x
VÍRUS DO BEM

Modificação genética permite que vírus seja herói ao combater tumor de pele

Uso de vírus oncolíticos é uma das grandes e mais promissoras novidades no tratamento do câncer de pele

Publicidade
Carregando...

 ‘Se não puder vencer seu inimigo, junte-se a ele’. O velho ditado que faz sentido na vida também vale para a ciência. É sabido que um vírus precisa de uma célula viva para se multiplicar. E alguns deles, como o herpes simplex (vírus do herpes), deixam seu material genético na célula hospedeira inativos por muito tempo (infecção latente), mas esperando a hora certa de causar doenças. Se é impossível vencê-los, talvez modificá-los e usá-los a favor de um tratamento possa ser uma boa opção. A ciência adequou o ditado popular com a ajuda da modificação genética para desenvolver os vírus oncolíticos.

“Esses vírus são organismos modificados geneticamente e projetados para infectar e destruir seletivamente apenas células cancerígenas. A sua relevância clínica cresceu muito nos últimos anos com diversos artigos mostrando a eficácia para o tratamento do câncer de pele mais agressivo, o melanoma. Nos Estados Unidos, é um tratamento padrão inclusive para metástases superficiais desse tipo de câncer de pele em combinação com imunoterapia, e é indicado pelas diretrizes americanas do NCCN (National Comprehensive Cancer Network)”, explica o oncologista de São Paulo e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Ramon Andrade de Mello.

“Não é só isso. Ao mesmo tempo em que ataca o tumor de pele, ele libera antígenos, uma pequena fração do tumor, que é apresentada às células de defesa, estimulando o sistema imunológico a reconhecer e combater o tumor”, completa o médico. Um exemplo bem-sucedido é o Talimogene Laherparepvec (T-VEC), um vírus derivado do herpes simples modificado para atacar células cancerígenas na pele. O tratamento ainda não está disponível no Brasil.

O melanoma é o tipo de câncer de pele mais agressivo, com alto risco de metástase se não for identificado precocemente. Segundo o médico, em termos clínicos, o tratamento com vírus oncolítico pode ser importante para a remissão da doença e até para evitar a recidiva, já que a liberação de antígeno tende a ser reconhecida pelo sistema imune, deixando-o mais ‘consciente’ e ‘atento’ a esse tipo de câncer.

“O T-VEC funciona infectando as células tumorais, se replicando dentro delas e, eventualmente, causando sua destruição”, diz o médico. “Os estudos clínicos demonstraram que pacientes com melanoma avançado tratados com vírus oncolíticos apresentam maior taxa de resposta ao tratamento e sobrevida prolongada quando comparados a terapias convencionais isoladas”, complementa o oncologista.

Um estudo recente também identificou que esse tipo de vírus modificado pode ser eficaz contra carcinomas basocelulares, a forma mais comum de câncer de pele. “Eles ocorrem em áreas cronicamente expostas ao sol, como o rosto, e representam cerca de 80% dos cânceres de pele. Apesar de muito mais frequente que o melanoma, eles são muito menos agressivos e altamente curáveis. Em raras circunstâncias, pode tornar-se inoperável ou até causar metástase. No entanto, dependendo de sua localização, a remoção cirúrgica pode causar uma limitação funcional”, explica a dermatologista, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-RESP) e doutora pela UNIFESP, Jade Cury.

“O fator principal ligado ao desenvolvimento do carcinoma basocelular é ambiental e não genético. A principal abordagem para esse câncer é cirúrgica, mas tumores localmente avançados podem ser difíceis de tratar cirurgicamente. E uma equipe de pesquisa da MedUni Vienna e do University Hospital Vienna investigou a eficácia do T-VEC para esses casos, com resultados muito interessantes: a substância levou a uma redução no tamanho do carcinoma basocelular em todos os participantes do estudo, o que não apenas melhorou a remoção cirúrgica, mas também levou a uma regressão completa do tumor em alguns dos pacientes”, explica Ramon Andrade de Mello.

Esse estudo é recente, de janeiro de 2025, e foi publicado no periódico Nature Cancer. Na pesquisa, cada participante recebeu seis injeções intralesionais de T-VEC durante um período de 13 semanas antes do tumor ser removido cirurgicamente. "Isso permitiu que o tumor fosse reduzido em tamanho em metade dos pacientes a tal ponto que a cirurgia com fechamento direto da ferida foi possível. Em um terço dos casos, o exame histológico subsequente nem mesmo mostrou mais células tumorais vivas. Todos os tumores tratados pelo menos ficaram menores, e nenhum tumor cresceu mais sob a terapia. O tratamento foi bem tolerado pelos pacientes, segundo o estudo", completa Jade.

O oncologista diz que os testes clínicos comprovam que a terapia é segura. “Quanto aos efeitos adversos, os mais comuns incluem febre, fadiga, dor no local da injeção e sintomas semelhantes aos de uma gripe. Em alguns casos, podem ocorrer reações inflamatórias intensas, exigindo monitoramento médico. Mas os pacientes melhoram desses sintomas em alguns dias”, diz o especialista.

A expectativa é que o tratamento chegue ao Brasil o mais rápido possível para proporcionar benefícios aos pacientes. “O uso de vírus oncolíticos representa uma revolução na oncologia, especialmente no combate ao câncer de pele, que frequentemente apresenta resistência a tratamentos convencionais. Ao combinar ação direta contra tumores com o estímulo à imunidade, essa abordagem pode transformar o prognóstico de pacientes com câncer avançado”, diz o especialista. “Acredito que os vírus oncolíticos têm o potencial de se tornar um pilar fundamental no tratamento do câncer, oferecendo uma alternativa inovadora e mais personalizada para milhares de pacientes ao redor do mundo”, diz Ramon.

Reconhecendo o inimigo

A Sociedade Brasileira de Dermatologia - Regional São Paulo (SBD-RESP) esclarece que o autoexame da pele pode ajudar a identificar o câncer em estágios iniciais. “Para o câncer de pele não melanoma, representado principalmente pelo carcinoma basocelular e pelo carcinoma espinocelular, orientamos ao paciente que se atente a lesões avermelhadas, róseas, que estejam crescendo, feridas que não cicatrizam, casquinhas que ficam persistentemente no mesmo lugar, lesões que sangram fácil”, reforça Jade Cury.

“No caso do melanoma, ele é normalmente uma lesão pigmentada, preta ou marrom. Para identificação, existe o critério ABCDE. O ‘A’ é quando a pinta fica assimétrica, não fica redondinha bonitinha. O ‘B’ é quando as bordas ficam irregulares. O ‘C’ é de coloração, quando tem muitos tons diferentes, com a pinta marrom, preto, azul e até cinza, ou quando ela muda de cor. O ‘D’ é diâmetro, quando ela começa a crescer ou se está grande. E o ‘E’ é a evolução, uma pinta que mudou e evoluiu”, completa o dermatologista, membro da SBD-RESP, Beni Grinblat.

“Além disso, é fundamental todo ano não esquecer de procurar o médico dermatologista para fazer um check-up da pele toda. Sempre observar a própria pele e das pessoas próximas como familiares e se notar algo suspeito, procurar antes o dermatologista”, aponta a presidente da SBD-RESP.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

Tópicos relacionados:

cancer-de-pele saude

e sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os os para a recuperação de senha:

Faça a sua

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay