Wesley Barbosa sobre polêmica na Flipoços: 'Os livros me deram autoestima'
Flipoços rompeu com a escritora Camila Luz após declaração de 'cunho racista' sobre o Movimento Neomarginal
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Siga noDurante o feriado do Dia do Trabalhador (1º/5), polêmica envolvendo os escritores Camila Luz e Wesley Barbosa marcou a 20ª edição da Feira do Livro Internacional de Poços de Caldas (Flipoços) e repercutiu no meio literário. Em mesa-redonda, Camila fez uma declaração controversa ao comentar o Movimento Neomarginal, do qual Barbosa é um dos expoentes, sugerindo que para ser considerado neomarginal seria necessário ter sido preso, associando o movimento à criminalidade.
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“Eu quero ser uma neomarginal, gente. Olha que tudo! Camila Luz neomarginal. Nunca fui presa, mas agora sou da sociedade, né?”, ironizou a autora.
A fala foi criticada por escritores, ativistas e integrantes do movimento, que a consideraram preconceituosa e ofensiva à literatura periférica. Inclusive pelo próprio Wesley Barbosa. Após o episódio, a organização da Flipoços decidiu retirar Camila da programação e recolher seus livros do evento. Em nota oficial, expressou apoio ao escritor e ao Movimento Neomarginal.
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“Nosso evento tem como pilares a diversidade, a inclusão e a valorização de todas as vozes, especialmente aquelas historicamente silenciadas”, afirma o texto. A organização também anunciou que abrirá uma convocatória de escuta com o objetivo de fortalecer a curadoria do festival, reforçando seu compromisso com a pluralidade de pensamentos e a representatividade.
Em entrevista ao Estado de Minas, Wesley afirmou que, em nenhum momento, foi desrespeitoso com Camila, e mesmo diante de uma fala de cunho racista, preferiu não reagir com agressividade. “Ela ia participar de uma mesa da qual eu não faria parte. Quando me viu, pegou na minha mão e me chamou para subir ao palco, pedindo que eu falasse um pouco de mim”, relatou.
Foi neste momento que a escritora abordou o Movimento Neomarginal. Primeiro, perguntou como “fazer para ser neomarginal”. Wesley respondeu que bastava ela ser ela mesma. Pouco depois, Camila fez o comentário que relacionou o movimento à criminalidade.
“Acho que foi muito acertada a atitude da Flipoços. A Gisele (Ferreira, curadora do evento) conversou comigo, e a equipe da organização tem se mostrado solidária”, disse o autor.
A reportagem tentou contato com Camila Luz, mas não obteve retorno direto dela. Ela se desculpou pelo ocorrido, dizendo que não imaginava que pudesse gerar desconforto.
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Wesley Barbosa é um dos principais nomes da literatura marginal contemporânea. Crescido na periferia de São Paulo, teve o primeiro contato com os livros na biblioteca da escola, ao ler uma versão adaptada de “Odisseia” para jovens. Desde então, desenvolveu paixão pela leitura e, mais tarde, pela escrita.
Em 2015, estreou na literatura com o livro de contos “O diabo na mesa dos fundos”. Depois, publicou “Parágrafos fúnebres”, “Relato de um desgraçado sem endereço fixo”, “Viela ensanguentada” e “Pode me chamar de Fernando”. Na Flipoços, divulgava justamente “Viela ensanguentada”, que será lançado na França com tradução para o francês.
A obra narra a história de Mariano, jovem apaixonado por literatura que sobrevive catando latinhas. Sua vida muda quando decide escrever a própria trajetória. “Esta história se confunde com a minha no momento em que falo de uma pessoa apaixonada por livros”, comenta Wesley. “O livro me salvou. Para mim, o livro é como um colete à prova de balas.”
Além da carreira como escritor, Wesley é fundador da Barraco Editorial, voltada à publicação de novos autores. A editora está lançando o livro de crônicas “Dias sem glória”, escrito em parceria entre o ator Pedro Cardoso e o jornalista Aquiles. Para o lançamento na França, está em andamento um financiamento coletivo que visa custear a viagem do autor.
“O que aconteceu comigo na Flipoços eu só consegui ar e reagir como reagi porque tenho a autoestima que os livros me deram”, conclui Wesley.
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Leia a nota da Flipoços na íntegra:
O Flipoços 2025 repudia veementemente qualquer ato de discriminação ou preconceito. Nosso evento tem como pilares a diversidade, a inclusão e a valorização de todas as vozes, especialmente aquelas historicamente silenciadas. Durante uma das mesas do Festival, um dos integrantes do Movimento Neomarginal foi alvo de um episódio lamentável de cunho racista.
Na mesa "Raízes e asas: literatura e artes sem fronteiras, o encontro de mãe e filha na terra Natal", a escritora Camila Panizzi Luz decidiu convidar o escritor Wesley Barbosa, integrante do Movimento Neomarginal, que estava na plateia para subir ao palco e participar da conversa, no entanto, ela assumiu uma postura inaceitável, com falas ofensivas ao autor do Coletivo.
Diante disso, o Flipoços decidiu por romper vínculos entre a autora e a programação, retirar os seus livros da Feira e cancelar todas as demais atividades em que a autora estaria vinculada nesta e em outras realizações do Festival. Visando preservar o respeito e a escuta mútua nas próximas edições, o evento se compromete à abertura de uma convocatória de escuta para fortalecer a curadoria, que sempre esteve aberta a todas as formas de pensamentos enaltecendo a diversidade, representatividade e a pluralidade de vozes.
A presença do Movimento Neomarginal no Flipoços, com um estande vibrante e potente, é motivo de orgulho para todos nós. Suas obras são urgentes e essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e consciente.
Reforçamos que o Flipoços, ao longo de seus 20 anos sempre foi, e continuará sendo, um espaço de liberdade, respeito e celebração da cultura em todas as suas formas.
Importante destacar que, em um espaço de fala livre e democrática como o Flipoços, não é possível prever o que cada pessoa dirá ao microfone. Ainda assim, reafirmamos que não compactuamos com nenhum tipo de discurso discriminatório ou ofensivo, e seguiremos atentos para preservar o respeito e a escuta mútua em todas as atividades do evento.
Seguimos juntos, lutando por um mundo onde todas as histórias possam ser contadas e ouvidas.