
O negacionismo surrealista que atinge em cheio os patriotas da nação chegou aos píncaros com a instalação da MI dos atos terroristas de 8 de janeiro. O sujeito ou meses pedindo golpe de estado e intervenção militar. Militou pela derrubada do governo eleito. Tomou um busão e foi para Brasília acampar na frente do quartel.
Celebrou a tomada, ou tomou ele próprio, os prédios dos três poderes. Agora, veja só se isso não é uso de drogas, ele tem a certeza absoluta de que foi o Lula quem tramou tudo. Eis o píncaro dessa pica a nos lascar desde a mamadeira de piroca.
Demissionário do Corinthians, onde acabara de chegar, Cuca foi defenestrado por uns mas defendido com paixão por outros, fãs e jogadores – homens, naturalmente. Os argumentos em sua defesa são de um terraplanismo desanimador. Tomam o julgamento à revelia como prova de um processo injusto, quando na verdade ele só ocorreu dessa maneira porque Cuca e os outros três partícipes do estupro coletivo simplesmente fugiram, assessorados pelo governo brasileiro.
A entrevista indignada de Roger Guedes é uma peça para o museu do futuro. Diz o grande perito que nunca houve provas contra Cuca – perito e vidente, diga-se, já que o processo está até hoje sob segredo de Justiça. Intima a jornalista do Sportv Ana Thaís Matos a apresentá-las. Para Guedes, o sistema judiciário da Suíça vale tanto ou menos do que a Justiça Criminal, digamos, da Venezuela ou de Serra Leoa.
“O jeito que atacaram o Cuca foi desumano”, disse o atacante do Corinthians. Pelo visto e pelo dito, Cuca foi vítima de um estupro coletivo.
Também não merece crédito a revelação do UOL de que, segundo um advogado do caso à época, foi encontrado o esperma de Cuca nas partes íntimas da adolescente. Em seu exercício de macho-alfa, Roger Guedes deseja que Ana Thaís vá pessoalmente recolher as provas e o sêmen do Cuca em solo suíço. Certamente aguarda por confirmação, também, de que a Terra é redonda e o homem já pisou na lua. Não aceita outra coisa, por certo, a não ser a presença de um jornalista conhecido seu no parapeito do planeta.
Defesa mais razoável, vamos dizer, faz aqueles que citam a prescrição do crime: Cuca deve sofrer condenação perpétua pelo estupro praticado há 36 anos? O jurista Walter Maierovitch aponta dois caminhos para que tal prescrição se fizesse mesmo razoável: o arrependimento e a reparação, dois institutos éticos do Direito. Cuca nunca se arrependeu de nada. E nunca fez qualquer gesto de reparação, nem à vítima nem à sociedade. Nunca cumpriu a pena. Que se lasque, portanto, pelos próximos 100 anos.
Nesta semana, o negacionismo psicodélico deu-se também em reação ao tamanho da dívida do Atlético, revelada pelo balancete de 2022. Somado tudo que se deve, e eliminadas as tergiversações contábeis, o total ultraa os 2 bilhões de reais. Para salvar o Galo da suposta bancarrota, levaram o Galo à bancarrota. A culpa, naturalmente, foi do Kalil, o monstro das contrapartidas. O homem em formato de mamadeira de piroca. Tem bobo pra tudo, afinal.
O que se pode dizer ao atleticano que pensa ter sido salvo do apocalipse pela intervenção de quem se tornou credor? Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares que se faz mundo afora, a variar apenas o contexto e as personagens – ora o patriota do caminhão, ora o americano aterrorizado pelo fantasma do comunismo representado por Joe Biden. Como dizia o Zé Simão, vou ali pingar meu colírio alucinógeno. Espero voltar com a resposta.