Carlinhos Brown se apresenta com a Orquestra Ouro Preto em BH
Cantor e compositor baiano interpreta sucessos como "A namorada" e "Uma brasileira" em arranjos orquestrais, no Palácio das Artes, nesta sexta (2/5) e sábado
compartilhe
Siga noO nome é sugestivo e carregado de significados: “Afrosinfonicidade”. O neologismo evoca a fusão entre a ancestralidade afro-brasileira e a tradição da música erudita ocidental, representada pelos elementos sinfônicos de uma orquestra.
Leia Mais
Essa convergência resume a proposta do concerto que reúne a Orquestra Ouro Preto (OPP) e Carlinhos Brown, nesta sexta-feira (2/5) e sábado, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. A primeira apresentação do cantor, compositor e percussionista baiano ao lado da orquestra mineira ocorreu em maio do ano ado, em São Paulo.
Dali partiu a turnê que já ou por Salvador, levando as músicas de Brown para novos territórios sonoros. “O que estamos dizendo é que temos uma proposta para a música popular brasileira”, afirma o artista.
"Não estamos brincando de colocar violino em melodias populares, porque isso soaria como baile. Até já tentei fazer coisas diferentes, colocando cordas em músicas que adoro e acho superbonitas, mas acabou ficando com cara de Disney", ele brinca.
Não é a primeira vez que Brown se apresenta com orquestras – ele já colaborou com a Filarmônica de Los Angeles e com as sinfônicas de São Paulo e Salvador. Ainda assim, é com a Orquestra Ouro Preto que construiu uma parceria mais sólida, definida como um “reparo histórico” em sua trajetória.
Brown há tempos desejava trabalhar as harmonias de suas músicas em formato sinfônico. No entanto, “às vezes a gente precisa ser camaleônico para sobreviver”, afirma. “Mas se você não perder sua essência nunca, ela vai transparecer em algum momento”, acrescenta.
Audácia e humildade
Contudo, durante essa busca por unir a música afro-brasileira à tradição sinfônica, ele não encontrou “cabeças condizentes” com sua proposta. Até cruzar com a Orquestra Ouro Preto. “De repente, encontrei essa orquestra com toda a audácia, conhecimento, eficiência e humildade que são só dela”, diz.
Talvez a maior ousadia da OPP esteja na disposição para transitar entre o erudito e o popular. Essa abertura do grupo ensejou colaborações com nomes importantes da música brasileira, como Ana Carolina, Diogo Nogueira, Fernanda Takai, João Bosco e Alceu Valença.
Com Brown, a orquestra também reelaborou arranjos. Nos concertos deste fim de semana, as músicas do baiano terão um repertório que, além de rear a carreira dele, incluirá surpresas. Entre elas, uma versão inédita de “Frases ventias”, do disco de estreia “Alfagamabetizado” (1996).
A gravação original teve parte da letra suprimida porque, na hora de gravar, Brown esqueceu alguns trechos, que só voltaram à memória quase 30 anos depois.
Clássicos como “A namorada” (“Alfagamabetizado”), “Água Mineral” (dos tempos de Timbalada), “Uma brasileira” (com Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso), “ETC” (eternizada por Cássia Eller), e “Já sei namorar” e “Velha infância” (do período dos Tribalistas, ao lado de Marisa Monte e Arnaldo Antunes) também merecem lugar no programa.
Barroco
Os novos arranjos deram a essas músicas um caráter quase barroco, mas sem fazer com que perdessem a essência afro, herdada de tambores como o caxambu e o atabaque. Para esse resultado, o maestro Rodrigo Toffolo aplicou o que Brown chama de “colocar sebo no violino”: uma regência que recua suavemente o tempo da melodia, criando mais balanço e fluidez.
Figura central na atualização da percussão brasileira, Brown afirma que a linguagem percussiva do país – moldada também por nomes como Naná Vasconcelos, Robertinho Silva e Flora Purim – mexeu com os rumos da música global, especialmente nas cenas pop e eletrônica.
"O mercado mundial rítmico é muito diferente. Tenho plena consciência disso. O ativismo viral que levou à música eletrônica atual veio da visão percussiva, e, mais ainda, da visão percussiva brasileira. Naná (Vasconcelos) e Flora (Purim) foram os que melhor entenderam a stock house", afirma.
Ele, no entanto, critica o empobrecimento harmônico de certas produções contemporâneas, muitas delas baseadas em apenas dois acordes.
"A monocórdia da música eletrônica, onde cabe tudo e é um ostinato, é um exemplo. Ela pegou o pedal (a influência da visão percussiva brasileira) e foi embora. Nós que estudamos música já sabemos quando as afinações são modificadas para que as pessoas não tenham euforia e pensamentos mais organizados a partir do que a música está oferecendo", afirma.
Essa crítica, no entanto, não quer dizer que o baiano seja saudosista. Longe disso. Para ele, o Brasil tem capacidade harmônica e melódica incríveis, “que são como derramamentos emocionais dos rios voadores que pairam sobre nós”. "Tem gente que diz que isso é viagem, mas não é. É sagrado."
"AFROSINFONICIDADE"
Concerto da Orquestra Ouro Preto com Carlinhos Brown. Nesta sexta-feira (2/5) e sábado, às 20h30, no Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Últimos ingressos à venda por R$ 210 (inteira/plateia 1), R$ 160 (inteira/plateia 2) e R$ 50 (inteira/plateia superior), na bilheteria ou pelo Eventim. Meia entrada na forma da lei. Mais informações: (31) 3236-7400.