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DITADURA

Produtora de ‘Ainda estou aqui’, Daniela Thomas também viu o pai, Ziraldo, ser preso

Daniela revelou a dor e a revolta que sentiu: ‘Muita angústia. Mas ele saiu e o Rubens [Paiva], não.’

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A cineasta Daniela Thomas tem uma história entrelaçada com o enredo de “Ainda estou aqui”, filme do qual é produtora associada. Filha mais velha de Ziraldo, que morreu no ano ado, ela contou que o pai foi preso pela repressão por três vezes.

Ao receber ainda no ano ado a homenagem a Ziraldo no Prêmio Vladimir Herzog, de jornalismo e direitos humanos, Daniela contou como foi assistir às prisões sem poder fazer nada.

“Na primeira, colocaram ele numa solitária. Não sei se vocês podem imaginar o mais gregário dos homens sozinho por um mês, ouvindo o mar quebrar do lado de fora da janela do Forte Copacabana.”

Ao visitá-lo, Daniela achou que o pai tinha enlouquecido porque via formas e sombras nas paredes que ninguém via e só ficou mais tranquila quando elas se transformaram em desenhos.

A segunda prisão foi no Dops (Departamento de Ordem Política e Social):

“Ele, mais uma vez, me deixou preocupada, dizendo como era bom jogar mau-mau o dia inteiro ali. Que, quando saísse, ele ia nos ensinar, mas que era tão bom ficar jogando que, talvez, ele demorasse a sair dali. Eu fiquei novamente em pânico: ele estava preferindo a prisão a ficar conosco. As ideias de psicologia infantil do meu pai eram péssimas.”

A última prisão foi a mais assustadora. Homens armados de metralhadoras mandaram que ele fizesse uma mala para ir “depor”, que Daniela já sabia que significava “sumir, ficar encarcerado”.

“Eu me agarrei na cintura do papai, achando que eles não teriam coragem de nos separar, eu era apenas uma criança. Mas, mais uma vez, meu pai me decepcionou e me soltou com força, me machucando até. Fiquei muito brava, mas não adiantou nada. Eles o levaram e dessa vez não sabíamos para onde. E demorou muito tempo até que soubéssemos onde estava. Muita angústia. Mas ele saiu e o Rubens [Paiva], não.”

Daniela disse que, por muitos anos, achou que Ziraldo era “totalmente irresponsável” e não pensava na família.

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“Pensava! Me dei conta, muitos anos depois. Ele não aguentaria que nós crescêssemos num país brutal, injusto, ignóbil como aquele. Era muito por nós, pelo nosso futuro, que a gente enfrentava, cotidianamente, os bárbaros. E sim, pai, eu entendi.”

Agora, quase um ano depois da morte de Ziraldo, Daniela festejou, em Los Angeles, a vitória no Oscar.

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