! Essa música é minha!". Chamei o advogado Fredímio Trotta, que também é músico e especialista em direitos autorais, e ele disse: "É plágio escancarado, vamos nessa". E comprou essa briga comigo.
Como está a questão dos danos morais?
Pedimos R$ 1 milhão só por danos morais. Mas também quero a minha parte de tudo o que a música rendeu desde a gravação até hoje.
E isso é muito dinheiro. Quero doar para ONGs que cuidam de mulheres em situação de vulnerabilidade, mulheres agredidas, mulheres trans. Esse dinheiro tem que voltar para elas.
Agora falando da sua carreira. Você nasceu em BH e se mudou para o Rio de Janeiro ainda jovem. Você ainda tem relações fortes com Belo Horizonte ou sua vida já está toda fora daqui?
Minha ligação com o Rio de Janeiro é uma coisa engraçada. Nasci no bairro Progresso, na rua Carioca, e depois me mudei para o Santa Mônica. Minha mãe invadiu um terreno da prefeitura lá, nós fizemos uma casinha e ali tocamos a vida.
Ainda tenho relação com BH, sim. Meus filhos estão aqui. Minha filha Luana mora aqui com meus netos Ingrid e Yuri. Tem o João Pedro, meu neto, filho de Zeca, que também está morando em BH.
A vida no Rio foi complicada? Que tipo de obstáculos você teve?
Acho que tudo o que ou, ou. Mas foi difícil, sim. Sempre pensei alto. Pensei: Já que vou morar na rua, vou morar em Ipanema, onde estão todos os artistas. Mas minha história foi muito complicada.
Até em Belo Horizonte, quando eu era camelô e vendia bijuteria na rua Rio de Janeiro – olha o Rio de Janeiro de novo! –, os fiscais puxando para lá o tabuleiro, eles puxando para cá. Meu cotovelo acabou pegando na boca do policial. Me botaram em um camburão, me levaram para um lugar e me deram um “pau”.
E você já tocava nessa época?
Sempre toquei mal. Acho que me tornei um bom compositor porque eu tocava mal, cantava mal, compunha mal. Mas quando você quer muito alguma coisa, o cara lá de cima age. Eu não desisti da minha luta, queria muito isso para a minha vida.
Como surgiu a parceria com Thiago Delegado?
Thiago Delegado: Quem trabalha com samba em Minas tem o Toninho como referência. Ele é talvez o maior compositor de samba do Brasil hoje, em produção e qualidade. Primeiro tivemos uma relação de fã e, com o tempo, nos tornamos próximos. Sempre gravei músicas do Toninho. É muito bonita essa história que o Toninho vem construindo ao longo do tempo, eu estou acompanhando tudo de perto.
E como vai sua carreira, Thiago?
Thiago Delegado: Estou lançando um disco novo este ano, que deve sair entre abril e maio. É o “Sambetes – Volume 2”, um projeto de sambas curtinhos, no estilo do samba-jazz da década de 1960. Lançamos o primeiro volume em 2018 e agora estamos lançando o segundo.
A formação conta comigo, André Limão na bateria, Cristiano Caldas, que toca com Milton Nascimento, no teclado, e Aloízio Horta no baixo. Estamos há 16 anos tocando na noite de Belo Horizonte, o que é um marco, algo muito sério. Atualmente, estamos no Boteco da Avenidinha, na Contorno, o antigo Goiabada Cascão. Tocamos lá todas as quintas-feiras, a partir das 22h30.n