'Ganhar o Oscar não significa muita coisa', diz o mexicano Rodrigo Prieto
Indicado quatro vezes ao prêmio, diretor de fotografia de Scorsese estreia como cineasta em 'Pedro Páramo', defende streaming e adora a liberdade dos clipes
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Siga noEm novembro, o diretor de fotografia mexicano Rodrigo Prieto completa 60 anos. Não haverá muito tempo para festa, pois é justamente nesse mês que ele vai começar a trabalhar no novo filme de Martin Scorsese, cineasta que Prieto acompanha desde “O lobo de Wall Street” (2013).
“Ainda não sei qual é. Só sei que não será ‘Sinatra’ (cinebiografia com Leonardo DiCaprio como protagonista), pois o projeto foi adiado. Não assumi outros compromissos este ano porque estou esperando por Scorsese”, afirmou Prieto durante conversa com jornalistas na recente edição dos Prêmios Platino, em Madri.
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Com carreira consolidada como diretor de fotografia, que lhe garantiu quatro indicações ao Oscar (por “O segredo de Brokeback Mountain”, “Silêncio”, “O irlandês” e “Assassinos da Lua das Flores”, os três últimos de Scorsese), Prieto é também diverso. Além de dirigir os clipes de Taylor Swift, ele fez a fotografia do blockbuster “Barbie”.
Foi também em um mês de novembro, o de 2024, que estreou na direção de longas. Disponível na Netflix, “Pedro Páramo” é uma adaptação do clássico da literatura mexicana. Único romance de Jean Rulfo, lançado em 1955, trata, por meio do realismo fantástico, de morte e poder. Acompanha um homem que prometeu à mãe moribunda encontrar aquele que ela diz ser seu pai, Pedro Páramo.
“Quero continuar fazendo fotografia, mas descobri, através de ‘Pedro Páramo’, que posso me comunicar com os atores e obter atuações poderosas”, afirma Prieto na entrevista a seguir.
Você trabalhou com Martin Scorsese, Alejandro Inárritu, Ang Lee. Como levou sua bagagem para uma linguagem mais universal?
Filmes são uma oportunidade que a vida dá para conhecer outras culturas. O segredo é abordar o material e as diferentes culturas com respeito e aprendizado. Ou seja, captar as imagens através do filtro da minha cultura pessoal. Também vi a pesquisa que esses diretores fazem. Em “O segredo de Brokeback Mountain”, por exemplo, Ang Lee estudou muito sobre pastores de ovelhas, como eles falam, quais são os tipos de ovelhas. Agora, sempre há consultores. Sou mexicano, mas não nasci na época de 'Pedro Páramo'. Sou chilango, nasci na Cidade do México, não no campo. Mas meu avô esteve na Revolução Mexicana e me contou muitas histórias daquela época. Tenho alguma bagagem da época, mas estudei muito e trabalhei com consultores. Tive um fazendeiro, por exemplo, explicando como usar os utensílios, e dois assessores para assuntos eclesiásticos.
Como diretor de fotografia, você gosta de grandes telas. “Pedro Páramo” foi produzido pela Netflix. O streaming mudou a forma de você pensar o cinema?
Para “Pedro Páramo” escolhi a proporção de tela 2:1 (também chamada de Univisium) porque sabia que ela funcionaria no cinema e nas TVs. No cinema tradicional, a proporção de tela é 1,85:1 (a chamada janela americana, padrão nos EUA) ou 2,35:1 (CinemaScope). Então, escolhi algo intermediário, pois me parece uma forma mais cinematográfica, que preenche bem a tela da televisão. Mas hoje em dia as telas de TV são relativamente grandes. Filmamos “O irlandês”, produção grande e complexa, em 1,85 em vez de Widescreen (utilizado em TVs e monitores de computador) em parte que sabíamos que iria para a Netflix. Ou seja, há um ajuste (para fazer filmes produzidos por plataformas), mas como a câmera se move, que tipo de lentes usamos, tudo isso é idêntico (a filmes para o cinema). Além do mais, a plataforma Netflix oferece a possibilidade de o filme ser visto por milhões de pessoas em todo o mundo. Se “Pedro Páramo” tivesse ido somente para os cinemas, já teria acabado. Hoje, ele continua lá.
O Brasil recebeu seu primeiro Oscar este ano, com “Ainda estou aqui”. Você já recebeu quatro indicações. O que mudou na sua vida?
O valor dos prêmios é o valor que a sociedade dá a eles. Na verdade, ganhar ou não um Oscar não significa muita coisa, porque quem escolhe é o gosto dos membros da Academia. É muito relativo. O que é verdade é que o Oscar realmente chama a atenção das pessoas. Ter essas quatro indicações é certamente atraente, então, quando alguém escreve o meu currículo, essa é a primeira coisa a ser mencionada. Mas mudar, não muito. Apenas certa percepção.
Martin Scorsese é o maior cineasta americano em atividade. Como é o trabalho no set com ele?
Scorsese é um diretor muito generoso com seus atores e com todos da equipe. O que mais importa para ele é que os atores estejam confortáveis, ouvindo o que precisam saber. E ele também ouve o resto da equipe, não é um ditador. Tem ideia muito clara de como resolver uma cena, mas permite que os outros ouçam e sintam o que está acontecendo naquele momento. É por isso que há alguns momentos incríveis em seus filmes que surgem da improvisação, porque ele está aberto, permite esse jogo. A turma chega nervosa, esperando para ver como vai ser. Mas quando você começa a trabalhar, vê a primeira tomada e começa a conversar com os atores, começa a rir, relaxa e se diverte.
O que a direção de videoclipes traz para você em comparação com o cinema?
Uma das principais diferenças é o tempo que leva, certo? Um filme exige tudo, meses de preparação, um videoclipe é mais imediato. O que gosto nos videoclipes é que eles têm muita liberdade. É como um sonho, pode ser o que você quiser. As coisas que fiz com a Taylor Swift são literalmente isso, jornadas internas, imaginárias. Ela inventa histórias baseadas nas letras das músicas, imagina ações, lugares e situações. Para mim, é muito legal traduzir o que ela tem na cabeça em imagens concretas. É uma linguagem muito livre e bonita.