
Emanuel Aragão, filósofo, escritor, interlocutor em autoescrita, roteirista e dramaturgo, oferece a autoescrita como ferramenta, caminho para quem pretende aliviar as dores da vida. Mas, para que serve a autoescrita? É uma forma para descobrir conflitos? O dramaturgo explica por meio da construção de personagens: “Se o desafio é forte demais, a personagem não consegue superá-lo. Se ele é fraco demais, não se coloca como um conflito em si. Então, é preciso uma adequação do desafio e da personagem. Com esse princípio da narrativa, pensei que se descobríssemos nossos conflitos poderíamos descobrir a estrutura, a maneira que nos sentimos. Minha primeira formação academia é a filosofia e tinha esta pergunta: o que estrutura a nossa subjetividade? Com ela funciona? Desde então, estudo psicanálise e ela parecia ser uma pista das nossas maneiras de sofrer, porque as nossas estruturas de conflitos não poderiam ser respondidas simplesmente pelos campos conscientes, pelo que a gente sabe. Há coisas que não sabemos sobre os nossos conflitos, que não entendemos. Então, comecei a estruturar essas ferramentas de pesquisa, que foram virando a autoescrita. E a pergunta básica é esta: como podemos usar a narrativa para entender o que se sente">
Com a pandemia, as pessoas estão mais sozinhas, mais angustiadas, houve aumento de medicação antidepressiva, estão em sofrimento. E com dificuldade em falar disso. Não é brincadeira o que está acontecendo e qualquer ferramenta de auxílio vale. É o que eu tenho tentado fazer j4s5a
Emanuel Aragão, flósofo e interlocutor em autoescrita md6f
Não me parece uma prática fácil.
Isso não é simples, óbvio. Não é fácil. Mas essas ferramentas servem para construir o entendimento de cada um de suas necessidades fundamentais, de como não estão sendo satisfeitas e de como poderia reorientar sua vida para, talvez, satisfazer suas necessidades afetivas. Isso é uma coisa muito prática e concreta. Mas muitos não sabem que elas existem. Muitos não sabem que a angústia, ansiedade, pânico ou depressão estão ligados a necessidades afetivas não satisfeitas. Ansiedade, por exemplo, pode ter conexão com uma necessidade de fugir, de se defender, que é um sistema afetivo básico, que não sabem que existem, mas se elaborar em episódios narrativos é possível buscar uma saída entendendo esse sofrimento. Ansiedade também está ligada ao abandono, a necessidade de ser amado. A autoescrita funciona para cada um de um jeito.
Quem não consegue fazer a autoescrita é possível encontrar outra forma de respirar?
Sim. A autoescrita não é pensada para quem sabe escrever. Muito pelo contrário. É uma prática de pesquisa dos seus afetos. Ela utiliza as palavras, das frases, das noções narrativas. Muito mais do que escrever alegorias e textos belos, é sobre descrever as cenas e entender em que situações da vida você sentiu isso ou aquilo. Porque quanto mais material há para entender os afetos, mais chances de enfrentá-los, elaborá-los e experimentá-los de maneira mais saudável. A autoescrita funciona assim e, em princípio, qualquer pessoa consegue fazer. Ela não é para quem gosta de escrever, mas para quem está em sofrimento e com dificuldade de entender o sofrimento. Mas, se a pessoa não estiver a fim de ficar elaborando em forma de texto, só o fato de perceber os afetos e os sofrimentos e não tentar escondê-los já é um grande o. Com a pandemia, enfrentamos um grande sofrimento, muito medo, muita incerteza. Não se deve fugir de si mesmo, mas deve-se perceber, se acolher e, em última análise, já é uma forma de respirar.
Quem quiser mergulhar na autoescrita, o que faz? Você faz mentoria?
Fiz o curso de vários jeitos diferentes: presencial, on-line pelo Catarse com mensal, recebia os textos por e-mail e dava retorno, mas ficou inviável porque cheguei a ter mais de 2 mil pessoas no curso. Hoje, o aprendizado da autoescrita ocorre pelo YouTube (www.youtube.com/emanuelaragaoautoescrita). Tem duas partes. Há uma playlist no meu canal, que se chama “Sentir e fazer sentido”. Lá estão as primeiras práticas da autoescrita. O perfil é variado, todas as idades, de todos os lugares. A busca principal dessas pessoas é tentar sofrer menos. E a autoescrita tenta ajudar ao dar uma ferramenta para cada um entender por que está sofrendo do jeito que está sofrendo. E poder elaborar uma saída possível. Não há uma restrição. Mas chamo a atenção para quando a pessoa está em muita crise, angústia aguda. É importante fazer a autoescrita acompanhado de um terapeuta, estar com alguém junto porque pode ser pesado e intenso. Com a pandemia, as pessoas estão mais sozinhas, mais angustiadas, houve aumento de medicação antidepressiva, estão em sofrimento. E com dificuldade em falar disso, não é brincadeira o que está acontecendo e qualquer ferramenta de auxílio vale. É o que eu tenho tentado fazer.
ESCRITA AFETUOSA: UM ENCONTRO CONSIGO 5n5i28

Jornalista, escritora e uma apaixonada pelas palavras, Ana Holanda explica que é possível despertar o interesse pela escrita por ser um processo de condução: “Quando a pessoa a a olhar para a escrita não apenas como técnica, mas também como relação, escrever se torna algo mais fácil e possível.” Por isso, conquistar e praticar a chamada escrita afetuosa é um presente que cada um pode dar a si mesmo que, certamente, vai reverberar no outro. “Escrita afetuosa é aquela que afeta, toca, marca o outro. É uma escrita que é conversa. É um processo muito bonito em que a gente se encontra primeiro para depois encontrar o outro. A grosso modo poderíamos dizer que é uma escrita mais humanizada”.
Para Ana Holanda, a escrita é uma ferramenta potente para o bem-estar e a saúde mental. “Indico muito a prática de um diário para que as pessoas escrevam sobre o que estão sentindo. E aí vem algo bem interessante. Falar para alguém “escreva sobre o que você está sentindo” pode ser fácil, mas para quem precisa escrever, não é. Como escrever sobre a tristeza, a angústia, a ansiedade, o desânimo? Como escrever sobre aquilo que, muitas vezes, é até difícil de falar sobre? É aí que entra o processo de condução. Falar sobre algo que nos incomoda, dói, é algo grande demais, algo inível. É como entrar num lugar “chutando a porta”, ou seja, pode ser assustador.”
Alívio e transbordamento 5k61y

Portanto, a escrita afetuosa também é um ato do fazer pensar. “Quando amos a ter real consciência em relação ao que estamos escrevendo, ela se torna um ato reflexivo. A maior parte das vezes escrevemos de um lugar muito automático, percebendo a escrita apenas como um caminho de regras. Quando você troca a palavra técnica por relação, tudo se transforma. E você começa a entender que a sua dificuldade em colocar as palavras no papel pode estar ligada a outras causas que não apenas o receio de escrever tecnicamente errado. Mas está ligada ao seu medo em se mostrar vulnerável, em se expor”, destaca a escritora.
Segurança e vulnerabilidade 3q5a
Ana Holanda reforça o ganho quando percebe-se que a escrita não está ligada apenas à natureza da técnica, mas da relação, uma relação que a pessoa tem consigo e com o outro. “Quando escrevemos, nos revelamos. Sempre. Mostramos, por meio da nossa composição, das palavras que usamos, se permitimos que o outro se aproxime ou não da gente. Gosto de fazer um comparativo. Há pessoas que vão ficar a vida toda olhando-a ar pela janela; outras irão perceber que é preciso ir para a rua e viver. É sempre uma escolha. E você pode escolher qual decisão quer tomar todo dia. Se manter num lugar seguro, mas automático, adormecido ou num lugar em uma posição de vulnerabilidade, de mergulho interno e viver, sentir, perceber, sair do automatismo, ser intenso">https://materiais.coolhow.com.br/ana-holanda.