
Parto prematuro: aquele que ocorre antes de o feto completar 37 semanas de gestação – início do nono mês –, normalmente entre a 20ª e a 36ª semanas, em decorrência da condição clínica da mãe ou do bebê. E, apesar de o parto ser feito antes do momento ideal e, em alguns casos, causar danos à saúde da criança, ele é, também, salvação. Uma chance para a vida. “O João é um verdadeiro milagre”, relata a mãe do pequeno João Otávio Nunes da Veiga, fruto de parto prematuro, atualmente com 3 anos, a estudante de direito Natália Nunes, de 30.
Ela conta que, quando engravidou de João, mantinha uma gestação normal e saudável. Porém, certa manhã acordou com dores fortes e com o pijama da noite anterior ensanguentado. “Fui correndo para o hospital. Quando cheguei lá, os médicos me examinaram e viram que meu colo do útero estava fechado, mas eu estava 100% dilatada. Fiquei três dias internadas, e o médico me disse que eu só sairia de lá quando o João nascesse.”

A história do pequeno João é única, assim como a de 340 mil outros bebês brasileiros, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Nos dias de hoje, observa-se que o número de partos prematuros é maior, e isso em razão de uma série de motivos. A gravidez na adolescência é um deles. O corpo de uma adolescente ainda não está bem formado e, às vezes, não consegue levar a gestação até o fim. A gravidez de gêmeos, por causa das fertilizações in vitro, é outra razão”, explica o ginecologista obstetra César Patez, especialista em laparoscopia, histeroscopia, endometriose e cirurgia íntima feminina.
Apesar disso, com o avanço da tecnologia e o acompanhamento correto, as crianças têm grandes chances de sobrevivência, com o desenvolvimento sendo concluído fora do útero. Não à toa, algumas descobertas recentes podem contribuir para mais avanços e mais vidas salvas. “Estudos indicam que há seis genes ligados ao parto prematuro e os pesquisadores acreditam que essa descoberta pode servir como ponto de partida para tratamentos e indicações nutricionais que possam evitar esse parto”, destaca.
E as causas são diversas, conforme César Patez. “O parto prematuro acontece devido a vários fatores, como infeções uterinas, ruptura prematura da bolsa amniótica, descolamento placentário e doenças relacionadas à saúde da grávida, como anemia e pré-eclâmpsia, por exemplo. O fumo, consumo de álcool e drogas, assim como obesidade, baixo peso e estresse, também podem inferir prematuridade. Algumas complicações durante a gestação também podem ser um sinal de alerta, como infecções do trato urinário, sangramento vaginal, pressão alta e distúrbios de coagulação.”
Existem, ainda, alguns casos que tornam o parto prematuro mais provável, como anomalias congênitas do bebê, gestações muito próximas uma da outra e gravidez gemelar ou de múltiplos. A síndrome do ovário policístico também se encaixa como uma das predisposições possíveis. “A síndrome aumenta consideravelmente o risco de complicações obstétricas, entre elas a pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e prematuridade. Portadoras de adenomiose e endometriose, que são doenças inflamatórias, podem influenciar negativamente a ocorrência de parto prematuro, pois favorecem a ruptura de membrana amniótica precocemente”, diz.
Além disso, em alguns casos pode ser difícil descobrir a causa da prematuridade, segundo Rosiane Mattar, presidente da Comissão Nacional Especializada de Gestação de Alto Risco da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Mas, pode-se pensar em possíveis condições capazes de acarretar o quadro, como as causas infecciosas, entre elas a infecção urinária ou as infecções cervicovaginais mesmo que inaparentes.
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Para a criança, a prematuridade é a principal causa de doenças hoje em dia. Ela pode causar morbidade e mortalidade neonatal, e o grande medo são as complicações neurológicas e cardiovasculares em razão de ainda não haver amadurecimento desses sistemas, surdez, danos cognitivos para o resto da vida e, também, de nutricidade, explica Rosiane Mattar.
Justamente por isso, é muito importante que o bebê seja acompanhado de perto desde o nascimento, em unidades de terapia intensiva. Além disso, antes mesmo do parto, é necessário que, conhecendo a possibilidade de prematuridade, em casos em que há doenças preexistentes, cuidados sejam tomados desde antes de a mãe entrar em trabalho de parto. “E quando o neném nasce, buscamos manter a temperatura e fazer um atendimento neonatal rápido e preciso”, comenta a especialista.
Em alguns casos, no entanto, nada pode-se fazer para prevenir o parto prematuro. Justamente por isso, Rosiane Mattar destaca que o o mais importante é fazer um bom pré-natal, tentar evitar infecções cervicovaginais, fazer um diagnóstico precoce de colo curto e tratar condições existentes para diminuir o risco de prematuridade. “Mas não que a paciente possa, de fato, fazer algo para evitar. O que ela pode fazer é ter uma boa alimentação e um bom pré-natal”, comenta.
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Esses bebês, chamados prematuros ou milagres, lutam pela vida desde o parto. Na UTI não seria diferente. João Otávio travou uma forte luta para ganhar peso e alcançar o tamanho ideal para deixar o hospital. Segundo relatos da mãe, ele ganhava cinco gramas em um dia, e regredia perdendo mais de 20 no dia seguinte, chegando a pesar 420 gramas.

COVID-19 54106h
Em meio à pandemia de COVID-19, com as grávidas entre os grupos de risco, há diversos questionamentos sobre o que a doença pode causar à vida da mãe e do bebê, bem como para a prematuridade do parto. Porém, Rosiane Mattar explica que a correlação entre os dois fatores se dá em casos graves da doença. “A principal relação COVID e prematuridade é que muitas vezes a mãe fica grave da doença e tem uma diminuição do oxigênio, e isso pode determinar um agravo fetal.”
“Então, a maior parte dos prematuros por COVID ocorre pela antecipação do parto em razão de a mãe ou a criança estar muito mal, havendo necessidade de antecipar o parto. Mas é verdade que, neste ano da pandemia, também se aprendeu que o ideal é tentar estabilizar a mãe com oxigenação, corticoide, entre outros, e tentar tirá-la do quadro agudo, porque isso melhora a condição da mãe e, também, da criança. Mas, se há perda de vitalidade da mãe ou do feto, tem que antecipar o parto.”
*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram