Luísa Coelho lança livro para aproximar os portugueses de Minas Gerais
'Minas Gerais – Contos e confidências' terá sessões de autógrafos neste sábado (3/5), na Quixote, e no domingo (4/5), durante a Bienal Mineira do Livro
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Siga noOs mineiros sabem, mas os portugueses, talvez, não: caminhar pelo Centro de São João del-Rei, Ouro Preto, Diamantina, Congonhas ou Tiradentes é como ear por Braga, Porto, Guimarães ou Lamego. O barroco europeu, especialmente o do Norte de Portugal, serviu de base para a arquitetura mineira dos séculos 17 e 18.
As igrejas com plantas retangulares simples e fachadas onduladas que temos por aqui foram amplamente inspiradas nos templos católicos portugueses. O interior dourado da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, remete à Igreja de São Domingos, em Braga. E a fachada da Catedral Metropolitana de Santo Antônio da Sé, em Diamantina, guarda semelhanças com a Igreja do Bom Jesus de Matosinhos, no Porto.
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Herdamos procissões católicas, encenações dramáticas da Paixão de Cristo e a música sacra executada por orquestras. A famosa Semana Santa de São João del-Rei tem rituais praticados em Braga desde o século 16. As esculturas de Aleijadinho (1738-1814) revelam a mesma expressividade intensa que se vê nas obras do português Machado de Castro (1731-1822).
A partir do paralelo entre Minas Gerais e o Norte lusitano, a professora e escritora Luísa Coelho – angolana radicada em Portugal – propõe uma apresentação afetiva e cultural do estado aos leitores portugueses, com o livro “Minas Gerais – Contos e confidências” (Gato Bravo).
Luísa assina a apresentação da obra, que traz 22 escritores mineiros convidados a revelar as riquezas patrimoniais e simbólicas do estado.
Com lançamento neste sábado (3/5), na Quixote Livraria, e no domingo (4/5), durante a Bienal Mineira do Livro, em BH, “Minas Gerais – Contos e confidências” reúne narrativas curtas que, segundo a organizadora, “levam o leitor a perceber a diferença temática entre os escritores mineiros e outros autores brasileiros”.
Entre os participantes da coletânea estão Luiz Ruffato, Carlos Herculano Lopes, Luiz Giffoni, Ana Cecília Carvalho, Guiomar de Grammont e Branca Maria de Paula.
“Alguns fizeram pequenas autobiografias; outros recontaram histórias mineiras que ajudam a descobrir e compreender este estado brasileiro que se pretende dar a conhecer aos portugueses por meio da coletânea”, acrescenta Luísa.
A ouro-pretana Guiomar de Grammont, por exemplo, narra um episódio real ocorrido em sua cidade natal, com foco especial nas descrições do cenário. Estão ali detalhes preciosos. O fato de a Igreja de Nossa Senhora do Rosário estar em terreno curvo influenciou diretamente a planta arredondada e o espaço intimista do templo, semelhante ao interior de uma concha. Isso tem muito mais a ver com o estilo rococó do que com o barroco tradicional.
“Os portugueses não conhecem esses lugares, que para a gente são tão familiares e nos fazem sentir em casa”, ressalta Luísa. Ela não fala de Minas como destino exótico. Há cerca de 25 anos frequenta a região com regularidade – chegou a morar em Belo Horizonte quando atuou como professora convidada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2024.
Sua primeira experiência no Brasil ocorreu em 2000 e 2001. Veio acompanhando o marido, diplomata da União Europeia, transferido para Brasília. Na capital federal, lecionou na Universidade de Brasília até 2006, quando se mudou para Luanda, novamente por conta do trabalho do companheiro.
“Nasci em Angola antes da independência e da guerra civil. A imagem que tinha do país era uma, completamente diferente do que encontrei ao voltar. A guerra teve efeito devastador, deixou o país muito empobrecido. Curiosamente, é a Angola da minha infância que vejo hoje no Brasil. Talvez por isso sempre digo que meu país preferido é o Brasil”, afirma.
Olhar diferente
No Brasil, Luísa encontrou mais espaço para publicar seus livros. É um país muito maior do que Portugal, com muito mais editoras, ela explica. Ainda assim, reconhece que sua condição de estrangeira pode ser uma vantagem.
“Talvez por não ser daqui, eu traga um olhar diferente do que costuma ser produzido no Brasil. Por exemplo, tenho um livro infantil sobre uma história ambientada em Angola que foi publicado aqui. A editora aceitou a ideia e os exemplares se esgotaram”, conta, referindo-se a “Petro, bom de bola” (RHJ).
Luísa conseguiu a façanha de publicar no Brasil o romance bilíngue “Monique”, em português e francês, sobre mulher abandonada pelo marido logo após o nascimento do primeiro filho do casal.
“Depois do lançamento de ‘Minas Gerais – Contos e confidências’, meu desejo é fazer o volume dois, porque há vários outros autores mineiros e muitas outras histórias. Mas, por enquanto, isso é só uma ideia”, revela.
“MINAS GERAIS – CONTOS E CONFIDÊNCIAS”
• Organização de Luísa Coelho
• Editora Gato Bravo
• 237 páginas
• Lançamento neste sábado (3/5), das 11h às 13h, na Quixote Livraria (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi), e no domingo (4/5), às 15h30, na Bienal Mineira do Livro (Centerminas Expo, Av. Pastor Anselmo Silvestre, 1.495, 4º andar, Bairro União).
OUTRO LANÇAMENTO
“Oratório dos Inconfidentes”
O poeta mineiro Domício Proença Filho, ocupante da cadeira 28 da Academia Brasileira de Letras, lança “Oratório dos Inconfidentes (Faces do verbo)”, livro no qual reconstrói poeticamente os caminhos da Inconfidência Mineira, dando voz a Tiradentes e Cláudio Manuel da Costa. A obra, com ilustrações de Candido Portinari, é publicada pela Tinta Negra e está disponível nas livrarias.