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Quem te viu, quem te vê: um tempo em que BH virava deserto no carnaval

Capital hoje tomada por blocos de rua foi por muitos anos considerada um lugar para se esquecer da folia, em uma época em que o Centro parecia uma cidade fantas

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A edição do Estado de Minas deste domingo (2/3) tem entre os destaques de sua capa informações relativas ao carnaval de Belo Horizonte, e nem poderia ser diferente diante da proporção que ganhou a festa na cidade. Porém, não muitos anos atrás a realidade era bem diferente. Antes de se tornar um dos destinos mais procurados no país durante a folia, a capital mineira carregou por décadas a fama de ser refúgio para quem não gostava de carnaval, e a prova estava nas ruas do Centro, que ganhavam na temporada carnavalesca características de uma cidade fantasma.

Uma arela que acompanhou os altos e baixos do carnaval belo-horizontino é a Avenida Afonso Pena, justamente o eixo mais importante da região central. Durante a maior parte do século ado, era por ali que desfilavam os blocos caricatos, principal atração da festa na cidade. Inclusive, era o que ainda mantinha a folia na rua. O restante do carnaval se resumia a bailes e festas em clubes fechados.

Até o fim dos anos 1980, a Afonso Pena foi palco também dos desfiles das escolas de samba da capital. A pioneira foi a Pedreira Unida, surgida na Pedreira Prado Lopes em 1938. A partir dela, muitas nasceram e estabeleceram uma cultura que dura até os dias de hoje, apesar das interrupções.

Em 1990, por exemplo, a folia belo-horizontina sofreu um significativo revés: aquele foi o último desfile na avenida, uma tradição interrompida depois que a prefeitura reduziu os investimentos nas escolas de samba.


Adeus ao samba

A partir de então, o clima em BH esfriou sem o calor delirante do carnaval. Foi só na virada do milênio que a folia em Belo Horizonte voltou, conforme noticiou o Estado de Minas em 4 de março de 2000, na reportagem “Avenida Afonso Pena renasce das cinzas”. Na ocasião, as escolas de samba Inconfidência Mineira e Mocidade Unida do Vera Cruz desfilaram, com a cara e a coragem, para relembrar os tempos de ouro do carnaval na cidade.

As outras escolas optaram por não desfilar devido ao pouco investimento público e ao tempo apertado para os preparativos. Na reportagem, o então vice-presidente da União das Escolas de Samba e Blocos Caricatos do Estado de Minas Gerais, Nassib Hassan, explicava que a prefeitura havia confirmado o festejo apenas 60 dias antes da data marcada. “E, por isso, avisa à população que a festa será bonita, mas não terá o mesmo brilho do tempo em que 15 escolas desfilavam com até 2 milhões de foliões”, noticiou o Estado de Minas.

Belo Horizonte-MG. Aspecto do desfile do bloco
Desfile de Arquivo EM - 21/2/1963

arela do sono

Mas a tradição dos desfiles das escolas de samba, então restabelecida, não foi suficiente para manter os belo-horizontinos perto de casa nos dias de folia. Tanto que anualmente, ao longo de toda a década de 2000, era noticiada a saga daqueles que buscavam escapar da cidade na véspera do carnaval.

Apenas na sexta-feira do feriadão de 2003, cerca de 155 mil pessoas embarcaram nos 1.650 ônibus que partiam da rodoviária da capital. “Grande parte dos veículos saiu em direção às cidades do litoral e aos municípios mais distantes do interior de Minas Gerais. O carnaval é o período de maior movimento concentrado da rodoviária, superando Natal e outros feriados”, noticiou o EM na edição de 1º de março de 2003.

A debandada dos belo-horizontinos durante a folia e a retirada dos desfiles das escolas de samba da Afonso Pena, transferidos em 2004 para a Via-240, fizeram com que a avenida ganhasse ares bucólicos no período carnavalesco. O trânsito intenso dos dias úteis e o movimento apressado dos pedestres davam agem, por quatro ou cinco dias, ao que era descrito em reportagens da época como “clima de cidade do interior”. A centenas de quilômetros dali, municípios como Diamantina, Ouro Preto e São João del-Rei ficavam de ponta cabeça com os milhares de turistas que se deslocavam para curtir a folia.

Em 26 de fevereiro de 2006, uma terça-feira, a matéria “Silêncio na capital” descreveu o que se ava naquele carnaval: “Enquanto as cidades históricas vivem dias de agitação, sob as graças do Rei Momo, a capital descansa do trânsito caótico, das filas, do barulho, da poluição e do estresse. Quem ou, ontem, pelas ruas da região Centro-Sul podia ouvir até canto de arinhos, ver grupos de amigos conversando nas praças, andar sem pressa e conhecer um pouco mais sobre a cidade”.

Três anos depois, outra reportagem, intitulada “Ilha de tranquilidade”, relatava a calmaria no Centro da capital em pleno sábado de carnaval, depois do tumulto que tomou conta dos arredores da rodoviária no dia anterior. “No sábado de carnaval, na Praça 7, onde circulam diariamente cerca de 1 milhão de pessoas, a Avenida Afonso Pena quase deserta e o pouco número de pedestres mostravam que a capital só deve retomar a agitação na quarta-feira. Até lá, BH manterá ares de cidade do interior”, noticiou o EM no dia 22 de fevereiro de 2009.


O bloco na rua

O turista que conheceu o carnaval de Belo Horizonte depois do ressurgimento dos blocos de rua talvez estranhe ao saber que, poucos anos antes, as ruas do Centro durante a folia eram praticamente desertas. Hoje, a Avenida Afonso Pena retomou ao status de outrora e ou a ser disputada pela organização dos blocos. Tanto que, este ano, a previsão é de que ao menos seis desfilem por lá nos dias de festejo, o que inclui alguns dos mais populares da folia, como o “Quando come se lambuza” e o “Chama o síndico”, este último desfilando antes do feriadão.

O movimento que deu início ao renascimento do carnaval de rua em BH data do início dos anos 2010, quando blocos surgidos de forma orgânica aram a se organizar por uma folia mais ativa na capital. Em 2011, o EM noticiou quando a Savassi se tornou parte da festa. “Dias de carnaval são tradicionalmente tranquilos na Savassi, Zona Sul de Belo Horizonte, mas ontem a história não se repetiu. Três blocos, com aproximadamente 300 pessoas, conforme cálculos dos organizadores, percorreram as ruas do bairro arregimentando foliões a cada quarteirão, dando pistas de que a fama de carnaval desanimado que a capital ostenta pode não durar para sempre”, publicou o EM no dia 7 de março de 2011.

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No ano seguinte, o Carnaval de BH ganharia os contornos do que é atualmente. Desfiles de blocos de rua na região central e também no bairro boêmio de Santa Tereza escancararam o desejo dos belo-horizontinos por uma festa digna do tamanho da cidade – e que, conforme dados da prefeitura, saltou de 500 mil foliões para mais de 5,5 milhões apenas entre 2013 e 2024. Desde então, as notícias em jornais de todo o país aram a frequentar, também, o carnaval de Belo Horizonte, que, em duas décadas, foi do quase esquecimento para uma das maiores festas populares do Brasil. 

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