Pretende engravidar no futuro? Dormir bem preserva suas chances
Má qualidade do sono pode acelerar redução da reserva ovariana, que indica a quantidade de óvulos disponíveis. Descoberta foi publicada em revista científica
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Siga noO sono é um dos pilares mais importantes da saúde humana, possuindo um impacto importante, por exemplo, na imunidade, no metabolismo, na produção hormonal e no sistema cardiovascular. Além disso, o sono também pode afetar as chances de gravidez, já que, segundo um estudo publicado em março na revista científica Fertility and Sterility, uma má qualidade do sono pode estar relacionada à diminuição da reserva ovariana.
“A mulher já nasce com todo o estoque de óvulo que terá durante a vida, sofrendo uma diminuição com o ar dos anos até se esgotar na menopausa, que marca o fim do período fértil e da capacidade reprodutiva da mulher. Essa reserva ovariana é definida geneticamente, mas pode diminuir de maneira mais veloz por uma série de razões, como uso de certos medicamentos, exposição à radiação, doenças e cirurgias ovarianas”, diz o especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, Rodrigo Rosa.
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E a qualidade do sono também parece acelerar essa redução do estoque de óvulos, segundo o estudo, que incluiu 1070 mulheres com idade entre 20 e 40 anos. As participantes responderam um questionário de Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) para avaliação da duração, latência e qualidade do sono, assim como possíveis distúrbios. Elas também realizaram ultrassonografia transvaginal para avaliar a contagem de folículos antrais (CFA) e exames de sangue para verificar os níveis dos hormônios folículo estimulante (FSH) e anti-mülleriano (AMH).
“Esses são os principais exames para verificar o estado da reserva ovariana. Mas o FSH não é tão confiável devido a sua alta oscilação dependendo do período da vida e da fase do ciclo menstrual. Já o AMH não apresenta variabilidade significativa entre ciclos”, detalha Rodrigo. “O ultrassom transvaginal é outra maneira de estimar a reserva ovariana por possibilitar a contagem de folículos antrais, que são responsáveis por armazenar os óvulos imaturos, que estão prontos para se desenvolverem naquele ciclo.”
Em seguida, as participantes foram divididas em dois grupos de acordo com a qualidade do sono e os resultados foram comparados levando em consideração fatores como idade e índice de massa corporal (IMC). Assim, os pesquisadores observaram que as mulheres com baixa qualidade de sono possuíam maiores níveis de FSH e menores índices de AMH em comparação com o grupo que possuía uma boa qualidade do sono.
“Quanto maior a reserva ovariana, maior é a concentração sanguínea de AMH. No caso do FSH, a relação é inversamente proporcional: altos níveis do hormônio indicam um menor estoque de óvulos”, explica o médico. Além disso, o grupo com baixa qualidade do sono apresentou menor contagem de folículos antrais, o que também aponta para uma reserva ovariana reduzida.
Os resultados indicam uma associação entre baixa qualidade do sono e diminuição da reserva ovariana em mulheres em idade reprodutiva. E essa associação foi consistente mesmo em grupos de diferentes idades e IMC. No entanto, o exato motivo pelo qual isso acontece ainda precisa ser elucidado, então mais estudos sobre o tema são necessários.
“Alguns possíveis motivos da relação entre sono ruim e fertilidade reduzida incluem: desequilíbrios no eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), que, entre outras funções, controla as reações ao estresse e, consequentemente, pode afetar a fertilidade; alterações nos níveis dos hormônios reprodutivos devido a desregulação do sono; ou, por fim, um comprometimento da imunidade devido a distúrbios do sono, o que também poderia prejudicar a fertilidade”, explica Rodrigo.
E o sono não deve ser uma preocupação apenas para mulheres que pretendem engravidar no futuro, por conta da reserva ovariana, mas também para aquelas que já estão tentando engravidar, pois a falta de sono pode comprometer a chance de gravidez.
“O sono é fundamental para o bom funcionamento da hipófise, glândula do cérebro responsável pela produção de uma série de hormônios, inclusive daqueles responsáveis pela estimulação dos ovários. Logo, quando o período de repouso é curto ou de pouca qualidade, essa glândula não funciona da maneira como deveria, o que interfere na fertilidade”, diz Rodrigo Rosa, que recomenda que o sono dure de sete a oito horas por noite.
Mas não basta dormir bastante, é preciso dormir bem. “Se, mesmo após sete ou oito horas de sono, os sintomas forem de cansaço e sonolência, pode ser que a qualidade do sono esteja ruim, sendo importante então investir em alguns cuidados para melhorar esse quadro, como exercitar a higiene do sono, que consiste em adotar uma rotina que avisará o cérebro que está na hora de dormir. Então tome um banho, coloque um pijama, cuide da pele, escove os dentes, apague a luz e deite-se na cama”, aconselha o especialista.
O médico ressalta que, caso os exames indiquem uma baixa reserva ovariana, ainda há chances. “Para conquistar a gravidez, só é necessário um óvulo bom. Mas, claro, quanto mais óvulos, maiores são as chances de encontrarmos óvulos bons. E vale lembrar que hábitos de vida, incluindo o sono, também podem afetar a qualidade dos óvulos”, complementa Rodrigo Rosa, que acrescenta que, caso o estoque de óvulos não seja tão grande, é recomendado buscar um especialista em reprodução humana.
“Se a mulher tem menos de 40 anos e está tentando engravidar por mais de seis meses, já é recomendado que ela procure um especialista em reprodução humana. Mas, se a mulher tem mais de 40 anos, o ideal é buscar opções de reprodução assistida imediatamente”.
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