
Análises sem açodamento
Sei que o torcedor é ional e que sua opinião é guiada pelo coração. Mas é preciso ir além dos resultados, observar o desempenho
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Os resultados no futebol costumam moldar opiniões muito mais que o desempenho das equipes em si. Muita gente, inclusive da mídia especializada, vai da crítica mais ácida ao elogio mais ufanista por conta de duas vitórias, percorrendo o percurso contrário em caso de duas derrotas.
O cabeça de bagre vira craque se fizer dois gols. E o artilheiro que tanto ajudou o time é considerado descartável quando faz duas partidas seguidas ruins.
Em Minas vemos isso claramente. O Cruzeiro evoluiu muito desde que Leonardo Jardim ganhou autonomia para montar a equipe de acordo com suas convicções. O time ou a ser bem mais organizado taticamente, parou de ter a defesa vazada todos os jogos pelo empenho de todos na marcação, e tem conseguido produzir razoavelmente bem no ataque.
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Apesar de tudo isso, a Raposa está longe de ser um timaço, como já proclamam por aí. Ainda comete erros atrás, no meio e na frente. Tem tudo para evoluir – e terá calendário mais tranquilo após a eliminação na Copa Sul-Americana –, mas o caminho ainda é longo.
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Já o Atlético, que começou o ano acumulando bons números e sendo campeão mineiro, atravessou momento de turbulência. Até o clássico com o Cruzeiro, em 18 de maio, o time vinha tomando gols em quase todos os jogos – foram 15 bolas na rede alvinegra em 10 jogos.
O técnico Cuca parece ter resolvido o problema, mas o desempenho ainda está abaixo do esperado. Há ou houve problemas de contusão, como no caso de Guilherme Arana, um dos melhores laterais do Brasil, e do eficiente volante Alan Franco, mas o sistema defensivo tem se complicado com frequência, com Everson tendo de intervir em muitos momentos.
Mesmo assim, é um time com a espinha dorsal formada e que tem um poderio ofensivo dos melhores do nosso futebol. Com tempo para trabalhar e podendo contar com reforços – ainda não sei se Dudu se encaixa no termo –, Cuca poderá recolocar o Galo nos trilhos, brigando por títulos, como fez no ano ado, quando o comandante, Gabriel Milito, tinha bem menos experiência.
Abordei o futebol mineiro, mas o mesmo vale para outros estados. Não vejo o Flamengo com um grupo tão bom quanto decantam alguns. Nem mesmo o 11 ideal rubro-negro, seja ele qual for na cabeça do técnico Filipe Luís, joga sempre bem. E os suplentes estão abaixo dos titulares na maioria das posições.
Outro exemplo é o Palmeiras. Para muitos, o time não teria adversário na temporada, após ganhar apenas o Campeonato Paulista em 2024. Mas a realidade é outra, com a equipe conseguindo alguns bons resultados, mas longe de ser o bicho-papão desenhado por aí – foi, inclusive, batido pelo no máximo esforçado Corinthians na decisão do Estadual deste ano.
Sei que o torcedor é ional e que sua opinião é guiada pelo coração. Mas é preciso ir além dos resultados, observar o desempenho das equipes, de seus principais jogadores, dos coadjuvantes, dos pratas da casa.
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Às vezes, os triunfos e as derrotas vêm por obra do acaso e não pelo que foi apresentado em campo. Sem açodamento, e sem pensar apenas em cliques, temos chance de fazer análises bem mais qualificadas.
Seleção
A chegada de Carlo Ancelotti para assumir a Seleção Brasileira foi um dos maiores acontecimentos do nosso futebol no último tempo. O mundo todo repercutiu a primeira convocação do italiano, que disse estar muito feliz “em treinar a melhor seleção do planeta”. Os dirigentes da CBF estão sorridentes. Boa parte da imprensa parece maravilhada com a presença de um treinador tão vencedor entre nós.
Como escrevi neste espaço, torço para que Ancelotti consiga fazer o Escrete Canarinho reencontrar seu melhor futebol, unindo espetáculo com efetividade. Porém, sei que bastarão dois tropeços diante de Equador e Paraguai, os próximos adversários, para que as cobranças comecem.
E aí, tenho certeza que elas serão tão ou mais fortes do que aos antecessores do atual técnico do Brasil. E isso independerá do futebol apresentado.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.