
UFMG adota a seleção seriada para a graduação
Estudantes poderão concorrer a 30% das vagas com as notas de provas feitas por três anos. Ingresso pelo Sisu continua valendo
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Siga noUniversidade Federal de Minas Gerais (UFMG) começa a adotar o processo seletivo de avaliação seriada (PSAS) como forma de ingresso nos cursos de graduação. À nova modalidade, que vai coexistir com as formas já usadas, serão destinadas 30% das vagas, respeitando, também para elas, as normas da lei de cotas. A previsão é de que os primeiros aprovados dentro do novo modelo ingressem na instituição em 2028.
A partir de 2025 serão realizadas provas acerca do conhecimento de cada ano letivo do ensino médio, ou seja, alunos do 1º ano serão avaliados sobre o conteúdo visto naquele nível de ensino, e o mesmo se aplica ao 2º e 3º anos. O candidato escolhe o curso no qual quer ingressar na terceira e última fase do processo.
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Segundo a UFMG, essa modalidade apresenta a universidade aos alunos de forma gradual e permite que o candidato tenha duas possibilidades para ingressar na graduação a cada ano. A seleção seriada tem como público tanto estudantes do ensino médio quanto os candidatos egressos e também aqueles provenientes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) que tiverem concluído, a qualquer tempo, essa modalidade de ensino da educação básica.
“O processo vem sendo discutido há dois anos e foi muito pensado pela instituição com a participação de toda a comunidade, de forma coletiva. Serão três etapas, que podem beneficiar não apenas aqueles estudantes que estão hoje no ensino médio, mas também aqueles que já saíram e preferem fazer uma prova em etapas do que uma prova única no Enem”, explica Sandra Goulart, reitora da UFMG.
Atualmente, a UFMG oferta mais de 500 vagas fora do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), por meio do Vestibular de Habilidades, da Formação Intercultural de Educadores Indígenas (Fiei), da Licenciatura em Educação do Campo (Lecampo), de ofertas de vagas suplementares (para indígenas e refugiados) e de oferta pontual.
De acordo com a UFMG, o modelo de seleção seriada para cursos de graduação já é utilizado por mais de 20 universidades no Brasil, cinco delas em Minas Gerais, e apresentou resultados positivos. Segundo Goulart, dados avaliados pelo Conselho Superior indicam que “quanto mais você diversifica os processos seletivos de entrada na universidade, mais você inclui aquela pessoa que, por uma razão ou outra, não conseguiu entrar na universidade”.
Outro ponto importante da implementação da seleção seriada é a possibilidade de isenção (parcial ou integral) do pagamento da taxa de inscrição para candidatos em situação de vulnerabilidade socioeconômica, aponta texto divulgado no site da instituição de ensino.
REAÇÃO DE ESTUDANTES
O anúncio, apesar de recente, já repercute entre os interessados em investir em um curso superior. Melissa Mendes, de 18 anos, terminou o ensino médio em 2024, e pretende estudar para fazer o Enem pela segunda vez no fim deste ano. Para a jovem, a novidade é positiva: “Parece uma ótima ideia. Acho que vai até incentivar os alunos do ensino médio a estudar mais”.
Amanda Gonçalves, de 26, é formada em psicologia e está buscando uma nova formação, agora em fisioterapia. O plano também é estudar ao longo do ano para fazer a prova do Enem. Ela avalia que a proposta é mais interessante para estudantes que ainda estão no ensino médio, uma vez que quem já concluiu essa etapa da educação teria que se empenhar nos estudos por três anos, em vez de apenas um. Amanda acredita ainda que, com a diminuição de 30% das vagas, a concorrência via Sisu pode ficar mais acirrada “Na minha visão, para os alunos do ensino médio, vai ser interessante na medida em que eles vão se preocupar com o conteúdo só daquele ano. Porém, para a população em geral não vai ser tão benéfico, porque acho que vai aumentar a concorrência em cursos como medicina ou fisioterapia”, reflete a psicóloga.
CONTROVÉRSIAS
A proposta da avaliação seriada busca a diversificação nas formas de ingresso no ensino superior. Entretanto, os diretórios acadêmicos (Das) dos cursos de física, ciência da computação e sistemas de informação da UFMG se posicionaram nas redes sociais apresentando preocupações sobre o novo sistema.
Os DAs avaliam que a proposta é “baseada em achismos” e parece “mais uma aposta do que uma solução segura”, alegando que a universidade não apresentou estudos que comprovem a eficácia do PSAS. Além disso, argumentam que a modalidade poderia prejudicar aqueles que estudam em escolas que não oferecem uma preparação adequada ou que am por algum problema pessoal ao longo dos três anos do ensino médio.
“O tempo de espera é mais longo, não sabemos se vai funcionar, e o modelo pode ser mais prejudicial para quem já enfrenta dificuldades no ensino. Sem falar no custo de implementar tudo isso em um momento de crise financeira nas universidades”, diz a publicação.
Sobre a afirmação de que o processo seletivo privilegiaria alunos de escolas particulares, a reitora da UFMG garante que não procede. “O PSAS vai respeitar todos os parâmetros da lei de cotas, ou seja, 50% dessas vagas serão destinadas automaticamente para a escola pública. Não tem como mudar esse cenário”, garantiu Sandra Goulart. “Essa proposta vai frutificar uma maior aproximação com a escola pública e favorecer que as pessoas se preparem de antemão para estar na universidade”, completa.
O Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte e Montes Claros (APUBH) também se manifestou a respeito do tema. Em 24 de janeiro, a diretoria da APUBH solicitou a expansão do debate a respeito do novo processo seletivo na comunidade acadêmica. Ontem, o sindicato anunciou a realização de uma reunião interna para fazer uma “avaliação cuidadosa do processo” antes de apresentar nova manifestação sobre o tema.
COMPLEMENTAÇÃO
O processo de seleção seriado foi criado pela Universidade de Brasília (UnB), em 1995, como alternativa ao vestibular para a instituição. O objetivo era integrar a educação básica à superior para promover melhorias na qualidade do ensino. Tiago Coelho de Souza, professor e decano de graduação da UnB declarou que avalia a adoção do método pela UFMG como um acerto. “A ideia não é substituir o Enem, o método PSAS é uma maneira de complementar o exame”, explica. Para o professor, a inclusão do método amplia a matriz de ingresso na universidade: “O cenário é complexo, assim como o perfil dos alunos. Quanto mais processos seletivos mais fácil fica de buscar números plurais”
Além de melhorar a inclusão, segundo Tiago, o método acompanha o desempenho progressivo do aluno e permite um diagnóstico melhor do processo de aprendizagem, já que a prova única consegue pegar só um recorte do cenário total. “Outra questão é que essas vagas do PSAS garantem uma parcela de ingresso locorregional”, declara. Coelho narrou situações em que alunos do extremo norte ou do extremo sul ingressaram na Universidade de Brasília e acabaram desistindo da graduação por não se adaptar às diferenças socioculturais: “Ter uma mescla de alunos é a melhor opção. Como o Enem já garante a captura nacional de alunos, o método atende principalmente a alunos locais.”
Questionado sobre a possibilidade do PSAS modificar a rotina de estudos dos alunos do ensino médio, o decano explicou que acredita que o impacto seja o contrário. “O conteúdo da prova é só o daquele ano, ele não é cumulativo, e é informado previamente”, explica Coelho. Para ele, os métodos são diferentes tanto na aplicação quanto em seus objetivos: “Com a nota do Enem, você pode ingressar em universidades do mundo inteiro, o método PSAS é uma maneira de atender a uma universidade específica”.
Quanto à sensação de que o método tornaria o processo mais longo, o professor explica que o aluno do ensino médio já terá que completar aqueles três anos e realizar provas durante o período letivo. As notas serão acumuladas a cada ano concluído pelo aluno. “Aqui na UnB, ainda tem a questão dos pesos aumentarem proporcionais à quantidade de conteúdos cobrados. No primeiro ano, por exemplo, 16% da nota é acumulada. Já no segundo são 25%”.
Por fim, ele reforça que o método é um processo de crescimento, que precisa ser avaliado ao longo dos anos, pela própria universidade, aliado a um diálogo com os professores universitários e a educação básica.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho
NOVA PORTA DE ENTRADA
Confira o que é e como funcionará o processo seletivo seriado da UFMG
O QUE É
l A avaliação seriada é uma forma adicional de seleção de candidatos aos cursos de graduação, ao longo de três anos consecutivos, que propicia, por exemplo, que o candidato inicie o processo ainda no primeiro ano do ensino médio.
VAGAS
l Trinta por cento das vagas iniciais da UFMG serão preenchidas com base no processo seriado, sendo necessária a coexistência com outro modo de seleção, como o atual, com base no Enem. Assim, a universidade se apresenta para os estudantes do ensino médio de forma gradual e progressiva e propicia ao candidato duas alternativas para ar o ensino de graduação a cada ano. O Sisu e outras formas de ingresso seguem valendo.
l As normas da Lei de Cotas se aplicam também a essas vagas.
ETAPAS
l O candidato realiza a primeira etapa do processo seletivo no ano 1 e faz uma prova sobre o conteúdo do 1º ano do ensino médio.
l No ano seguinte (ano 2), o mesmo candidato habilita-se para a segunda etapa do processo seletivo e faz uma prova sobre o conteúdo do segundo ano.
l O chamado ciclo seriado se encerra quando, no ano 3, o candidato, finalmente, escolhe o curso de graduação em que planeja ingressar e participa da terceira etapa do processo.
l Um novo ciclo seriado é encerrado a cada ano, quando serão realizadas simultaneamente as três etapas do processo, cada uma delas pertencente a um ciclo diferente. O processo tem como referência os três anos do ensino médio para a organização dos ciclos de avaliação.
l O processo de seleção se aplica também aos egressos da EJA.
l Para ingressar na UFMG no primeiro período letivo de 2028 por meio da seleção seriada, o candidato deverá iniciar seu ciclo avaliativo já em 2025 e completá-lo nos dois anos seguintes (2026 e 2027).
Cronologia da decisão
2019 a 2021
Criada comissão do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) que avaliou os impactos da adesão da UFMG ao Enem e ao Sisu; ela conclui há possibilidade de aprimoramentos no processo seletivo e apresenta princípios norteadores para essas mudanças.
Maio de 2023
Ampla discussão é iniciada em reunião da Câmara de Graduação e da Comissão para Discussão e Elaboração das Políticas de Formação Inicial e Continuada de Professores da Educação Básica da UFMG (Comfic).
Junho de 2023
Em reunião ampliada da Câmara de Graduação, da qual participaram representantes dos Colegiados e Núcleos Docentes Estruturantes dos cursos de graduação, chefes dos departamentos acadêmicos, diretores de unidades acadêmicas, gestores de diversos setores da istração Central e os membros da Comissão, é apresentada a proposta de diretrizes e cronograma para avaliação dos processos seletivos de ingresso nos cursos de graduação da UFMG. O debate é levado ao Cepe, que aprova as diretrizes e o cronograma para discussão de proposta de processo seletivo de avaliação seriada.
Agosto de 2023
Conforme decisão do Cepe, é nomeado um grupo de trabalho (GT) para produzir estudo comparativo sobre possibilidades de processos seletivos de avaliação seriada e proposta de diretrizes para possível implementação de um processo do tipo na UFMG.
Realização de evento público com relatos de experiências de gestores da UnB e da UFJF, onde esse modelo de processo seletivo para a graduação é adotado há mais de duas décadas
Outubro de 2023
Inicia-se, no campus regional de Montes Claros, uma série de quatro audiências públicas, de outubro a dezembro, em todos os campi [veja links para as matérias publicadas no Portal UFMG ao fim deste texto], para apresentação e discussão dos resultados preliminares das análises e proposições elaboradas pelo GT.
Dezembro de 2023
Com base nos debates realizados nas audiências públicas, o GT finaliza o relatório estudo comparativo sobre possibilidades de processos seletivos de avaliação seriada e proposta de diretrizes para possível implementação desse processo na UFMG.
Fevereiro e março de 2024
Na Câmara de Graduação, ocorrem três reuniões para análise e discussão do relatório supracitado. Como encaminhamento, propõe-se elaborar documento que sintetiza propostas de diretrizes para implantação de processo seletivo de avaliação seriada na UFMG.
Abril de 2024
O Cepe analisa e se manifesta unanimemente favorável à proposta de implantação de um processo seletivo de avaliação seriada como forma adicional de ingresso nos cursos de graduação da UFMG. A proposta segue para análise e deliberação final pelo Conselho Universitário.
Agosto de 2024
O Conselho Universitário da UFMG debate amplamente a proposta e decide encaminhar o tema aos conselhos superiores das unidades da UFMG, para abrir oportunidades de novas discussões.
Agosto de 2024 a janeiro de 2025
As congregações debatem o assunto, manifestam-se de forma majoritariamente favorável à proposta e apresentam sugestões para seu aprimoramento.
Janeiro de 2025
O Conselho Universitário aprova proposta para implantação de processo de avaliação seriada na UFMG.
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