LITERATURA

Os vários significados do "sim" inspiram evento literário em BH

Com mesas que reúnem autores e poetas, "Dizer sim: Poesia, alegria e resistência" será realizado no Museu da Moda de Belo Horizonte, de quarta (21/5) a sábado

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Vagalumes são figuras multifacetadas, ricas em significados. Podem ser metáforas de inspirações momentâneas ou representar a dualidade dos sentimentos humanos. Encarnam o encantamento da natureza e simbolizam a beleza do inexplicável. Mas também são resistência: com sua luz própria, mimetizam o brilho obstinado diante da escuridão.

Tantas possibilidades interpretativas – sobretudo a última – sintetizam o espírito do evento literário “Dizer sim: Poesia, alegria e resistência”, que será realizado no Museu da Moda de Belo Horizonte (Mumo), de quarta-feira (21/5) a sábado. Ao longo dos quatro dias de programação, haverá mesas de debate, exibição de filme, aula aberta, leitura de poemas e performance.

O conceito-chave de “Dizer sim...”, hermético num primeiro momento, parte da interpretação que o historiador da arte e filósofo francês Georges Didi-Huberman faz de um ensaio niilista de Pier Paolo Pasolini (1922-1975) no livro “Sobrevivência dos vagalumes”. O cineasta italiano cravou que os vagalumes (e toda sua carga poética) estariam fadados ao desaparecimento, ao que Didi-Huberman rebateu afirmando que os insetos representam “uma comunidade desejante” e que, juntos, “formam uma constelação”.

“‘Dizer sim na noite atravessada de lampejos’ é uma das frases do Didi-Huberman no livro, e ela brilhou para mim como uma espécie de vagalume. Um convite para tornar essa palavra-chave também constelar”, diz a poeta e idealizadora do evento, Mônica de Aquino. “Queria pensar o ‘sim’ não como conformação e obediência, mas como pulsão e desejo de continuar construindo outra possibilidade de vida e de mundo.”

Outros “sims” importantes na literatura também foram irrompendo na mente dela, como as frases “Tudo no mundo começou com um sim”, de Clarice Lispector, em “A hora da estrela”; e “Sim, eu disse sim, eu quero sims”, do monólogo final de Molly Bloom, em “Ulisses”, de James Joyce (1882-1941). Todas essas frases batizam mesas de debate.


Polissemia

Sendo assim, uma palavra tão singela – com apenas três letras – ganhou força polissêmica, com seus múltiplos sentidos guiando Mônica na curadoria da programação.

“Há uma inflexão mais política desde a discussão com o texto do Pasolini. Mas também tem a frase da Clarice, que aponta para a origem da vida, para a maternidade, paternidade e infância. E a da Molly Bloom, que é um ‘sim’ feminino. Um ‘sim’ para o desejo, para o erotismo”, explica Mônica.
Tais ideias se ramificam ao longo de “Dizer sim...”. A exibição do longa “Otto” (2012), de Cao Guimarães, por exemplo, cuja sessão será no primeiro dia do evento, seguida de debate com o diretor, parte do “sim” como origem de tudo no mundo, à maneira da Clarice. O filme acompanha a gravidez da então companheira do cineasta e o nascimento do filho do casal.

Já as mesas com Renato Negrão, Gabriela Sá, Ícaro Moreno e Ana Martins Marques (“Sim, eu disse sim, eu quero sims”); Daniel Arelli, Ligia Diniz e Veronica Stigger (“Dizer sim na noite atravessada de lampejos”); e Pablo Lobato, Tatiana Blass e Mônica de Aquino (“Tudo no mundo começou com um sim”) abordam o “sim” como afirmação da vida coletiva, do encontro e da possibilidade de uma existência em comunidade, segundo a curadora.

“Mas eu queria uma mesa que também falasse do próprio processo de criação artística”, diz Mônica. “Então me lembrei do poema ‘O sim contra o sim’, de João Cabral de Melo Neto, e decidi usar esse título como nome da última mesa do evento, com Ludmilla Ramalho e Gustavo Silveira Ribeiro, seguida de performance da Ludmilla.”

O poema de João Cabral concentra-se na figura do pintor Joan Miró (1893-1983), que, sentindo sua mão direita “demasiado sábia”, decide desaprender o que aprendeu para reencontrar a criatividade perdida, agora usando a mão esquerda.

É a busca por renovação e autenticidade. Não por acaso, a mesma que orienta o espírito de “Dizer sim: poesia, alegria e resistência”.


PROGRAME-SE


Quarta-feira (21/5)


• 17h30 - Exibição do filme “Otto” e debate com Cao Guimarães


 19h45 - Conferência de abertura com a professora Rosana Kohl Bines

Quinta-feira (22/5)


• 18h - Mesa “Sim, eu disse sim, eu quero sims”, com Renato Negrao?, Gabriela Sá, Ícaro Moreno e Ana Martins Marques


• 19h45 - Leitura aberta do livro “De uma a outra ilha”, com Ana Martins Marques e Victor da Rosa

Sexta-feira (23/5)


• 18h - Mesa “Dizer sim na noite atravessada de lampejos”, com Daniel Arelli, Ligia Diniz e Veronica Stigger


• 19h45 - Aula aberta com Veronica Stigger

Sábado (24/5)


• 10h - Mesa “Tudo no mundo comecou? com um sim”, com Pablo Lobato, Tatiana Blass e Mônica de Aquino


• 11h45h - Mesa “O sim contra o sim”, com Ludmilla Ramalho e Gustavo Silveira Ribeiro, seguida de performance com Ludmilla Ramalho

DIZER SIM: POESIA, ALEGRIA E RESISTÊNCIA
Evento literário com mesas de debate, exibição de filme, aula aberta, leitura de poemas e performance, no Museu da Moda de Belo Horizonte (Rua da Bahia, 1.149, Centro). Desta quarta-feira (21/5) até sábado (24/5). Entrada franca. Informações pelo Instagram: @dizer.sim.

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