Quando o sangue canta mais alto: irmãos fazem carreira nos palcos de BH
Trio Amaranto, Tianastácia, Godoys, Wilson e Beto Lopes comprovam a força do DNA na cena cultural da capital mineira
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Irmãos na vida e no palco. É assim com Flávia, Lúcia e Marina Ferraz, do Trio Amaranto; Beto e Wilson Lopes; Antônio Júlio e Beto, da banda Tianastácia; Daniel Godoy, Marco Aurélio “Neném” e Luiz Fernando “Tick”, do grupo Godoys. Além do entrosamento musical, a conexão familiar traz mais segurança, energia e alegria aos shows.
Lá se vão 27 anos de carreira de Flávia Ferraz com as irmãs. “Percebo que a construção disso veio de muito antes. Ouvíamos histórias de que nossos pais gostavam de cantar. Porém, profissionalmente, não há ninguém na família que foi músico antes da gente”, afirma a integrante do Trio Amaranto.
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As pequenas irmãs adoravam cantar nas viagens de carro da família. “Fazíamos brincadeiras de harmonizar e aquilo virou uma coisa gostosa, prazerosa. Talvez isso tenha ido para o trabalho. Antes de Marina, que era novinha, eu e Lúcia já cantávamos na banda Flor de Cal. Depois, criamos o Amaranto já com ela.”
A conciliação de trabalho com família é uma construção eterna, acredita Flávia Ferraz. “O Amaranto conseguiu fazer um caminho legal. Temos relação de confiança mútua. É claro que enfrentamos dificuldades e momentos complexos, como toda relação, mas o fato de o lastro ter sido aquele momento lúdico da infância ajudou bastante. Além disso, temos iração genuína umas pelas outras. Resumindo: a gente gosta de ver a outra brilhar.”
Garotos-prodígio
Wilson Lopes já nem se recorda mais de quando começou o duo com o irmão Beto. “Tocamos desde a infância, mas me lembro de quando descobrimos dois violonistas. Um amigo nos apresentou o disco 'Twin-House', da dupla Larry Coryel e Phillip Catherine. Eu tinha 13 anos. Começamos a estudar aquele álbum loucamente, todas as músicas dele. A partir dali, amos a tocar juntos. Depois fizemos um show na Sala Humberto Mauro, em 1982, quando eu já estava com 15 anos.”
Wilson diz que se dedicava à música o dia inteiro. “Lembro-me até do Beto dizer: 'Cuidado para você não ficar doido'”, diverte-se.
“Há forte conexão entre nós, a gente já sabe o caminho que o outro vai seguir, nem precisa combinar. O entrosamento é grande, talvez pelo fato de sermos irmãos”, afirma o violonista, arranjador, professor e diretor musical de Milton Nascimento. “Não temos aquela coisa de guerra de egos”, garante Wilson Lopes.
Tudo em família
Antônio Júlio, da banda Tianastácia, diz que ele e o irmão Beto começaram juntos aos 13 anos. “Tocamos um bom tempo, mas depois entrei na faculdade de medicina e parei com a música. Quando voltei, em 1995, o Beto já fazia parte do Tianastácia. Entrei para a banda e lá estamos juntos nesses 30 anos.”
O vocalista revela que o irmão o ajudou bastante. “Ele me punha para a frente. Dizia: vamos tocar, isso é legal, vou lhe apresentar a uma galera, arrumei um show, vamos tocar na festa da minha faculdade. Outra coisa bacana é que por mais que tenha desavenças, somos família, é difícil haver ruptura de verdade.”
Antônio Júlio conta que sempre reza no palco, agradecendo a Deus por fazer o que gosta.
“Vejo meu irmão ali e penso que era sonho nosso de criança, uma honra trilharmos esse caminho juntos. Existem os irmãos de alma, mas o meu é também de sangue.”
Na casa do vovô
Daniel Godoy, Neném e Tick formam a banda Godoys. “A gente cresceu em ambiente musical, começando pelo Madrigal Renascentista e por minha tia, a cantora lírica Maria Lúcia Godoy, hoje com 100 anos. O Madrigal ensaiava na casa do meu avô, maestros e cantores estavam lá sempre”, relembra Daniel.
“Mais tarde, fundamos a banda Anjos de Garagem, que depois virou Godoys. Temos o projeto de lançar um disco. A energia que brota no palco é muito boa, porque gostamos do que fazemos. Basta olhar para entender o que o outro quer”, afirma Daniel Godoy.