ARTES CÊNICAS

Três chances para ver "Os sete gatinhos" em Belo Horizonte

Montagem do texto de Nelson Rodrigues pelo Grupo Confesso estará em cartaz desta sexta-feira (11/4) a domingo, no Teatro da Cidade

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Quando a máscara cai, o que sobra é grotesco. Não há expressão melhor para definir “Os sete gatinhos”, peça escrita por Nelson Rodrigues (1912-1980) e que expõe de forma crua – e um tanto irônica – as contradições e hipocrisias da classe média brasileira.


Montada inúmeras vezes – entre as encenações mais memoráveis estão a estreia, em 1958, com direção de Willy Keller (1900-1979), e a montagem de 1999 feita pelo Teatro Oficina –, “Os sete gatinhos” ganha nova versão pelo Grupo de Teatro Confesso, com direção de Guilherme Colina. O espetáculo estará em cartaz desta sexta-feira (11/4) a domingo, no Teatro da Cidade.


A trama da peça gira em torno da família Noronha, composta pelo casal Noronha e Dona Arlete e as cinco filhas. Trata-se de uma família modesta e muito tradicional, que deposita todas as suas esperanças na caçula Silene.


Santa

“A Silene é virgem! Eu criei essa menina para ser uma santa!”, diz Noronha, em um de seus diálogos. Mas mal sabe ele que a filha “dá mais que chuchu na cerca”, conforme alfineta uma das irmãs.


Sob o verniz da integridade e dos bons costumes, o que se vê é podridão moral. Noronha é um funcionário público frustrado e autoritário que acredita poder “comprar” a dignidade. Prega valores morais rígidos, mas finge não ver a degradação da própria família – “A gente vive num chiqueiro, papai. E o senhor quer botar purpurina no porco!”, alerta uma das filhas.


Já Dona Arlete é iva, reprime os problemas familiares e prefere esconder escândalos para manter a imagem de uma “boa família”. As quatro irmãs de Silene são jovens fúteis, agressivas e vulgares. E a “virgem” e “santa” Silene leva uma vida dupla como garota de programa.


“É característica do Nelson Rodrigues desvelar a hipocrisia dos brasileiros e mostrar quem nós verdadeiramente somos. Mas, em ‘Os sete gatinhos’, tem uma coisa muito interessante que é a maneira como a trama desperta a curiosidade do público feito uma novela. A cada quadro, o espectador vai tendo mais vontade de entender quem é aquele personagem e o que está acontecendo”, afirma o diretor Guilherme Colina.


“Nas montagens que já fizemos, percebi que o espectador fica rastreando tudo. Fica muito ligado”, acrescenta.


O Grupo Confesso estreou “Os sete gatinhos” em 2021, quando os teatros reabriram depois da eclosão da pandemia. Por causa do contexto pandêmico, algumas limitações foram impostas à encenação. Os atores tinham que contracenar respeitando certo distanciamento, e a cenografia era mais enxuta.


A reestreia da peça, neste final de semana, portanto, tem gosto de ineditismo. Equipe e elenco são os mesmos de 2021, mas as marcações e os elementos cênicos são outros. Com maior liberdade no palco, os atores foram orientados a circular mais, explorando o máximo do cenário assinado por Michelle Mayrink e Leila Guedes.


“Outra preocupação foi a de não cristalizarmos as composições que fizemos na época. É importante dar um pouco mais de abertura para a criatividade e termos mais caminhos para deixar o espetáculo ainda mais maduro”, afirma o diretor.


Ele não ignora os riscos de montar uma obra de Nelson Rodrigues. É fácil cair nas armadilhas dos estereótipos. Contudo, para fugir disso, recorreu à montagem de “Navalha na carne”, de Plínio Marcos (1935-1999), que ele dirigiu e protagonizou aos 26 anos. “Ali, eu levei todas as minhas experiências familiares e todas as dores pelas quais ei, a fim de ar o âmago do ser humano”, comenta.


“Plínio (Marcos) e Nelson (Rodrigues) são figuras muito importantes, que conseguem trazer à tona as mazelas humanas. Um (Plínio) fala do submundo das ruas, e o outro (Nelson) fala da classe média tradicional”, compara.


Três em uma

Além do componente existencial, Guilherme Colina também contou com a artimanha perspicaz de dividir personagens entre diferentes atores. É o caso de Silene, interpretada por Maria Eduarda Cândido, Helen Jardim e Letícia Alvarenga. “É uma personagem que, além de levar uma vida dupla, tem várias personalidades”, explica o diretor.


Um risco assumido, entretanto, foi a escalação de um jovem ator para interpretar o patriarca da família. Rubens Menezes está na casa dos 20 anos, enquanto Noronha já ou dos 50.


“Foi outro cuidado que tivemos. Sabíamos que o desafio seria grande, mas também tínhamos a convicção de que daria certo. E foi o que aconteceu. O Rubens não caiu em estereótipos e convence as pessoas de que a idade dele é superior a 50 anos”, diz o diretor.


“Os sete gatinhos” termina de maneira trágica. E como toda tragédia, não é a solução para o conflito o que importa. Nessa peça de Nelson Rodrigues, o que fica para o público é a reflexão sobre o cinismo. Afinal, a frase “O que interessa é que ninguém saiba. Tudo pode, desde que ninguém veja”, dita por Dona Arlete, soaria como música na boca de muita gente.


“OS SETE GATINHOS”
Texto: Nelson Rodrigues. Direção: Guilherme Colina. Com Grupo Confesso. Nesta sexta (11/4), sábado e domingo, às 20h, no Teatro da Cidade (Rua da Bahia, 1.341, Centro).Ingressos à venda por R$ 60 (inteira), R$ 40 (solidário, mediante doação de 1 kg de alimento) e R$ 30 (meia), na bilheteria ou no Sympla.

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