Libby, spalla da Filarmônica de Minas, faz sua estreia como solista em BH
Desde 2024, a americana Elizabeth Fayette 'chefia' os violinos na orquestra. Nesta quinta (29/5), ela vai interpretar a 'Fantasia escocesa', de Max Bruch
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Siga noUm e-mail trouxe a violinista americana Elizabeth Fayette ao Brasil. Em agosto de 2022, seguindo recomendação do violinista israelense Vadim Gluzman, o maestro Fabio Mechetti escreveu a ela. Apresentou a si e à Filarmônica de Minas Gerais, contou que há tempos buscava um novo spalla. Terminou com o convite para que ela viesse a Belo Horizonte conhecer a orquestra.
Em novembro de 2022, Elizabeth, Libby é como a maioria a chama, ou três semanas com a Filarmônica. Em 2023, continuou os trabalhos e, no ano ado, tornou-se oficialmente a spalla da orquestra. O público que frequenta a Sala Minas Gerais já se acostumou a vê-la, delicada e sorridente, na primeira fila dos violinos, à esquerda do regente.
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Nesta quinta-feira (29/5), Libby estreia como solista. Sob a regência de Mechetti, executa a “Fantasia escocesa”, de Max Bruch. O programa dos concertos de hoje (29/5) e amanhã (30/5) terá também a “Sinfonia nº 2”, de Beethoven, e a inédita “Cristais”, composta por Igor Maia, vencedor do Festival Tinta Fresca 2024, em homenagem à poeta Adélia Prado.
“Quando Bruch escreveu a peça (em 1880), ele nunca havia estado na Escócia. Mas a Biblioteca de Munique tinha um grande acervo de música escocesa. A ‘Fantasia escocesa’ se tornou rapidamente popular e foi defendida por dois violinistas fantásticos do final do século 19: (o húngaro) Joseph Joachim, que trabalhou em estreita colaboração com Brahms, e o virtuoso espanhol Pablo de Sarasate”, explica Libby.
A estreia como solista ocorre no momento em que a musicista está adaptada à Filarmônica e ao Brasil. “Há o lado do spalla que o público vê: subir no palco, o aperto de mãos com o maestro. Se houver solos na parte orquestral, geralmente sou eu quem toco. O que as pessoas não veem é o trabalho dos bastidores”, comenta.
Uma das missões da nova spalla é decidir sobre as arcadas para a orquestra, em que direção vão os arcos na seção de cordas.
“Um, dois, até três meses antes do ensaio com a partitura, tomo as decisões sobre como os violinos vão tocar. A partir deles, violas, violoncelos e baixos tomarão suas decisões. Isso é muito importante, porque se as coisas não combinam, há confusão no ensaio e isso toma tempo. Também tenho que considerar de quantas maneiras diferentes se pode realizar algo. Se o maestro disser que quer um som diferente, algo bem devagar ou bem rápido, já preparei todas as opções.”
Libby, de 36 anos, é a segunda dos quatro filhos de um casal de professores de música de Long Island, no estado de Nova York. “Quando meus pais se casaram, eles decidiram que os filhos não precisariam ser músicos, poderiam fazer outra coisa. Mas iríamos começar jovens o suficiente, e com todo o apoio, para que fosse no nível mais alto, caso quiséssemos a música.”
Como o irmão mais velho tocava violino, a mãe decidiu que Libby tocaria cello. Mas ela queria seguir o primogênito. “Fui teimosa o suficiente para que minha mãe me desse o violino.”
As pessoas se impressionam quando comenta que começou tão cedo. “Não é tão impressionante, porque quando se tem 2 anos, você faz o que os pais mandam. Muito disso não se trata de tocar o instrumento de fato, mas de construir a base para o futuro: como seguir instruções, como ficar parado, como ter paciência, como resolver problemas.”
Família virtuose
Os quatro irmãos são musicistas dedicados às cordas. “Nossa família, se combinada, tem 42 ou 44 anos na Juilliard”, conta ela.
Libby graduou-se pelo Curtis Institute of Music, na Filadélfia, tão prestigioso quanto a Juilliard, a célebre escola com sede no Lincoln Center, onde fez o mestrado. Só que o Curtis é pequeno, tem apenas 160 alunos. No ano em que ingressou, 127 violinistas fizeram o teste. “Eles aceitaram sete”, relembra.
Tornar-se spalla foi algo natural. “Desde estudante, eu atuava como spalla. Alguns dos meus heróis foram spallas. Um de meus mentores foi Joseph Silverstein, spalla da Sinfônica de Boston que deu aulas na Curtis. Ele realmente me orientou, mesmo não sendo meu professor oficial. Mas como ainda não queria ter uma carreira em que só fizesse uma coisa, não busquei, na casa dos 20 anos, uma posição formal”, conta Libby, que se dedicou por longo período à música de câmara.
Quando a posição chegou, ela veio com tudo. Começou, já no primeiro ano com a orquestra, a ter aulas de português com professor mineiro.
“Acho muito importante demonstrar respeito por meus colegas e pela cultura brasileira. Estou tentando falar e escrever em português. Mas acho que falo como uma criança de 3 anos.” Libby diz esta frase em português sem erros, com o típico sotaque gringo.
Duas casas
Atualmente, ela se divide entre a Filadélfia, onde fica seu apartamento, e Belo Horizonte, onde a de 140 a 160 dias por ano, com intervalos.
Tem caminhado muito e se orienta sozinha. Adora as montanhas, mas se impressionou com as lombadas no caminho até Inhotim.
Libby chama a atenção para a gentileza das pessoas, na orquestra e na cidade. “Elas são curiosas e dispostas a tolerar o meu português ruim.”
ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS
Concertos nesta quinta (29/5) e sexta-feira (30/5), às 20h30, na Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto) Inteira: de R$ 39,60 (mezanino) a R$ 193 (camarote). À venda na bilheteria e no site filarmonica.art.br. O concerto desta quinta será transmitido ao vivo pelo canal da Filarmônica no YouTube, pela Rede Minas e pela Rádio MEC FM (87,1 em BH e Brasília e 99,3 no Rio de Janeiro).