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Estado de Minas ENTREVISTA EMANUEL ARAGÃO

Autoescrita: ferramenta para lidar com conflitos e angústias 4h3m5g

Emanuel Aragão, filósofo, interlocutor em autoescrita, roteirista e dramaturgo, explica como o ato de escrever é uma prática de pesquisa dos seus afetos 20c71


25/04/2021 04:00 - atualizado 24/04/2021 17:46

Pergunta básica da autoescrita: como podemos usar a narrativa para entender o que se sente?(foto: Neven Krcmarek/Unsplash)
Pergunta básica da autoescrita: como podemos usar a narrativa para entender o que se sente? (foto: Neven Krcmarek/Unsplash)


Emanuel Aragão, filósofo, escritor, interlocutor em autoescrita, roteirista e dramaturgo, oferece a autoescrita como ferramenta, caminho para quem pretende aliviar as dores da vida. Mas, para que serve a autoescrita? É uma forma para descobrir conflitos? O dramaturgo explica por meio da construção de personagens: “Se o desafio é forte demais, a personagem não consegue superá-lo. Se ele é fraco demais, não se coloca como um conflito em si. Então, é preciso uma adequação do desafio e da personagem. Com esse princípio da narrativa, pensei que se descobríssemos nossos conflitos poderíamos descobrir a estrutura, a maneira que nos sentimos. Minha primeira formação academia é a filosofia e tinha esta pergunta: o que estrutura a nossa subjetividade? Com ela funciona? Desde então, estudo psicanálise e ela parecia ser uma pista das nossas maneiras de sofrer, porque as nossas estruturas de conflitos não poderiam ser respondidas simplesmente pelos campos conscientes, pelo que a gente sabe. Há coisas que não sabemos sobre os nossos conflitos, que não entendemos. Então, comecei a estruturar essas ferramentas de pesquisa, que foram virando a autoescrita. E a pergunta básica é esta: como podemos usar a narrativa para entender o que se sente">

Com a pandemia, as pessoas estão mais sozinhas, mais angustiadas, houve aumento de medicação antidepressiva, estão em sofrimento. E com dificuldade em falar disso. Não é brincadeira o que está acontecendo e qualquer ferramenta de auxílio vale. É o que eu tenho tentado fazer j4s5a

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Não me parece uma prática fácil. 

Isso não é simples, óbvio. Não é fácil. Mas essas ferramentas servem para construir o entendimento de cada um de suas necessidades fundamentais, de como não estão sendo satisfeitas e de como poderia reorientar sua vida para, talvez, satisfazer suas necessidades afetivas. Isso é uma coisa muito prática e concreta. Mas muitos não sabem que elas existem. Muitos não sabem que a angústia, ansiedade, pânico ou depressão estão ligados a necessidades afetivas não satisfeitas. Ansiedade, por exemplo, pode ter conexão com uma necessidade de fugir, de se defender, que é um sistema afetivo básico, que não sabem que existem, mas se elaborar em episódios narrativos é possível buscar uma saída entendendo esse sofrimento. Ansiedade também está ligada ao abandono, a necessidade de ser amado. A autoescrita funciona para cada um de um jeito.

Quem não consegue fazer a autoescrita é possível encontrar outra forma de respirar?

Sim. A autoescrita não é pensada para quem sabe escrever. Muito pelo contrário. É uma prática de pesquisa dos seus afetos. Ela utiliza as palavras, das frases, das noções narrativas. Muito mais do que escrever alegorias e textos belos, é sobre descrever as cenas e entender em que situações da vida você sentiu isso ou aquilo. Porque quanto mais material há para entender os afetos, mais chances de enfrentá-los, elaborá-los e experimentá-los de maneira mais saudável. A autoescrita funciona assim e, em princípio, qualquer pessoa consegue fazer. Ela não é para quem gosta de escrever, mas para quem está em sofrimento e com dificuldade de entender o sofrimento. Mas, se a pessoa não estiver a fim de ficar elaborando em forma de texto, só o fato de perceber os afetos e os sofrimentos e não tentar escondê-los já é um grande o. Com a pandemia, enfrentamos um grande sofrimento, muito medo, muita incerteza. Não se deve fugir de si mesmo, mas deve-se perceber, se acolher e, em última análise, já é uma forma de respirar. 

Quem quiser mergulhar na autoescrita, o que faz? Você faz mentoria?

Fiz o curso de vários jeitos diferentes: presencial, on-line pelo Catarse com mensal, recebia os textos por e-mail e dava retorno, mas ficou inviável porque cheguei a ter mais de 2 mil pessoas no curso. Hoje, o aprendizado da autoescrita ocorre pelo YouTube (www.youtube.com/emanuelaragaoautoescrita). Tem duas partes. Há uma playlist no meu canal, que se chama “Sentir e fazer sentido”. Lá estão as primeiras práticas da autoescrita. O perfil é variado, todas as idades, de todos os lugares. A busca principal dessas pessoas é tentar sofrer menos. E a autoescrita tenta ajudar ao dar uma ferramenta para cada um entender por que está sofrendo do jeito que está sofrendo. E poder elaborar uma saída possível. Não há uma restrição. Mas chamo a atenção para quando a pessoa está em muita crise, angústia aguda. É importante fazer a autoescrita acompanhado de um terapeuta, estar com alguém junto porque pode ser pesado e intenso. Com a pandemia, as pessoas estão mais sozinhas, mais angustiadas, houve aumento de medicação antidepressiva, estão em sofrimento. E com dificuldade em falar disso, não é brincadeira o que está acontecendo e qualquer ferramenta de auxílio vale. É o que eu tenho tentado fazer.
 
 

ESCRITA AFETUOSA: UM ENCONTRO CONSIGO 5n5i28


Como escrever sobre aquilo que, muitas vezes, é até difícil de falar sobre?(foto: Thought Catalog/Unsplash)
Como escrever sobre aquilo que, muitas vezes, é até difícil de falar sobre? (foto: Thought Catalog/Unsplash)


Jornalista, escritora e uma apaixonada pelas palavras, Ana Holanda explica que é possível despertar o interesse pela escrita por ser um processo de condução: “Quando a pessoa a a olhar para a escrita não apenas como técnica, mas também como relação, escrever se torna algo mais fácil e possível.” Por isso, conquistar e praticar a chamada escrita afetuosa é um presente que cada um pode dar a si mesmo que, certamente, vai reverberar no outro. “Escrita afetuosa é aquela que afeta, toca, marca o outro. É uma escrita que é conversa. É um processo muito bonito em que a gente se encontra primeiro para depois encontrar o outro. A grosso modo poderíamos dizer que é uma escrita mais humanizada”.

Para Ana Holanda, a escrita é uma ferramenta potente para o bem-estar e a saúde mental. “Indico muito a prática de um diário para que as pessoas escrevam sobre o que estão sentindo. E aí vem algo bem interessante. Falar para alguém “escreva sobre o que você está sentindo” pode ser fácil, mas para quem precisa escrever, não é. Como escrever sobre a tristeza, a angústia, a ansiedade, o desânimo? Como escrever sobre aquilo que, muitas vezes, é até difícil de falar sobre? É aí que entra o processo de condução. Falar sobre algo que nos incomoda, dói, é algo grande demais, algo inível. É como entrar num lugar “chutando a porta”, ou seja, pode ser assustador.”

Alívio e transbordamento 5k61y


Para a jornalista e escritora Ana Holanda, quando você troca a palavra técnica por relação, tudo se transforma. Você começa a entender que a sua dificuldade em colocar as palavras no papel pode estar ligada ao medo de se mostrar vulnerável, em se expor(foto: Nuno Henrique/Divulgação)
Para a jornalista e escritora Ana Holanda, quando você troca a palavra técnica por relação, tudo se transforma. Você começa a entender que a sua dificuldade em colocar as palavras no papel pode estar ligada ao medo de se mostrar vulnerável, em se expor (foto: Nuno Henrique/Divulgação)
Mas Ana Holanda alerta que as palavras também podem ser gentis. “Não dá para começar por esse lugar “grande” (a tristeza), mas você pode começar, por exemplo, por algo ao seu redor: a pilha de papeis acumulados na mesa (que pode representar sua ansiedade), a cor da blusa que você está usando que é da mesma cor que a sua mãe gosta (um texto sobre saudade)... E dessa forma vamos escrevendo e conseguindo perceber o que estamos sentindo a partir de um olhar de perspectiva. Além disso, é uma escrita que alivia, tira um peso, e pode nos fazer transbordar”.

Ana Holanda lembra que, além de ajudar com as questões pessoais, a escrita também é uma forma de dar saltos na vida profissional, dos negócios. “A escrita deveria ser uma conversa sempre. Percebo, cada vez mais, como as empresas estão notando (finalmente, mesmo que lentamente) que a escrita praticada hoje no meio corporativo, de uma forma geral, não conversa com ninguém (pelo automatismo, pelo formato “enquadrado”, pelo uso das palavras). E cada vez mais as pessoas sentem a necessidade de serem percebidas, enxergadas. O funcionário não quer mais ser um colaborador, mas uma pessoa, que sente, que se relaciona. É humanizar o discurso. E isso pode ser também um grande diferencial para pequenos negócios e empreendedores: conversar olho no olho, construir uma relação, um laço com o outro. É isso, o laço que criamos, que nos ajuda a sobreviver em meio ao caos, as dificuldades, aos tempos difíceis. É isso que ensino no curso Alma, produção de conteúdo para pequenos negócios (https://materiais.coolhow.com.br/curso-alma)”.

Portanto, a escrita afetuosa também é um ato do fazer pensar. “Quando amos a ter real consciência em relação ao que estamos escrevendo, ela se torna um ato reflexivo. A maior parte das vezes escrevemos de um lugar muito automático, percebendo a escrita apenas como um caminho de regras. Quando você troca a palavra técnica por relação, tudo se transforma. E você começa a entender que a sua dificuldade em colocar as palavras no papel pode estar ligada a outras causas que não apenas o receio de escrever tecnicamente errado. Mas está ligada ao seu medo em se mostrar vulnerável, em se expor”, destaca a escritora.

Segurança e vulnerabilidade 3q5a


Ana Holanda reforça o ganho quando percebe-se que a escrita não está ligada apenas à natureza da técnica, mas da relação, uma relação que a pessoa tem consigo e com o outro. “Quando escrevemos, nos revelamos. Sempre. Mostramos, por meio da nossa composição, das palavras que usamos, se permitimos que o outro se aproxime ou não da gente. Gosto de fazer um comparativo. Há pessoas que vão ficar a vida toda olhando-a ar pela janela; outras irão perceber que é preciso ir para a rua e viver. É sempre uma escolha. E você pode escolher qual decisão quer tomar todo dia. Se manter num lugar seguro, mas automático, adormecido ou num lugar em uma posição de vulnerabilidade, de mergulho interno e viver, sentir, perceber, sair do automatismo, ser intenso">https://materiais.coolhow.com.br/ana-holanda.
 
 
 

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