Lagum sai da fossa, dá um tempo do Instagram e lança álbum independente
Banda supera a tristeza pela morte de Tio Wilson, celebra a vida e manda hoje (27/5) o disco 'As cores, as curvas e as dores do mundo' para as plataformas
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Siga noA partir das 19h desta terça-feira (27/5), os fãs da mineira Lagum poderão, enfim, ouvir o novo disco da banda, “As cores, as curvas e as dores do mundo”. A novidade, no entanto, já é conhecida por sortudos que encontraram, na manhã do último sábado (24/5), 10 fitas cassete espalhadas por pontos turísticos de 10 capitais do país, contendo uma faixa inédita do álbum.
O primeiro projeto produzido inteiramente na Ilhota, estúdio da banda no Bairro Santa Tereza, na Zona Leste de Belo Horizonte, marca o reencontro de uma Lagum mais otimista, após o existencialismo introspectivo do disco anterior, “Depois do fim”.
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“A vida voltou a ser boa”, resume o vocalista Pedro Calais, que, ao lado dos companheiros de banda, enfrentou um período de incertezas após a morte repentina do baterista Tio Wilson devido a problemas cardíacos, nos bastidores de um show realizado em Nova Lima, em setembro de 2020. Ele tinha 34 anos.
“É um álbum mais apaixonado pela vida no geral. A narrativa é bem contemplativa, observadora. O ‘Depois do fim’ é uma fossa, foi uma fase de fato triste para nós, em diversos âmbitos. Esse novo disco vem como um refresco. Começamos a experienciar coisas boas da vida”, afirma Calais.
A banda voltou a ser independente, depois de encerrar o contrato com a gravadora Sony.
Se no último projeto a Lagum havia se isolado na zona rural para compor, o processo de criação de “As cores, as curvas e as dores do mundo” foi marcado por outro tipo de afastamento. O quarteto ficou longe das telas.
Em busca de mais leveza no cotidiano, os músicos apagaram o aplicativo do Instagram e decidiram se concentrar no presente.
“Quando você está no momento, você começa a perceber várias coisas se conectando, várias coisas que não tinha percebido ainda. Parece que a vida começa a ficar menos ansiosa, você começa a dar valor para as coisas cotidianas”, afirma Calais. Porém, ele ite: apaga o aplicativo, mas volta e meia liga de novo – afinal de contas, também trabalha no meio digital.
O vocalista comenta o efeito nocivo das redes: “Trazem essa energia de comparação, um desejo insaciável sempre batendo na sua porta, te anunciando alguma coisa… É uma loucura. Só de tentar sair desse estado, botar a mão nas coisas no mundo real, colocar o pé no chão, já traz um certo alívio.”
Sonoridade orgânica
Diante do cenário em que bandas se tornam cada vez mais raras, o quarteto decidiu reforçar justamente essa identidade. Lagum optou pelo som orgânico, gravando todos os instrumentos ao vivo, em vez de recorrer a softwares e produções digitais.
“A gente teve o carinho de tirar do computador, tocar como banda, e depois colocar de volta no computador”, explica Pedro Calais. O resultado é um disco vibrante e apaixonado pela vida.
As faixas “As desvantagens de amar alguém que mora longe” e “Vida novela” foram escritas em parceria com João Ferreira, da banda Daparte, que, nos últimos meses, também compôs para Samuel Rosa e o duo Anavitória.
Em “Tô de olho”, Lagum apresenta a única parceria do disco, a cantora Céu. “Poder ter alguém do calibre dela, e somente ela, é muito significativo”, comemora o guitarrista Jorge.
Quando o quarteto começou a trabalhar no álbum, canções sobre dor de cotovelo e temas mais pessimistas vinham sendo considerados para o projeto. No entanto, essas faixas ficaram de fora por não se conectarem com o discurso que o grupo deseja transmitir.
Depois de criar um bloco de carnaval em BH, promover o festival A Ilha, com edições na Esplanada do Mineirão e no Parque Municipal, e realizar audição aberta para os fãs no Palácio das Artes, o show de lançamento do álbum, pela primeira vez, ocorrerá fora de casa. O local escolhido é o Espaço Unimed, em São Paulo, no dia 2 de agosto. A capital paulista concentra o maior público da banda.
“A gente acabou de fazer o bloco de carnaval na rua. Vamos dar uma distanciada para poder dar uma respirada para o público de BH”, afirma Calais. O show na capital mineira deve ocorrer no meio da turnê.
Em contrapartida, toda a identidade visual do projeto é uma ode a Belo Horizonte. Na capa, por exemplo, Pedro Calais aparece com a perna pendurada no alto do Edifício Niemeyer, na Praça da Liberdade. Zani, Jorge e Chico estão logo ao lado, no terraço do prédio.
“Quem é daqui vai reconhecer os lugares, vai reconhecer as ruas, o metrô... Acaba sendo uma homenagem”, afirma o baixista Chico.
“As cores, as curvas e as dores do mundo” foi lançado sem nenhum single prévio. É uma forma de incentivar o público a ouvir o disco inteiro. “Em conversas com a distribuidora e com nossa equipe de comunicação, a galera sempre comenta: vamos acreditar no lançamento do álbum, porque essa tendência está voltando forte’”, conta Pedro Calais.
Embora a banda discorde – Pedro brinca, dizendo que ela só vai se repetir por volta do quinquagésimo álbum –, a impressão que fica é de uma certa falta de ousadia. O novo trabalho permanece na zona de conforto, o que, sem dúvida, deve agradar aos ouvintes mais fiéis.
“AS CORES, AS CURVAS E AS DORES DO MUNDO”
• Álbum da banda Lagum
• 10 faixas
• Independente
• Disponível nas plataformas a partir das 19h de hoje (27/5)