EM MINAS

Pobre Lutero, 95 teses não foram suficientes

A Bíblia como um documento não parece ser adequada como um material para o ensino de crianças e adolescentes

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A última empreitada da Frente Cristã na Câmara de Belo Horizonte foi aprovar um projeto que permite a leitura da Bíblia em escolas como material paradidático. Obviamente, os vereadores progressistas argumentaram pela inconstitucionalidade do texto com base no princípio da laicidade do Estado brasileiro. A Constituição garante a liberdade religiosa.

O projeto foi aprovado sob a justificativa de a Bíblia ser um material importante para o ensino de história, geografia, arqueologia, filosofia e cultura. Mas está longe de ser consenso entre os historiadores que os escritos podem ser lidos como relatos fidedignos dos tempos antigos.

Em artigo publicado pelo jornal da USP, o professor Marcelo Rede, do Departamento de História, explica que os textos bíblicos podem ser usados para estudar o antigo Israel (não o que conhecemos hoje), mas ainda impõem dificuldades “imensas ao historiador” por ser um conjunto extremamente diversificado e mesmo incoerente, fruto de um processo longo e mal conhecido.

A edição a que temos o deriva de manuscritos medievais que datam de mil anos depois de Cristo, enquanto os originais não existem mais. Segundo o historiador, a situação não é muito diferente do que sobreviveu da literatura antiga. Portanto, a Bíblia não pode ser descartada, mas é preciso reconhecer a condição documental e estudar o conteúdo com rigor técnico e crítico. “É preciso tratar a Bíblia como um ‘documento normal’. Nem mais, nem menos”, escreve o professor.

A Bíblia como um documento não parece ser adequada como um material para o ensino de crianças e adolescentes, uma vez que essa pedagogia não está entrelaçada ao rigoroso processo científico. Existem espaços mais adequados e exclusivos para esse tipo de ensino, onde os jovens são introduzidos ao conteúdo com a tutela de especialistas em teologia.

Agora, se ainda considerarmos o conteúdo cultural, geográfico e arqueológico, o Torá e o Corão precisam ser inseridos na equação. O cristianismo e o islamismo são religiões que floresceram na mesma região durante o auge da influência do Império Romano no Mediterrâneo. O judaísmo surgiu cerca de mil anos a.C, mas ainda assim era recente quando cristãos e muçulmanos compartilhavam o mesmo solo que os judeus.

O historiador Rui Tavares, ao falar sobre o filósofo muçulmano Al Farabi (870-950 d.C), explica que, na origem, as religiões eram confundidas entre si. Era difícil para os primeiros cristãos entenderem o que os diferenciava dos judeus, ou para os primeiros muçulmanos entenderem o que os diferenciava dos cristãos e dos judeus. São três religiões que partem das mesmas premissas: acreditar em um só Deus, acreditar na revelação por meio do Livro e aceitar o mesmo tronco inicial de profetas, começando com Abraão.

Não parece de interesse dos vereadores incluir essas leituras no material paradidático das escolas, mesmo com a riqueza cultural dessas religiões. Mas a questão não é nem a lei que foi aprovada, porque não é determinante. Seu segundo artigo deixa claro que os alunos não serão obrigados a participar das atividades. Mas a bancada cristã conseguiu pautar o debate público e capturar atenção. O projeto tramitava desde fevereiro de 2024, somente para votá-lo em segundo turno os parlamentares gastaram quase duas horas do plenário.

No Brasil, vivemos um processo perigoso de proselitismo, perdendo tempo enquanto os problemas reais estão em segundo plano. Somam-se a isso outras questões nas últimas duas décadas: a mercantilização e a espetacularização da fé. Alguns templos parecem verdadeiros shoppings, com restaurantes, lojas e até áreas VIP para influenciadores. Martinho Lutero (1482-1546), ao promover a reforma da igreja no século 16, pregava contra a venda de indulgências em troca da salvação eterna. Se estivesse vivo, o teólogo alemão talvez promovesse uma nova reforma contra a transformação da religião em mercadoria. Se bem que, na era digital, o fundador do protestantismo seria achincalhado nas redes antes de publicar outras 95 teses.

'Novo cangaço'

A semana em Minas começou com um ataque do chamado “novo cangaço” em Guaxupé. Uma agência bancária foi alvo de explosões, enquanto a sede da Polícia Militar também era atacada. Em 2021, o governador Romeu Zema (Novo) dizia que a criminalidade “não tinha vez” no estado, ao comemorar uma operação da PM que matou 26 suspeitos de integrar uma quadrilha semelhante. Agora, o governo voltou a ser alvo de críticas dos representantes das forças de segurança, que cobram uma recomposição salarial de 44,9%.


Vice fala em ‘reagir com força’

O vice-governador Mateus Simões (Novo) visitou a cidade no Sul de Minas, na quinta-feira (10/4). Ele “lamentou” o episódio, disse que as cidades mais próximas às divisas estão mais submetidas a ações de organizações criminosas, mas garantiu que o governo vai “continuar reagindo com força”. O vice ainda destacou que não houve vítimas no ataque e lembrou que já ocorreram prisões de suspeitos em São Paulo. “A gente tem certeza de que vamos chegar ao fundo disso para reestabelecer a tranquilidade que sempre reinou”, disse.


Falcão deixa o Novo

O novo presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Luís Eduardo Falcão, prefeito de Patos de Minas, no Alto Paranaíba, anunciou que vai deixar o partido Novo. Segundo ele, a decisão se deu para reforçar a independência da sua gestão em relação a questões político-partidárias e trabalhar com todos os prefeitos de maneira isenta. Falcão promete uma série de mudanças na entidade, como a mudança no estatuto para garantir eleições a cada dois anos e permitir que apenas prefeitos possam se candidatar. Ele toma posse em 7 de maio, durante o congresso da entidade, em Belo Horizonte.

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Deputada atingida

A deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG) foi atingida por bombas de gás e spray de pimenta durante a marcha do Acampamento Terra Livre, no gramado do Congresso Nacional, na noite de quinta-feira (10/4). Ela classificou o ato como repressão ao movimento indígena e violência política de gênero. A parlamentar mineira também afirmou que, mesmo se identificando, foi impedida de sair do local. Em nota, o Senado afirmou que o avanço dos manifestantes em direção à sede do Legislativo não era esperado. “A dissuasão foi realizada por meios não letais e a ordem foi restabelecida."

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