É importante estar sempre em alerta quanto aos sinais dados pela mente e pelo corpo para garantir uma boa saúde mental. De acordo com Lucas Bifano Mendes Brito, médico especialista em saúde pública, gestão e cuidados em medicina de família e comunidade e em psiquiatria, a pessoa, com quadros potenciais de estresse e demais distúrbios psicológicos e psiquiátricos, começa a se cobrar cada vez mais, a se sentir insuficiente, limitada, chorosa e desgostosa.
“Às vezes, aquele momento que seria bacana e prazeroso começa a gerar sofrimento. Ou uma pessoa que tinha o costume de fazer atividade física perde o interesse, ou faz sempre forçado, como um sacrifício, diferente do que era antes. Os sinais maiores são a relutância e limitação para fazer ou simplesmente deixar de fazer”, aponta. Esse autoconhecimento pode ser o início para que o corpo e a se sentir bem com cuidados e assistência adequados.
O próximo o é aceitar o problema e ter disciplina para cuidar da própria saúde e bem-estar, seja inserindo mais descanso, atividades de lazer e/ou contato com pessoas próximas. “Tudo isso em conjunto vai reduzir muito qualquer tipo de impacto negativo. Não podemos deixar que o isolamento cause malefício à saúde, temos a responsabilidade de cuidar dos outros, mas também de nós mesmos. Temos uma capacidade adaptativa muito grande, é adaptar a rotina a essa nova realidade”, afirma Lucas Bifano.

Outra dica importante é procurar ajuda profissional. “Entenda que nem sempre é possível resolver problemas sozinho. Um profissional é um aliado e tê-lo é ser inteligente e corajoso para buscar a melhora, seja dos quadros de estresse, ansiedade ou depressão. Ou todos eles juntos.”

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A comunicóloga social Jéssica Henschke, de 29 anos, sentiu todo esse estresse oriundo da pandemia e do isolamento social na pele. Ela, que sofre com transtornos de ansiedade e depressão desde a infância, viu a insegurança tomar ainda mais conta dos seus dias, e isso muito em função da incerteza sobre o futuro e da falta de controle sobre toda a situação. “Está sendo uma turbulência sem fim. Primeiro, o medo do vírus, da doença, a dor pelos amigos que se foram e o receio de a COVID-19 chegar ainda mais perto e acometer o núcleo mais íntimo da família e amigos.”
Depois, a saudade que o distanciamento social impõe. E, ainda, cada notícia trágica causa uma nova enxurrada de emoções. “Precisar sair de casa, nesse cenário, é desconfortável; por algumas vezes, inclusive, ei mal. E lidar com um corpo inteiro em pane é cansativo e custa tempo para normalizar, isso interfere diretamente na relação com as pessoas ao redor e com a produtividade, que reflete na vida financeira e social. É um círculo vicioso”, relata.
Para Jéssica Henschke, tudo ganhou um senso de urgência e de importância muito maior, desde entender que os números são pessoas, famílias e histórias até perceber a dimensão do que, de fato, está acontecendo no mundo. “Entendemos, então, o quanto somos pequenos diante disso tudo e que não controlamos nada, nem planos, metas, listas ou organizações. Nada disso nos garante absolutamente nada, já que algo quase invisível simplesmente é capaz de tirar todo o sentido”, afirma.

Dentro de toda essa realidade, a comunicóloga social reconhece a importância de aprender a olhar para si e ver seus privilégios. “Essa montanha-russa de emoções me levou a uma busca pessoal por equilíbrio, que mesmo estando distante de alcançar, já me trouxe muitas coisas positivas. Sou grata por, em um momento trágico como esse, ter sobrevivido e me tornado ainda mais desperta para a necessidade urgente de ser uma pessoa melhor por mim e pelo mundo como um todo”, diz.