Doenças respiratórias pressionam atendimento nas UPAs de BH neste feriado
Com centros de saúde fechados no Dia do Trabalhador e explosão de casos de doenças respiratórias, unidades de pronto-atendimento registram movimento intenso
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Siga noO feriado do Dia do Trabalhador, nesta quinta-feira (1º/5), começou com movimento intenso nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de Belo Horizonte. Com os centros de saúde fechados e a cidade enfrentando um crescimento acelerado nos casos de doenças respiratórias, pacientes buscaram as UPAs em meio a um cenário que já pressiona a rede pública e acendeu o alerta das autoridades. Nas últimas semanas, a capital quase dobrou o número de queixas respiratórias, o que levou a Prefeitura de BH (PBH) a decretar situação de emergência na saúde pública.
Na porta da UPA Leste, no Bairro Vera Cruz, o movimento começou cedo. Logo nas primeiras horas da manhã, o entra e sai de pacientes não dava trégua e a recepção já estava cheia de famílias em busca de atendimento. Entre elas estava Raiane Rodrigues Lana de Jesus, de 19 anos, moradora do bairro Jonas Veiga.
Ela decidiu sair de casa cedo ao perceber que o irmão mais novo, de apenas 3 anos, respirava com dificuldade e não comia direito desde o dia anterior. “Ele está com febre há dois dias, sem comer, tossindo muito, respirando com dificuldade”, disse. Alarmada, a jovem decidiu levá-lo direto à unidade, em vez de esperar o posto de saúde reabrir após o feriado.
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Na consulta, a médica descartou um quadro grave, mas recomendou cuidados com a hidratação e a respiração. “A gente achou que era início de uma bronquiolite, porque ele tem bronquite. Mas a médica disse que era só um resfriado. E que se persistisse a febre por mais dois dias, era para retornar com ele”, contou à reportagem.
Raiane ou pouco mais de 40 minutos dentro da unidade, mas, segundo ela mesma, “só porque chegou cedo”. Quando deixou a sala de atendimento, por volta das 10h, momento em que conversou com a reportagem do Estado de Minas, a movimentação na porta já era visivelmente mais intensa. “Espero não ter que voltar”, disse.
A experiência de Raiane se repete por toda a cidade. Apesar não tenha sido registrado superlotação ou filas extensas nas UPAs nesta quinta, o movimento intenso observado em unidades como a Leste e a Nordeste, visitadas pela reportagem, é um reflexo do cenário de escalada das doenças respiratórias, que levou a cidade a decretar situação de emergência nessa quarta-feira (30/4).
Só em abril foram mais de 63 mil atendimentos por sintomas respiratórios, um salto de quase 50% em comparação com março, que teve pouco mais de 42 mil registros. A curva ascendente dos casos afeta principalmente crianças, que historicamente concentram a maior demanda por internações durante o pico de circulação de vírus respiratórios.
Crianças pequenas são as mais afetadas
Entre os dias 20 e 26 de abril foram feitas 196 solicitações de internação para crianças menores de 1 ano, número quase três vezes maior que o registrado na última semana de março, quando houve 69 pedidos. Também aumentou a procura por leitos para crianças de 1 a 4 anos: de 50 para 82 no mesmo período.
A explosão de casos obrigou a PBH a decretar situação de emergência em saúde pública, medida válida por 180 dias, que permite agilizar contratações e a abertura de novos leitos. “Estamos vivenciando um aumento na gravidade dos casos, especialmente entre as crianças. Por isso, nossas ações estão voltadas para abertura de leitos pediátricos e reforço do atendimento infantil”, afirmou o subsecretário municipal de Atenção à Saúde, André Menezes.
Na última sexta-feira (25/4), a PBH já havia anunciado a abertura de dez novos leitos pediátricos no Hospital Odilon Behrens, no Bairro São Cristóvão, Região Noroeste da capital. A promessa de dobrar essa capacidade, feita na ocasião, foi cumprida nos dias seguintes. Outros dez leitos também foram disponibilizados no Hospital da Baleia, como parte do Plano de Enfrentamento das Doenças Respiratórias, que é ativado de forma gradativa, conforme o avanço dos casos e a pressão sobre o sistema de saúde.
Somente de janeiro a abril deste ano, 187.058 pessoas foram atendidas com queixas respiratórias em BH. Na prática, esse volume se traduz em pronto-atendimentos movimentados, profissionais da saúde sobrecarregados e famílias angustiadas diante de sintomas que insistem em não ar.
E a população já sente efeitos dos serviços de saúde lotados. Ontem, também na UPA Leste, a reportagem conversou com Valéria Barbosa Oliveira, que esperava por atendimento para o neto, com febre alta. No dia anterior, ela tentou a unidade de Venda Nova, sem sucesso, e só conseguiu atendimento horas depois, à noite, na UPA São Benedito, em Santa Luzia. “Está muito cheio. Ontem (terça-feira) tentamos atendimento em Venda Nova, não conseguimos. Fomos para o São Benedito, em Santa Luzia, e só fomos atendidos às 21h”, contou.
A pressão não se limita ao setor público. A rede privada também registra aumento na demanda. Dados da Unimed-BH indicam crescimento de 65% nos atendimentos de urgência a idosos entre 13 e 26 de abril. As internações hospitalares dessa faixa etária aumentaram 32%.
Doenças respiratórias avançam também na Grande BH
Com o decreto de emergência em saúde pública publicado nessa quarta, a PBH pretende ganhar agilidade para enfrentar o avanço das doenças respiratórias. A medida permite ao município receber rees extras dos governos federal e estadual, contratar mais profissionais da saúde, ampliar o horário de funcionamento das unidades, abrir novos serviços de atendimento e acelerar a compra de insumos, medicamentos e equipamentos.
Uma das ações já colocadas em prática é o reforço de pediatras nas UPAs, unidades que contavam com dois especialistas no plantão noturno e agora am a ter três. A capital não é a única cidade mineira a adotar medidas emergenciais. Betim e Contagem já haviam decretado emergência nos dias 16 e 28 de abril, respectivamente.
Agora, o estado de Minas Gerais também deve seguir o mesmo caminho. O secretário estadual de Saúde, Fábio Baccheretti, informou nessa quarta que o executivo prepara um decreto para facilitar a abertura de leitos e a liberação de recursos emergenciais.
“O governo federal tem um recurso emergencial para a abertura de novos leitos de CTI e o estado tem para abertura de leitos clínicos de enfermaria. Para ar esses recursos extraordinários, é necessário o decreto de emergência”, explicou em coletiva de imprensa sobre a ampliação do Programa Nacional de Triagem Neonatal em Minas, mais conhecido como teste do pezinho.
Como resposta à crise, tanto o governo estadual quanto a PBH decidiram ampliar a vacinação contra a gripe para toda a população acima de seis meses de idade. A campanha, que começou em 31 de março, foi reforçada com mais postos e distribuição do imunizante em todos os 153 centros de saúde da capital, além de sete unidades extras. Até o momento, já foram aplicadas mais de 202 mil doses em BH. No entanto, a cobertura vacinal segue baixa: apenas 24,1% do público-alvo – crianças pequenas, idosos e gestantes – está vacinado.
Fiocruz alerta para vírus sincicial e influenza
Os dados mais recentes da Fiocruz confirmam o que os hospitais já sabem de cor: o vírus sincicial respiratório (VSR) está em alta e provocando casos graves de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças pequenas. A instituição também aponta o início de uma nova frente de preocupação: a alta de internações por influenza, especialmente entre idosos.
Segundo a pesquisadora Tatiana Portella, o VSR está pressionando os serviços desde o fim de março, e agora começa a crescer também o número de hospitalizações por influenza A. “Em Minas ainda não há alta expressiva de internações por influenza, mas o crescimento dos casos em crianças por VSR já é bastante preocupante”, disse nessa quarta-feira (30/4) em entrevista ao Estado de Minas.
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Belo Horizonte aparece entre as 18 capitais com incidência de SRAG em nível de alerta, risco ou alto risco, de acordo com o boletim InfoGripe. “O alerta em BH se deve ao aumento de SRAG nas crianças. É o início da temporada de influenza, então a tendência é que os casos graves continuem aumentando”, avalia Tatiana.
(Com informações de Mariana Costa)