UM SÉCULO DE DOÇURA

Uma fantástica fábrica de doces: Lalka comemora seu centenário em 2025

A icônica marca de balas e chocolates abriu as portas da sua produção e mostrou o doce mundo em que vive a família fundadora desde 1925

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Há um século adoçando histórias de gerações de belo-horizontinos, a Lalka se tornou um verdadeiro símbolo da cidade. A história dessa fábrica não foi escrita pelo britânico Roald Dahl e muito menos em 1964, mas não por isso, ela deixa de ser fantástica. A fábrica de doces e chocolates ícone de Belo Horizonte foi, na verdade, fundada em 1925 pelo imigrante polonês Henryk Grochowski, e continua tendo sua trama narrada pelos descendentes dele.

Ao contrário do que escreve Dahl e do que mostra Tim Burton, em sua adaptação do clássico ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’, lançada em 2005, a fábrica de Belo Horizonte, por exemplo, não tem um lago de chocolate e nem é completamente automatizada. O cuidado e o olhar humano ainda estão presentes em praticamente todas as etapas de produção da Lalka, corroborando com o lema familiar de manter a qualidade independentemente de qualquer coisa.

Roberto Grochowski, neto do fundador da marca, conta que seu avô imigrou com os pais para o Brasil em busca de uma vida melhor, sem as invasões que seu país natal, a Polônia, sofria constantemente. Antes de vir, Henryk lia livros sobre a fabricação de bala e chocolate, mas não tinha referências dessa área na família, seu pai, por exemplo, era marceneiro.

O primeiro destino do polonês no Brasil foi o Rio de Janeiro, mas foi Petrópolis a cidade que abriu as portas do universo dos doces para Henryk. No município serrano, ele fez um curso de fabricação de doces que rendeu a ele, além do conhecimento, a amizade com o futuro dono da marca Garoto.

Naquele momento, cada um deles teve a ideia de fundar seu próprio empreendimento e o nome ‘Lalka’, foi escolhido por conta disso. A ideia inicial de Henryk era chamar sua marca de ‘Garota’, para combinar bem com a ‘Garoto’, mas, pensando em homenagear também seu país de origem, ele optou por ‘Lalka’, que significa ‘boneca’ em polonês.

Ao vir para Belo Horizonte para uma espécie de encontro de imigrantes, ele conheceu sua futura esposa. Depois disso, se manteve na capital mineira e, em 1925, fundou a empresa.

 


Sucessão

Os irmãos Henryk e Roberto Grochowski, da terceira geração da família
Os irmãos Henryk e Roberto Grochowski, da terceira geração da família Leandro Couri/EM/D.A. Press

Cerca de 25 anos depois, Henryk faleceu e seu filho Stanislau, ainda jovem, assumiu o negócio ao lado de sua esposa. Pensando em ar adiante a empresa familiar, Stanislau convocou os filhos homens para trabalharem no negócio. Henryk, Roberto e Arthur Grochowski aram a trabalhar com ele.

A criação dentro do mundo dos doces foi e continua sendo importante para o desenvolvimento de sucessores para a marca, que enfrenta desafios constantes próprios do setor alimentício e conseguem se manter fortes e qualificados no mercado.

A quarta geração já faz parte da sociedade: Roberto (filho de Roberto), Henryk e Bruno (filhos de Henryk) e Júlia e Luísa, filhas de Arthur – já falecido. Os rapazes atuam na empresa, mas as moças seguiram outros caminhos profissionais.

Henryk conta que trabalha na empresa desde os 15 anos e que, antes disso, já frequentava o local no período de férias. “Não sei o que faria se não tivesse a Lalka, ei minha vida inteira aqui”, conta.

Hoje, Henryk leva seus filhos, Bento e Manuela, para terem um pouco da experiência que ele teve na infância. “Falo com eles o que meu avô me disse a vida inteira, que a gente só aprende trabalhando”, comenta.

Ele destaca que, se os filhos não quiserem seguir o seu caminho na produção, está tudo certo, mas faz questão de que vejam que tudo é feito com amor e que tem muito suor por trás dessa doce história. Pensando no futuro do negócio, Bruno também mostra para seus três filhos, Davi, Heitor e Bruna, a empresa da família.

Roberto Grochowski, filho do também Roberto, é prova viva do ditado “bom filho, à casa torna”. Formado em odontologia, trabalhou por anos na área até que resolveu entrar de cabeça no negócio da família, que era o que lhe fazia bem. “Eu cresci no doce, fazendo as pessoas felizes, vendo as pessoas sorrindo, e não via isso na odontologia”, destaca.

Hoje, os membros da quarta geração são responsáveis pelas ideias inovadoras, mas contam sempre com a experiência e os pés no chão de Roberto e Henryk, membros da terceira geração. “Nós os respeitamos muito, sabemos que ainda temos muito a aprender, mas pensamos constantemente em como inovar ou melhorar nossa atuação”, destaca Roberto (filho), que diz ainda pensar em ampliar o número de reuniões entre os es e trabalhadores para crescerem ainda mais em vendas e produção.

Por outro lado, Roberto (pai) destaca a importância do diálogo em um negócio familiar. “É preciso ceder e abrir mão de algumas coisas”, diz.

 


No coração de Bh

Quem conta as histórias da Lalka não são apenas familiares por trás da marca, mas também clientes que cresceram com ela. Carlos Leoni, empresário de 44 anos, nasceu em São Paulo e conheceu a Lalka em 2007, quando ou a visitar a cidade por conta de sua namorada. A avó dela era quem tinha apresentado a marca à família. “A avó da minha namorada era consumidora assídua da Lalka, em datas comemorativas, sempre tinha a bala de maçã de sobremesa”, comenta.

Depois que se mudou para BH, ou a frequentar a loja e, um tempo depois, começou a apresentar os doces para suas filhas. “Hoje minhas filhas são a quarta geração de uma família consumidora de Lalka, que começou com a avó da minha esposa”, destaca.

Fera Carvalho, influenciadora de 43 anos, também é uma cliente cativa que lembra com carinho dos seus momentos com produtos da Lalka. “Lembro de quando ia a pé com minhas melhores amigas do Bairro Santa Tereza até o Floresta, nós nos sentíamos livres e adultas”, relembra.

Ela destaca que sua filha já adora a Lalka, e que sempre presenteia amigos e familiares com produtos da marca. “Para mim é um privilégio consumir um produto de Belo Horizonte de tanta qualidade”, destaca.

 


Histórias de balcão

Não é só no balcão do bar que se constroem histórias. Ao longo dos 100 anos de existência da marca, as gerações da família Grochowski já escutaram e viveram momentos especiais e inusitados no balcão da loja, onde ficam frente a frente com a clientela.

Roberto Grochowski, membro da terceira geração, por exemplo, conquistou o coração de sua esposa ali mesmo, no balcão da Lalka. Do chocolate que deu a ela, vieram mais anos juntos e ainda o filho, também batizado como Roberto. “De todos os casos de histórias no balcão, o que meus pais se conheceram é o mais especial. Eu só existo por conta daquele balcão”, ressalta Roberto (filho).

“É muito prazeroso escutar relatos de pessoas de várias idades”, comenta Henryk, que ainda lembra que muitos clientes mais velhos contam que pegavam o dinheiro do ônibus para gastar na Lalka e voltavam para a casa a pé depois da aula.

 


De olho na produção

O protagonismo da bala de maçã é inegável. Não por acaso, corresponde a 15% do total de vendas. O gosto do produto, azedinho na medida certa, pode não ser novidade para muita gente, mas o que está por trás de sua produção, certamente é. Lá no Bairro Floresta, na Região Leste de Belo Horizonte, se encontra a fábrica responsável pela produção desse e de tantos outros produtos, que fica bem atrás da tradicional loja da Lalka.


Famosa bala de maçã

A primeira etapa da produção da bala é o processo de cozimento, onde, além da mistura que forma a bala, são adicionados o corante e o aroma. A ‘massa’ atinge até 160º C e então é ada para uma bancada para o resfriamento.

Depois de um curto período de tempo ela é massageada e “sovada” por um profissional, que precisa utilizar um equipamento como luvas e avental para se proteger de queimaduras. Após esse procedimento, o produto é colocado em uma máquina que vai moldar um “fio” de bala, que será depois cortado em pequenos pedaços.

  

Esses pedaços am por uma esteira e chegam em uma grande peneira, que, ao ser chacoalhada, filtra retalhos de bala que não am pelo controle de qualidade. Quando estão já no formato previsto, as balas são dispostas em outra bancada de inox, onde precisam esfriar sem correr o risco de grudar umas nas outras, Por isso, elas não podem ser armazenadas em sacos logo após a produção.

Depois de resfriarem, são cobertas por uma fina camada de açúcar que dá um toque especial ao produto.

 


Licorzinho e chocolates

Os licorzinhos am pela cobrideira, onde são envolvidos com uma fina camada de chocolate
Os licorzinhos am pela cobrideira, onde são envolvidos com uma fina camada de chocolate Leandro Couri/EM/D.A. Press

Apesar de a marca ter sido reconhecida historicamente pelas balas e caramelos, como pontua Roberto Grochowski (pai), os chocolates sempre fizeram parte do catálogo de produtos e figuram, hoje, entre os produtos carros-chefes. Um dos sucessos é o licorzinho, composto por uma bala de licor com uma finíssima camada cristalizada e, por dentro, uma textura quase líquida, envolta em chocolate ao leite.

E chocolate para a família Grochowski é assunto sério. Por isso, além de não fazerem uso de nenhum conservante na composição dos doces, utilizam apenas quatro ingredientes na fabricação dos chocolates: o leite, o açúcar, a manteiga de cacau e o liquor de cacau (a massa de cacau pura).

Cada um desses ingredientes ficam armazenados em tonéis com temperatura controlada dentro da fábrica, para que sejam preservados da melhor forma possível. Todo o chocolate que usam a pelo processo de temperagem (que garante, brilho, consistência e textura ideais para o alimento), que, no caso, é feito por uma máquina.

Depois disso, ele já pode ser usado para cobrir bombons, como acontece com o licorzinho. Os doces am pela cobrideira, que os reveste de chocolate já temperado, e logo am por um túnel de resfriamento. Ao longo de toda a sua extensão, os doces são submetidos à temperatura de 2°C graus e, portanto, ao saírem da máquina, já estão na consistência ideal para o consumo, com uma camada de chocolate firme e consistente.

Quando a bala vira ingrediente

É impossível negar a importância de uma marca que atravessou gerações e que constrói, mesmo depois de anos de existência, tantos vínculos. A Lalka está presente em memórias especiais de muitos belo-horizontinos que nunca se esquecem dos momentos vividos com os produtos da marca, em especial a bala de maçã.

Três desses mineiros decidiram ir além e homenagear a marca em seus próprios cardápios. Pablo Gomide, sócio-proprietário da Picolé, Pedro Lobo, sócio-proprietário do Montê bar e Flávio Trombino, chef e proprietário do restaurante Xapuri, compartilham a iração pela Lalka e, mais ainda, pela bala de maçã.

Sabor de infância

Montê Bar criou um drinque em homenagem aos 100 anos da Lalka
Montê Bar criou um drinque em homenagem aos 100 anos da Lalka Montê Bar/ Divulgação

Por mais inusitado que possa parecer, a mistura do docinho e do azedinho da bala com o álcool, seja ele vodca ou cachaça, anda conquistando o paladar de belo-horizontinos. No Montê, um drinque com a bala de maçã da Lalka foi lançado este ano, em homenagem aos 100 anos da empresa. Composto por um xarope à base da bala, vodca, limão siciliano e albumina para dar uma espuminha, ele é equilibrado e, além de chamar a atenção do público pela curiosidade, tem colecionado clientes fiéis, que repetem o pedido.

“Como o drinque chama ‘Lalka 100 anos’, muitas pessoas também têm descoberto o centenário da marca aqui”, explica Pedro Lobo. Além do drinque, os caixas do bar também vendem a bala. “Quase todo mundo vai embora daqui com um pacotinho de bala de maçã”, comenta.

Um dos restaurantes mais clássicos da cidade não poderia deixar de homenagear esse produto que também é simbólico para BH. Por isso mesmo, o Xapuri faz um drinque que utiliza o xarope da bala de maçã, mas, nesse caso, ele ainda é misturado na cachaça.

Flávio Trombino explica que o drinque surgiu a partir de uma sobremesa feita em parceria com o chef mineiro Léo Paixão para um jantar que homenageou a capital mineira. “A ideia foi realmente homenagear esse ícone da gastronomia belo-horizontina, e os clientes adoraram”, ressalta Flávio, explicando o motivo do drinque permanecer no cardápio.

O chef conta que as memórias mais antigas que têm com a bala de maçã da Lalka são de quando tinha por volta de cinco anos e ia com seus primos ao cinema. “A memória afetiva dos clientes também é aguçada com o drinque”, destaca.

Combinação ousada

O picolé de bala de maçã da Lalka da Picolé agrada todos os públicos
O picolé de bala de maçã da Lalka da Picolé agrada todos os públicos Picolé/ Divulgação

Assim como Flávio Trombino e Pedro Lobo, Pablo Gomide, um dos sócios-proprietários da Picolé, quis resgatar um dos símbolos de BH dentro do seu empreendimento. Assim como faz em outros tantos sabores de picolés, ele prestou uma homenagem à marca de doces belo-horizontina por meio do sabor de bala de maçã.

Criado em 2023, o produto ainda é um dos grandes sucessos da marca. Hoje, ocupa o 6º lugar entre os mais vendidos, com cerca de 500 unidades comercializadas mensalmente. “Esse picolé atrai as crianças, por ser de bala, e os adultos, pelo fator nostálgico”, destaca Pablo.

O sucesso do produto, que mistura basicamente um xarope à base da bala com água, foi uma surpresa para o proprietário. “Os clientes são muito fiéis, podem ter resistência para experimentar mas depois sempre pedem mais”, ressalta, lembrando ainda que o sabor da bala Lalka já entrou nos clássicos do público mais idoso, ao lado de sabores como coco queimado.

Receita: drinque Lalka Especial, do Restaurante Xapuri

O drinque Lalka Especial, do Xapuri, se tornou um sucesso
O drinque Lalka Especial, do Xapuri, se tornou um sucesso @ideerdigital/Divulgação

 

 

Ingredientes

  • 100ml de xarope de bala de maçã da Lalka (bala diluída em água);
  • 30ml de suco de limão espremido;
  • 50ml de cachaça;
  • 60ml de água com gás;
  • 7 pedras de gelo e 1 rodela de limão.

 

 

Modo de preparo:

  • Em uma coqueteleira, adicione o xarope de bala de maçã, a cachaça, o suco de limão espremido e as pedras de gelo;
  • Bata vigorosamente por 10 segundos;
  • Despeje a mistura em um copo;
  • Finalize com os 60ml de água com gás e decore com uma rodela de limão na borda do copo.

Serviço

• Lalka (Floresta)


Av. do Contorno, 1875
(31) 3222-5439
De segunda a sexta, das 09h às 20h
Sábado das 9h às 19h
Domingo, das 10h às 18h

• Lalka (Savassi)


Av. Getúlio Vargas, 1599
(31) 3225-2699
De segunda a sábado, das 9h às 19h
Domingo, das 11h às 18h

• Lalka (Minas shopping)


Avenida Cristiano Machado, 4000
(31) 99081-6664
De segunda a sábado, das 10h às 22h
Domingo, das 11h30 às 21h

• Montê Bar


Praça Rui Barbosa, 104, Centro
(31) 98309-7265
Quarta, das 17h30 à 01h
Quinta, das 21h às 02h
Sexta e sábado, das 17h30 às 02h
Domingo, das 12h30 às 19h

• Xapuri


Rua Mandacarú, 260, Trevo
(31) 3496-6198 (WhatsApp)
De terça a sábado, das 11h às 22h
Domingo, das 11h às 17h


• Picolé (Funcionários)


Rua dos Aimorés, 141
(31) 98488-2387
De segunda a sexta, das 10h às 20h
Sábado e domingo, das 10h às 19h

• Picolé (Mercado Novo)


Av. Olegário Maciel, 742, loja 2082, Centro
(31) 98488-2387
Segunda e terça, das 11h às 18h
De quarta a sexta, das 11h às 22h
Sábado, das 10h às 22h
Domingo, das 10h às 18h

*Estagiária sob supervisão de Isabela Teixeira da Costa

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