A caminho do pico, surto dispara internações em BH
Hospitalizações de pacientes com síndromes gripais graves crescem quase 20% em uma semana. Entre crianças, percentual chega a 40%
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Siga noA temporada das doenças respiratórias mantém a pressão sobre o sistema de saúde de Belo Horizonte e, em uma semana, já provocou uma alta de 40% no número de hospitalizações de crianças menores de 1 ano, segundo dados do de Síndromes Respiratórias, da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). No total, a cidade registrou uma elevação próxima de 20% nas internações gerais no período, cenário que deve seguir até o fim deste mês.
De 15 de maio até quarta-feira (21/5), Belo Horizonte contabilizou 429 novas hospitalizações por doenças respiratórias, um incremento de 18,5% em relação à semana anterior, entre 8 e 14 de maio, quando foram registrados 362 casos. As crianças com até um ano de idade representam quase um quarto desse total, com 105 internações em apenas sete dias. Entre os idosos, o grupo mais suscetível a complicações graves, houve um aumento mais discreto, de 5,8%, embora continuem concentrando a maior parcela dos internados: 181 casos no mesmo intervalo.
O mês de maio já acumula 1.148 hospitalizações por SRAG na capital mineira, conforme dados parciais até o dia 21, contra as 792 internações de abril. Ao longo do ano, o total chega a 2.725, com 195 óbitos. Esse padrão de crescimento se repete em todo o estado. De acordo com o da SES-MG, as internações cresceram 50,7% entre 1º e 21 de maio, na comparação com os números do mesmo intervalo do mês anterior. A SRAG abrange casos de síndrome gripal (SG) que evoluem com comprometimento da função respiratória. As causas podem ser influenza, COVID-19 e o sincicial, entre outros vírus respiratórios.
O avanço das internações confirma a tendência de que Belo Horizonte se aproxima do pico de incidência das doenças respiratórias, como antecipou o secretário municipal de Saúde, Danilo Borges. Em coletiva realizada na semana ada, ele destacou que a curva ainda está em ascensão e que o ponto máximo de casos deverá ser alcançado em breve. “Nos próximos 15 dias devemos atingir o pico, ou seja, o número máximo de demanda por atendimento de doenças respiratórias”, afirmou o secretário em 15 de maio.
Em declarações anteriores, Borges já havia alertado que a pressão sobre o sistema de saúde se manteria elevada ao longo de todo o mês de maio, com expectativa de alívio apenas a partir de junho, quando as condições climáticas se tornam menos propícias à circulação de vírus respiratórios. “A projeção é de aumento da demanda durante todo o mês de maio”, reiterou na época. A capital foi a terceira cidade a decretar situação de emergência sanitária devido ao agravamento das doenças respiratórias — status que, até o momento, já foi adotado por 26 municípios em Minas Gerais.
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Como parte da resposta emergencial, a prefeitura reforçou o plantão pediátrico nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e ampliou a oferta de leitos infantis. Foram abertos 43 novos leitos, sendo 20 no Hospital Odilon Behrens, 10 no Hospital da Baleia e outros 13 no Hospital das Ciências Médicas. Ao todo, mais de 40 leitos também foram disponibilizados recentemente na capital mineira pelo Executivo estadual, em uma tentativa de fortalecer a rede hospitalar da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) durante o período crítico de circulação de vírus respiratórios.
Além da expansão da capacidade hospitalar, a prefeitura colocou centros de saúde com funcionamento especial aos sábados, destinados exclusivamente ao atendimento de pacientes com sintomas leves, como tosse, coriza, dor de garganta e febre baixa. Esses centros, que operam das 7h às 19h, estão distribuídos pelas regionais Barreiro, Venda Nova, Oeste, Norte e Nordeste, áreas que, juntas, concentram aproximadamente 65% da demanda por consultas do tipo. Além dos atendimentos clínicos, essas unidades também estão aplicando vacinas contra a gripe.
Vacinação
Com pronto-atendimentos lotados e leitos abertos às pressas, a vacinação contra a gripe se confirma como uma das principais estratégias para evitar complicações e conter a escalada das internações.
No entanto, os índices de cobertura vacinal ainda estão distantes da meta de 90% estabelecida pelo Ministério da Saúde para os grupos prioritários. Até o momento, Belo Horizonte aplicou mais de 571 mil doses, sendo que aproximadamente 283 mil foram istradas nos públicos-alvo: crianças de 6 meses a 5 anos incompletos (22,8%), idosos com 60 anos ou mais (49,2%) e gestantes (22,9%). O índice geral de cobertura vacinal na capital está em 42,4%.
A própria prefeitura reconhece que o percentual de imunização está aquém do esperado, especialmente em um contexto de aumento expressivo das internações. Embora a vacina não impeça a infecção, ela reduz significativamente o risco de evolução para quadros graves, diminuindo assim a necessidade de hospitalizações e as possibilidades de óbitos. “Tivemos um avanço com as ações do Dia D de vacinação contra a gripe e com a abertura de cinco centros de saúde no último sábado, mas a adesão ainda está abaixo do esperado”, destacou a subsecretária de Promoção e Vigilância à Saúde, Thaysa Drummond, em comunicado do Executivo municipal. Anteontem (21/5), a prefeitura levou a vacinação para a Estação Santa Efigênia, na Região Leste, onde mais de 550 doses foram aplicadas.
Sobrecarga acumulada
A sobrecarga das unidades de saúde, no entanto, não é um fenômeno novo para os profissionais que atuam na linha de frente. O diretor de Pesquisas e Projetos do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), Arthur Oliveira Mendes, ressalta que a superlotação e a pressão sobre as equipes são realidades constantes, que se intensificam durante os períodos de sazonalidade, agravadas pela limitação no número de profissionais. Ele alerta que o subdimensionamento das equipes compromete a segurança da população. “Nós temos um agravamento, essa situação não é uma novidade. Mas é um agravamento de uma situação que vem sendo denunciada já há muito tempo”, afirma.
Mendes critica a política adotada pelo poder público, que frequentemente opta por reduzir o quadro de profissionais fora dos períodos críticos, especialmente na pediatria, em vez de manter ou ampliar a estrutura para responder com agilidade aos picos de demanda. “Não pode, porque nos momentos em que a gente mais precisa, uma contratação rápida não acontece. E para aquela pessoa que chega doente, não importa muito se a prefeitura está fazendo estudos e que vai avaliar novas contratações”, aponta. Para ele, essa estratégia de enxugamento é extremamente arriscada, pois fragiliza a capacidade de resposta do sistema exatamente quando mais se necessita, como ocorre agora, com a explosão das doenças respiratórias.
No Brasil
A nova edição do Boletim InfoGripe da Fiocruz alerta que a influenza A segue em franco crescimento na maior parte do país, especialmente na região Centro-Sul, mas também em diversos estados do Norte e Nordeste. Divulgada ontem (22/5), a análise ainda aponta para aumento de casos, em diversos estados, SRAG por Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que mantém impacto expressivo nas hospitalizações de crianças de 2 a 4 anos e na mortalidade até os dois anos.
A atualização do boletim é referente à semana epidemiológica 20, período de 11 a 17 de maio. Os dados reforçam que influenza A segue sendo a principal causa de mortalidade por SRAG em idosos e uma das três principais causas de óbitos por SRAG entre as crianças. Por outro lado, a análise indica que no Distrito Federal e em alguns estados, como Goiás e São Paulo, o crescimento de VSR tem desacelerado, porém em patamares ainda muito altos de incidência.
Pesquisadora do Programa de Computação Científica da Fiocruz e do InfoGripe, Tatiana Portella ressalta que as pessoas devem estar com a caderneta de vacinação em dia. “Todas as faixas etárias podem se beneficiar da vacina. Quem não faz parte dos grupos prioritários, e se seu município ampliou a vacinação para toda a população a partir de 6 meses, aproveite também para se vacinar”, orienta a pesquisadora. “No mais, está mantida a recomendação de uso de máscaras em locais fechados, com maior aglomeração de pessoas e dentro dos postos de saúde. Assim como a manutenção de medidas de etiqueta respiratória”.
Estados e capitais
Em nível nacional, observa-se aumento de SRAG tanto nas tendências de longo quanto de curto prazo. Esse cenário está relacionado ao crescimento dos casos de SRAG por influenza A e VSR em diversos estados do país. Vinte das 27 unidades federativas apresentam incidência de SRAG em nível de alerta, risco ou alto risco com sinal de crescimento na tendência de longo prazo: Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.
Com relação à SRAG por influenza A e VSR, o crescimento expressivo de casos, em níveis de incidência de moderado a muito alto, ocorre nos seguintes estado do Centro-Sul: Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina; do Norte: Acre, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins; e do Nordeste: Bahia, Ceará, Maranhão e Pernambuco. Até a SE 20, 16 das 27 capitais apresentaram nível de atividade de SRAG em alerta, risco ou alto risco (últimas duas semanas), com sinal de crescimento na tendência de longo. Belo Horizonte está na lista.
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Nas quatro últimas semanas epidemiológicas, a prevalência entre os casos positivos foi de 33,3% para influenza A; 0,9% para influenza B; 53,6% para VSR; 14,6% para rinovírus; e 2,3% para SAars-CoV-2 (COVID-19). Entre os óbitos, a presença destes mesmos vírus entre os positivos e no mesmo recorte temporal foi de 69,7% para influenza A; 1,3% para influenza B; 13% para VSR; 9% para rinovírus; e 8,1% para Sars-CoV-2 (COVID-19).