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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Sobre o caso Cuca, tamanho da dívida e outros negacionismos 5j5g2

Demissionário do Corinthians, Cuca foi defenestrado por uns mas defendido com paixão por outros, fãs e jogadores - homens, naturalmente


29/04/2023 08:10 - atualizado 29/04/2023 08:13
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Técnico Cuca permaneceu uma semana no comando do Corinthians e dirigiu o time em apenas duas partidas
Técnico Cuca permaneceu uma semana no comando do Corinthians e dirigiu o time em apenas duas partidas (foto: RODRIGO COCA/CORINTHIANS - 21/4/23)

O negacionismo surrealista que atinge em cheio os patriotas da nação chegou aos píncaros com a instalação da MI dos atos terroristas de 8 de janeiro. O sujeito ou meses pedindo golpe de estado e intervenção militar. Militou pela derrubada do governo eleito. Tomou um busão e foi para Brasília acampar na frente do quartel.

Celebrou a tomada, ou tomou ele próprio, os prédios dos três poderes. Agora, veja só se isso não é uso de drogas, ele tem a certeza absoluta de que foi o Lula quem tramou tudo. Eis o píncaro dessa pica a nos lascar desde a mamadeira de piroca.

Pois bem, esta foi uma semana em que o futebol ajudou a ilustrar a peça dadaísta na qual estamos tristemente inseridos, com as consequências funestas já observadas. O caso Cuca é exemplar. Em 1989, então jovem jogador do Grêmio, foi condenado à revelia pelo estupro de uma menina de 13 anos na Suíça, crime ocorrido dois anos antes, do qual participaram outros três companheiros de clube.

Demissionário do Corinthians, onde acabara de chegar, Cuca foi defenestrado por uns mas defendido com paixão por outros, fãs e jogadores – homens, naturalmente. Os argumentos em sua defesa são de um terraplanismo desanimador. Tomam o julgamento à revelia como prova de um processo injusto, quando na verdade ele só ocorreu dessa maneira porque Cuca e os outros três partícipes do estupro coletivo simplesmente fugiram, assessorados pelo governo brasileiro.

A entrevista indignada de Roger Guedes é uma peça para o museu do futuro. Diz o grande perito que nunca houve provas contra Cuca – perito e vidente, diga-se, já que o processo está até hoje sob segredo de Justiça. Intima a jornalista do Sportv Ana Thaís Matos a apresentá-las. Para Guedes, o sistema judiciário da Suíça vale tanto ou menos do que a Justiça Criminal, digamos, da Venezuela ou de Serra Leoa.

“O jeito que atacaram o Cuca foi desumano”, disse o atacante do Corinthians. Pelo visto e pelo dito, Cuca foi vítima de um estupro coletivo.

Também não merece crédito a revelação do UOL de que, segundo um advogado do caso à época, foi encontrado o esperma de Cuca nas partes íntimas da adolescente. Em seu exercício de macho-alfa, Roger Guedes deseja que Ana Thaís vá pessoalmente recolher as provas e o sêmen do Cuca em solo suíço. Certamente aguarda por confirmação, também, de que a Terra é redonda e o homem já pisou na lua. Não aceita outra coisa, por certo, a não ser a presença de um jornalista conhecido seu no parapeito do planeta.

Defesa mais razoável, vamos dizer, faz aqueles que citam a prescrição do crime: Cuca deve sofrer condenação perpétua pelo estupro praticado há 36 anos? O jurista Walter Maierovitch aponta dois caminhos para que tal prescrição se fizesse mesmo razoável: o arrependimento e a reparação, dois institutos éticos do Direito. Cuca nunca se arrependeu de nada. E nunca fez qualquer gesto de reparação, nem à vítima nem à sociedade. Nunca cumpriu a pena. Que se lasque, portanto, pelos próximos 100 anos.

Nesta semana, o negacionismo psicodélico deu-se também em reação ao tamanho da dívida do Atlético, revelada pelo balancete de 2022. Somado tudo que se deve, e eliminadas as tergiversações contábeis, o total ultraa os 2 bilhões de reais. Para salvar o Galo da suposta bancarrota, levaram o Galo à bancarrota. A culpa, naturalmente, foi do Kalil, o monstro das contrapartidas. O homem em formato de mamadeira de piroca. Tem bobo pra tudo, afinal.

O que se pode dizer ao atleticano que pensa ter sido salvo do apocalipse pela intervenção de quem se tornou credor? Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares que se faz mundo afora, a variar apenas o contexto e as personagens – ora o patriota do caminhão, ora o americano aterrorizado pelo fantasma do comunismo representado por Joe Biden. Como dizia o Zé Simão, vou ali pingar meu colírio alucinógeno. Espero voltar com a resposta.
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