Cantora Alaíde Costa lança tributo a Dalva de Oliveira, a Rainha da Voz
Com 17 faixas e a presença de Maria Bethânia, álbum 'Uma estrela para Dalva' tem 20 convidados e resgata o repertório da mestra das cantoras brasileiras
Formado em Comunicação Social pela PUC-MG, com pós-graduação em Comunicação Digital pela mesma instituição. Criador do projeto A Cena na Quarentena, com uma série de entrevistas realizadas com artistas de diversas áreas durante a pandemia (todas disponív
Vozes fundamentais da música popular brasileira, Maria Bethânia e Alaíde Costa são "discípulas" de Dalva de Oliveira crédito: Murilo Alvesso/divulgação
É com certa dose de espanto, mas também com serenidade, que a cantora e compositora Alaíde Costa observa que somente agora o reconhecimento de seu trabalho chegou, após 70 anos de carreira e prestes a completar 90 de vida, em dezembro. Desde 2020, ela vem produzindo intensamente: lançou seis álbuns, com robusta agenda de shows. O mais recente é “Uma estrela para Dalva”, que a Deck Disc disponibiliza agora nas plataformas e em vinil.
O trabalho reúne canções imortalizadas na voz de Dalva de Oliveira (1917-1972), como “Errei, sim”, “Ave Maria no morro”, “Estrela do mar” e “Bandeira branca”. As 17 faixas contam com o acompanhamento luxuoso de Maria Bethânia, André Mehmari, Guinga, Amaro Freitas, José Miguel Wisnik e Cristovão Bastos, entre 20 convidados.
Produzido por Thiago Marques Luiz, empresário de Alaíde há 20 anos, o álbum é a realização do sonho acalentado desde a década de 1980. Dalva sempre foi uma grande inspiração e concretizar esse projeto é oportunidade de manter viva a história da música brasileira, afirma Alaíde.
Com arranjos sofisticados e interpretações emocionantes, trata-se de um tributo à altura de Dalva de Oliveira, conhecida como “Rainha da Voz”.
“Sou muito fã de Dalva. Embora ela tenha potência de voz imensa, que não tenho, aprendi muito com ela essa coisa de ar emoção, entender o que o letrista quis dizer, porque tem muita gente que canta bem, mas sem perceber o que está cantando. Tem também a questão das melodias, fator que a gente não pode esquecer, porque Dalva selecionava muito bem os repertórios”, afirma.
A ideia do tributo surgiu há 40 anos, vinda do produtor e compositor Hermínio Bello de Carvalho. “Ele me perguntava por que eu não fazia um disco interpretando Dalva. Abracei a ideia, sempre fui fanzoca, mas ficou em banho-maria. Tentamos várias vezes, mas só agora consegui, graças a meu empresário e produtor”, diz Alaíde.
Estrela da música brasileira nas décadas de 1940, 1950 e 1960, Dalva de Oliveira (ao centro) gravou clássicos como 'Bandeira branca', que até hoje anima os carnavais do Brasil O Cruzeiro/EM/D.A Press/1952
O repertório traz sucessos, mas ela fez questão de incluir as menos conhecidas. É o caso de “Distância”, que ela canta acompanhada pelo piano de Gilson Peranzzetta.
“Só vim a conhecê-la recentemente. Não entrou no vinil, mas está nas plataformas”, diz, lamentando que, atualmente, muitas pessoas nem saibam quem foi Dalva de Oliveira – a brasileira que cantou na festa de coroação de Elizabeth II, na Inglaterra. Alaíde entende isso como uma falha do Brasil, que não cultua a memória de seus grandes cantores e cantoras.
Os convidados especiais do disco são amigos que nutrem iração por seu trabalho. “Todo mundo que marcou presença foi, como diz a gíria, 'de boa'. Escolhi a música que cada um faria comigo e todos acataram felizes”, revela.
Nos últimos anos, várias parcerias deram novo impulso à carreira de Alaíde Costa, marcada pela coerência artística – ela só canta o que gosta.
Em 2022, o álbum “O que meus calos dizem sobre mim” foi produzido por Emicida, Pupillo (Nação Zumbi) e Marcus Preto. O trabalho, que deu início à trilogia, foi eleito Melhor Lançamento Fonográfico de MPB pelo Prêmio da Música Brasileira, em cuja cerimônia, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Alaíde foi aplaudida de pé.
Em 2023, a cantora se apresentou em Portugal e no Carnegie Hall, o famoso palco de Nova York. Em fevereiro do ano ado, veio à luz “Pérolas negras”, álbum de Alaíde com as amigas Eliane Pittman e Zezé Motta. Em julho, saiu o segundo título da trilogia, “E o tempo agora quer voar”.
“Agora, no finalzinho da vida, as pessoas estão reconhecendo que aqui tem uma cantora que canta bem. Ou qualquer coisa assim, não sei explicar. Creio que estou cercada de gente mais jovem e isso deu um vigor para minha carreira”, diz Alaíde Costa.
“UMA ESTRELA PARA DALVA”
•Álbum de Alaíde Costa e convidados •Deck Disc •17 faixas •Disponível nas plataformas