
Ter a pele bronzeada no verão é o desejo de muitas mulheres. A prática tão comum no Brasil, porém, pode trazer sérias consequências à saúde. Seja natural ou artificial, com fita ou biquíni, na praia, na laje, no clube ou na clínica. Qualquer que seja a forma, o bronzeamento é um dos fatores de risco para o câncer de pele - tumor de maior incidência no Brasil, sendo responsável por, aproximadamente, 30% de todos os tipos de neoplasias diagnosticadas no país.
Embora a doença ainda seja vista com desdém, ela pode ser extremamente grave, quando se trata do melanoma, o tumor mais letal. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), estão previstos, aproximadamente, 229 mil novos casos de câncer de pele em 2023. Com as férias de verão se aproximando, o que motiva muitos a exporem o corpo ao sol para se
bronzear, a tendência é a situação se agravar.
O principal problema é a exposição excessiva à radiação ultravioleta (UV), por meio do sol. Mas o bronzeamento artificial também é um grande vilão, sendo inclusive proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) desde 2009. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o bronzeamento artificial como um potente agente cancerígeno e alertou que quem está atuando na área age de forma irregular e está sujeito ao fechamento e punição.

De acordo com a assessora técnica em Genômica e Genética do Laboratório Lustosa, Fernanda Soardi, existem dois principais tipos de câncer de pele, o não-melanoma (novos 220, 4 mil novos casos previstos pelo INCA, no próximo ano) e o melanoma (deve atingir 8.980 pessoas em 2023). O tipo não-melanoma é o mais comum e está associado a um risco diminuído de mortalidade. Contudo, dependendo da demora no diagnóstico e na extração, pode causar marcas e deformações no corpo da pessoa.
Já o melanoma é a forma menos frequente de câncer de pele e com um elevado índice de mortalidade, se não for diagnosticado precocemente. Ele tem origem nos melanócitos, células responsáveis pela produção da melanina, substância que dá cor à pele. "No princípio, o melanoma se desenvolve na camada mais superficial da pele, onde costuma aparecer em forma de pinta, mancha ou de um sinal, o que facilita a remoção cirúrgica e aumenta a chance de cura. Contudo, quanto mais demorado o diagnóstico, maior a possibilidade de agravamento, do avanço da condição clínica e aumenta o risco de metástase do tumor", destaca a assessora técnica em Genômica e Genética do Laboratório Lustosa, Fernanda Soardi.
Nos dois casos, o sol excessivo é o grande desencadeante. A dermatologista Daniela Gomes explica que o carcinoma basocelular (não melanoma), por exemplo, surge geralmente nas áreas mais expostas ao sol, como face, pescoço, couro cabeludo, orelhas, ombros e dorso. "Ele pode se apresentar como uma pápula vermelha e brilhante, ou como uma placa avermelhada e descamativa. São lesões que podem sangrar com facilidade e crescem muito lentamente", destaca.
Já o carcinoma espinocelular, também do subtipo não melanoma, pode se desenvolver em quaisquer partes do corpo, mas também é mais comuns nas áreas expostas ao sol. Esse tipo costuma ter relação com feridas crônicas, cicatrizes, radiação e uso de alguns medicamentos em pacientes transplantados. "Clinicamente ele se apresenta como uma ferida espessa e descamativa, que não cicatriza e sangra com frequência, ou pode ter o aspecto de uma verruga", acrescenta Daniela.
Já o melanoma, o câncer mais letal, se apresenta como um "sinal" ou "pinta" acastanhada ou enegrecida que sofre algumas mudanças de padrão, tais como crescimento, mudança de cor, alteração do formato e sangramento. É mais comum nas pernas das mulheres e no tronco dos homens, segundo a médica.
Fatores genéticos - Assim como ocorre em todos os tipos de câncer, os fatores genéticos também devem ser considerados. É o que destaca Fernanda Soardi. De acordo com a especialista, no caso do melanoma é necessária ao menos uma alteração genética para iniciar a formação do tumor. "Essa alteração pode estar presente no indivíduo desde sua formação ou pode surgir no decorrer da vida devido a eventos e fatores que propiciem a formação de alterações genéticas como, por exemplo, a radiação solar", explica.
Fernanda aponta que 5% a 12% dos melanomas são causados por variantes genéticas hereditárias, presentes desde o nascimento do indivíduo. "Este é um importante motivo para que familiares de pacientes diagnosticados com a doença mantenham o acompanhamento médico e façam exames preventivos regularmente. Quando mais de um indivíduo na família apresenta melanoma, ou quando a manifestação ocorre em idade atípica ou em indivíduos de grupos mais raramente acometidos pela doença, a possibilidade de melanoma hereditário ou familiar deve ser considerada. Vários genes já foram associados à doença e podem ser investigados por meio de painéis multigênicos para melanoma ou para câncer hereditário", complementa a assessora.
A especialista orienta que um adequado acompanhamento clínico e um bom conhecimento sobre o histórico pessoal do indivíduo e da sua família permitem o direcionamento para os exames genéticos que podem ser mais informativos em cada caso. "Quanto mais precocemente o câncer de pele for detectado, independentemente do tipo e se é hereditário ou não, maior a chance de um tratamento adequado e de cura, quando possível", conclui.
Cuidados com o sol - Segundo a dermatologista Daniela Gomes, os cuidados devem ser redobrados nesta época do ano, especialmente por pessoas de pele clara com sardas, cabelos louros ou ruivos e olhos claros. "As crianças e adolescentes também precisam de especial atenção e cuidados, já que o histórico de queimaduras solares nessas faixas etárias aumenta o risco de melanoma", observa.
A especialista destaca que o ideal seria evitar o sol entre as 10h e 16h, usar chapéus, camisetas e óculos. Como nem sempre isso é possível, a principal recomendação contra o câncer de pele é usar protetor solar. "Isso vale não apenas para os que buscam um bronzeado, mas por todos expostos aos raios solares e até mesmo por aqueles que estão em ambientes fechados", ressalta.
A recomendação é válida também em outras estações, como outono e inverno, em dias frios e chuvosos. Daniela afirma que o uso do protetor solar deve ser diário, com fator de proteção (FPS), no mínimo acima de 30, devendo o produto ser reaplicado a cada duas ou três horas e após atividades ao ar livre. A quantidade correta equivale a uma colher de chá rasa para o rosto e 3 colheres de sopa para o corpo.
Diante da inegável importância dos protetores solares para a prevenção do câncer de pele, a dúvida é: como escolher o produto mais eficiente em meio a tantas opções? A especialista orienta que o primeiro o é avaliar o fator de proteção solar aos raios UVB, o famoso FPS. "O mínimo deve ser de 30, mas peles mais claras precisam de um FPS mais elevado. O valor do PPD, que mede a proteção aos raios UVA, também precisa ser avaliado, e deve ser de no mínimo metade do valor do FPS. O veículo do produto precisa levar em consideração cada tipo de pele. Por exemplo, peles mais oleosas se beneficiam de veículos mais leves e livres de óleos, como gel ou loção", indica.
Daniela orienta que os cuidados com a pele não devem ser s ao mês de dezembro, mas diários. "Se tiver dúvida sobre manchas, pintas ou sinais, não hesite em procurar um dermatologista para que ele faça ou solicite exames detalhados", aconselha.