
Quando RubySam Youngz foi vítima de bullying aos 10 anos de idade na escola, se sentiu isolada e confusa. Ela tinha acabado de se mudar com a família da Inglaterra para o País de Gales, e os colegas zombaram do seu sotaque. Na sequência, começaram a debochar da sua aparência.
"Nada, na verdade, fazia sentido para mim", diz ela. "Estava em um lugar novo, não conhecia ninguém, ninguém gostava de mim e realmente não sabia por quê."
Youngz conta que o bullying continuou até o ensino médio, e teve um efeito em cascata em todas as áreas da sua vida - ela começou a fumar e beber na tentativa de lidar com a questão.
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Só agora, aos 46 anos, Youngz conseguiu entender a dimensão que o bullying teve sobre ela.
"Eu sentia que se 'ninguém gosta de mim, eu também não gosto de mim'", desabafa.
A experiência dela ilustra uma verdade dolorosa. As crianças, apesar de toda a inocência e inexperiência de vida, podem ser os agressores mais cruéis. Suas ações, talvez menos freadas pelas normas sociais que aprendemos mais tarde, podem ser desumanas, violentas e chocantes. E podem ter consequências para o resto da vida das vítimas.O que leva, no entanto, uma criança a praticar bullying?

"Durante muito tempo, na literatura científica, acreditamos que havia apenas um tipo de agressor: uma criança altamente agressiva que tinha problemas de autoestima, possivelmente criada em um lar violento ou negligente", explica Dorothy Espelage, professora de educação na Universidade da Carolina do Norte, nos EUA.
Mas esta imagem agora está mudando. A definição de bullying adotada por acadêmicos afirma que é uma forma de agressão entre indivíduos ou grupos que têm diferentes níveis de poder.
Talvez essa descrição não consiga capturar o impacto terrível que pode ter sobre as vítimas ou as razões complexas pelas quais as pessoas se tornam agressores. Mas um elemento-chave é a diferença de poder.
"Pode ser que você esteja fazendo bullying comigo, e você seja popular, e eu não seja popular, e essa diferença de poder dificulte com que me defenda", diz Espelage.
Embora a violência doméstica e a agressão de irmãos ainda sejam fatores de risco para crianças praticarem bullying, não são a única razão, acrescenta a especialista. As crianças que crescem em lares violentos, mas frequentam uma escola com um programa antibullying e uma atmosfera de apoio, não se tornam necessariamente agressoras.

Valentão ultraado 4f4042
Pesquisas mostram que a imagem do clássico “valentão” da escola se tornou mais sutil nos últimos anos. Além da agressão declarada e direta, outro tipo maquiavélico de bullying foi identificado.
As crianças que se enquadram nessa categoria tendem a ter mais habilidades sociais, muitas vezes são carismáticas e queridas pelos professores – bem diferente do estereótipo dos agressores.
Basicamente, essas crianças decidem praticar ou não o bullying de acordo com suas necessidades.
"Os agressores socialmente dominantes querem ser o líder da multidão", afirma Espelage.

"E a maneira como eles fazem isso é empurrando outras crianças para baixo na hierarquia."
Outras pesquisas argumentam que o bullying geralmente diz mais sobre o agressor em si do que sobre as próprias vítimas.
Em um estudo com crianças em idade escolar na Itália e na Espanha, os estudantes participaram de um exercício que previa pensar em uma situação de bullying do ponto de vista do agressor. Os pesquisadores também deram às crianças um questionário para preencher sobre os colegas, que deveriam ser classificados como agressor, vítima ou alguém alheio à questão.
Aqueles que foram apontados como agressores pelos colegas se mostraram mais propensos a reagir a um incidente hipotético de bullying com declarações que focavam em como o episódio afetava o próprio agressor, fazendo declarações como: "Eu me sentiria bem porque chamei a atenção de outras crianças”.
Ou demonstrando total falta de empatia: “Não me sinto culpado porque não penso nisso"; "Me sentiria indiferente porque a vítima não sofre".
Novos tempos, novo bullying 6d3f22
O bullying também assumiu novas formas nos últimos anos. Até então, os acadêmicos definiam a prática como uma agressão recorrente contra a vítima. Mas o universo online está desconstruindo essa ideia, devido ao potencial impacto que um único episódio de cyberbullying pode ter.
"Precisa acontecer mais de uma vez, quando você posta algo que foi para um milhão de pessoas?" questiona Espelage.
"Provavelmente, não."
Na verdade, há uma convergência tão grande entre o bullying praticado na escola e o cyberbullying que alguns pesquisadores argumentam que estão se tornando a mesma coisa – especialmente agora que as crianças costumam levar os smartphones para a sala de aula.

"Na minha pesquisa, constatamos que muitas vezes os agressores da escola continuam a perseguição online", diz Calli Tzani-Pepelasi, professora de psicologia investigativa da Universidade de Huddersfield, no Reino Unido.
"Eles podem estar sentados um ao lado do outro, mas preferem intimidar um ao outro por meio da rede social, pois assim suas ações podem ser vistas por mais gente, e eles sentem uma falsa sensação de fama."
Motivação 4wx2t
O que você deve fazer então se acredita que seu filho pode estar praticando bullying com outras crianças?
Buscar a origem das motivações deles é um bom começo.
“Se alguém me ligasse e dissesse que meu filho está tendo esse tipo de comportamento, eu gostaria de perguntar (à criança): 'O que você está ganhando com isso? Por que você está fazendo isso’">