PROLIFERAÇÃO

Infestação de caramujos africanos segue tirando a paz dos moradores de BH

Região do Barreiro sofre com hospedeiro de vermes. Especialista alerta para riscos a saúde e doença fatal

Publicidade
Carregando...

A infestação dos caramujos africanos segue sendo um pesadelo para os moradores da Região do Barreiro, em Belo Horizonte. “Entra na casa da gente. Às vezes três, quatro, cinco por dia”, conta o motorista Raimundo Nonato Rosa, de 52 anos. 

Ele mora em frente à Praça José Sobrinho Barros, no Bairro Diamante, e afirma ser comum encontrar os moluscos na pista de caminhada e em outros pontos do local. Raimundo já presenciou crianças coletando caramujos, correndo o risco de contrair doenças transmitidas pelo animal. 

“Aqui tem muito caramujo, por sinal grandes, principalmente na época de chuva”, relata. “As crianças não sabem o risco, costumam até pegar e juntar em cima de uma mesa ali”, completa.   

Em uma rua próxima, Maria de Lourdes Oliveira, luta como pode contra a infestação desde 2018. Em matéria publicada pelo Estado de Minas em 2023, a diarista contou que se sentia insegura devido ao risco de doenças e ao mau cheiro emitido pelo molusco e, por isso, coletava os caramujos para tentar exterminá-los. 

A diarista cuida de um espaço de preservação na frente de sua casa com a autorização da Prefeitura de Belo Horizonte. Há cinco meses buscou um casal de gambás no interior do estado e os soltou no terreno para que eles se alimentem dos moluscos. Apesar da melhora, ela ainda recolhe, com luvas, centenas de indivíduos toda semana. 

“Ano ado nessa época, não tinha nem como caminhar de tinha tanto caramujo, eles subiam até nos bancos. Diminuiu muito porque eu descobri que o único predador do caramujo é o gambá. Todo final de semana eu pego cerca de um saco de ração de 10 kg cheinho dos grandes, os miudinhos os gambás comem. Aí eu ligo para a Zoonose e o rapaz vem buscar”, conta Oliveira.

Maria de Lourdes também espalha sal no entorno da área de mata onde os caramujos se concentram para que não atravessem a rua e entrem nas casas ao redor. 

Terror das hortas

A infestação também tira a paz de Jovaci Alexandre de Campos, aposentado de 77 anos que mora próximo a uma mata no Bairro Teixeira Dias. Ele e um vizinho receberam autorização da PBH para cultivar uma horta comunitária no local que já conta com mamoeiro, bananeira, mandioca e ervas para chás. 

Porém, os caramujos invadiram a área cercada e acabaram com parte da plantação. Segundo ele, os animais foram encontrados inicialmente em um brejo próximo e, com o tempo, avançaram para outros pontos do bairro. Segundo ele, a PBH esteve no local fazendo uma vistoria no fim de 2024.

“Nós queríamos que aqui fosse um parque frutífero, mas os caramujos vieram tomando conta de tudo. A gente cata, junta, coloca sal, queima e assim vamos dando um jeito de combatê-os, mas a gente não dá conta”, lamenta o aposentado.

Início da infestação

Como mostrado na reportagem do Estado de Minas, a introdução dos caramujos africanos em Belo Horizonte se deu na década de 1980 como uma opção ao escargot francês. Entretanto, a iguaria não agradou o paladar local e o animal foi descartado de forma incorreta. 

A espécie se reproduz com rapidez e não possui predador natural no Brasil. Essa combinação levou ao aumento desenfreado da população. A criação dos caramujos foi proibida no Brasil em 2003, mas era tarde demais.

Risco para a população

De acordo com Hudson Alves Pinto, professor-adjunto do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os animais foram introduzidos na Região Sul do Brasil no final da década de 1980 como uma opção ao escargot francês, mas é difícil traçar uma rota exata de como chegaram a Belo Horizonte. A iguaria não foi bem recebida e os caramujos foram descartados de forma incorreta. “Ele se adaptou bem às condições climáticas no Brasil e não tem predador natural, então se reproduziu rápido”, explica.

O professor alerta para os riscos à saúde, já que o caramujo africano representa riscos para os seres humanos e animais domésticos, como cães e gatos. O animal é hospedeiro de helmintos Angiostrongylus cantonensis, que são vermes causadores da meningite eosinofílica (angiostrongilíase cerebral), uma doença grave e sem tratamento, que pode levar à morte, e também da angiostrongilíase abdominal, que é mais comum e possui tratamento. “É necessário ter cuidado, já existem registros de casos fatais no Brasil.”

Com o período de chuvas a situação fica ainda mais grave, já que o clima úmido é propício para o animal. O professor recomenda que os moradores tenham atenção com a limpeza dos quintais. “evitar deixar o quintal sujo, com material orgânico, e entulho. Ele adora locais sombreados para se esconder”, destaca.

Hudson Alves explica que a solução é responsabilidade da prefeitura, que deve mandar equipes capacitadas para a coleta e incineração desses animais. “O contato com o muco expelido por eles é arriscado, é onde estão as larvas dos vermes, que também podem contaminar a água. O ideal é que a remoção seja feita por profissionais capacitados, mas se os moradores não tiverem outra opção, o ideal é fazer o contato com o uso de luvas e descartar o animal. Não recomendo o uso de gambas por exemplo,  já que trazer um animal silvestre para o seu quintal também não é seguro.”

A reportagem procurou a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) que informou em nota que equipes de zoonoses (doenças infecciosas transmitidas entre animais e pessoas) irão retornar aos endereços informados para avaliar a situação e tomar as medidas necessárias, mas a última vistoria foi realizada no final de março. O executivo explicou que recebe pedidos de vistorias, principalmente de moradores das regionais Barreiro e Pampulha.



No que se refere ao controle do caramujo, a orientação da PBH é fazer a catação manual dos animais e dos ovos, com as mãos protegidas com luvas ou sacos plásticos. Este procedimento pode ser realizado nas primeiras horas da manhã ou no início da noite, horários em que os caramujos estão mais ativos.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia


A recomendação é que os animais e ovos recolhidos sejam colocados em um recipiente, como balde ou bacia, e submersos em solução preparada com uma parte de hipoclorito de sódio (água sanitária) para três de água. Após 24 horas de imersão, a solução pode ser dispensada e as conchas devem ser colocadas em um saco plástico, para descarte. Os moluscos também podem ser esmagados e cobertos com cal virgem, armazenados em recipientes fechados. A lavagem das mãos após os procedimentos é fundamental, podendo ser realizada com sabão comum.

 *Estagiária sob a supervisão do subeditor Humberto Santos

Tópicos relacionados:

barreiro bh caramujos caramujos-africanos pbh

e sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os os para a recuperação de senha:

Faça a sua

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay