Em 'Dissidente", Marcelo Azevedo faz de BH o cenário de dilemas morais
Livro de contos do psicólogo e escritor mineiro será lançado neste sábado (3/5), no Espaço do Conhecimento UFMG
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Siga noSe quer ser universal, comece pintando sua aldeia. Seguindo a máxima do escritor russo Tolstói (1828-1910), o belo-horizontino Marcelo Azevedo publica seu segundo livro, “Dissidente” (Patuá), que será lançado neste sábado (3/5), das 10h às 13h, no Espaço do Conhecimento UFMG.
Nove contos sobre a moralidade, ou a falta dela, percorrem Belo Horizonte – do cruzamento das ruas Washington e Venezuela, no Bairro Sion, à Escola de Belas Artes da UFMG, no campus Pampulha.
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Escrito ao longo dos últimos quatro anos, “Dissidente” dá continuidade à ideia que surgiu no livro anterior de Azevedo, “Cercanias”. Ambos trazem narrativas em tons sombrios marcadas pela crítica social.
Marcelo, que atua como psicólogo há mais de 10 anos, explica que o novo livro trata de questões morais que permeiam o cotidiano. A inspiração veio da observação atenta do que acontece a seu redor.
“As ideias me vieram transitando na vida, saindo na rua, indo trabalhar e voltando em meio ao trânsito. A realidade é mais regida pelas coisas que estão erradas diante da moral do que por aquelas consideradas certas”, observa.
Ao longo de 124 páginas, os contos falam de desigualdade social, dramas conjugais, relação entre pai e filho, divórcio, depressão e frustrações pessoais.
O primeiro texto do projeto foi “Casa aberta”. Nele, um homem revisita lembranças de infância na antiga fazenda do pai, agora em ruínas. Marcelo Azevedo comenta que a memória “é muitas vezes marcada pela imoralidade”. Geralmente, nos lembramos mais de momentos em que o errado prevalece, observa.
A maioria dos contos tem de cinco a 10 páginas, com exceção de “Justiça”, com o triplo desse padrão. Escrito após a experiência pessoal do autor em uma audiência trabalhista, o texto é o mais complexo do conjunto, diz Azevedo.
“Vendo-me ali e vendo também outras pessoas recorrendo aos seus direitos, pensei: tenho de escrever alguma coisa sobre isso”, conta.
O autor partiu do seguinte questionamento: se a justiça falha conosco, podemos fazer justiça com as próprias mãos? A narrativa acompanha um homem em desespero, afetado pelo desemprego e pela ineficiência das leis, que está às voltas com profundos dilemas morais.
Marcelo Azevedo costuma levar de dois a três meses para finalizar um conto, trabalhando sempre “do macro para o micro”, como ele diz. “Acredito que a ficção pura não existe, pois, se fosse totalmente inventada, ela não seria crível.” A ficção é uma forma de triturar a realidade e reorganizá-la, acredita.
As histórias nascem de lembranças pessoais ou de observações do cotidiano, mas jamais se baseiam em casos envolvendo pacientes de Marcelo.
Belo Horizonte tem papel fundamental nesta escrita. “A geografia da cidade é uma espécie de aliada dos meus contos”, diz. “Isso traz o leitor e também a verdade para dentro da narrativa.”
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Ao escrever sobre sua cidade, Marcelo Azevedo encontra um caminho para falar de temas humanos universais, como propôs Tolstói.
“DISSIDENTE”
• Livro de Marcelo Azevedo
• Editora Patuá
• 124 páginas
• R$ 60
• Lançamento neste sábado (3/5), das 10h às 13h, no Espaço do Conhecimento UFMG (Praça da Liberdade, 700, Funcionários)