Sabores de vilas e favelas de BH ganham destaque em festival gastronômico
Cozinheiros de comunidades da capital mineira levaram receitas de família para o Mercado da Lagoinha durante o Circuito Gastronômico de Vilas e Favelas
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Siga noDurante dois dias, delícias feitas por cozinheiros das periferias de Belo Horizonte puderam ser degustadas na capital, levando sabores e saberes populares para os visitantes da oitava edição do Circuito Gastronômico de Vilas e Favelas, além de gerar emprego e renda. Realizado no Mercado da Lagoinha, na Região Noroeste de Belo Horizonte, ao longo deste sábado (24/5) e domingo (25), a edição deste ano do circuito reuniu 10 chefs de cozinhas das vilas e favelas de Belo Horizonte.
Eles apresentaram para a população suas especialidades, receitas de famílias e invenções gastronômicas. Caso da chef Luana Andrade, de 43 anos, moradora da Vila Estrela, uma das comunidades mais antigas do Aglomerado Santa Lúcia, na Região Centro-Sul da capital, cujo prato, batizado de “Trio da Lua”, fez sucesso no circuito.
Composto por pequenos pedaços de frango empanado, batata bolinha em conserva e geleia de pimenta agridoce, foi inspirado na vida da família de Luana, um dos cinco filhos de dona Elisabeth Maria de Andrade, cozinheira.
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“Nós somos cinco filhos e a gente sempre queria comer bife à milanesa, só que era muito caro. Minha mãe, então, fazia picadinho para render para todo mundo. E a batata baby (como também é conhecida a batata bolinha) é uma tradição das nossas festas de família. Então, juntei os dois, coloquei geleia de pimenta, uma receita minha especial, e criei esse prato”, conta Luana Andrade, que participa pela segunda vez do circuito gastronômico. Para ela, é uma oportunidade de divulgar seu trabalho de chef de cozinha.
Nome inusitado
Já Wanusa Aparecida da Silva, de 55 anos, participou do festival com seu prato batizado de “Agromerado (com r mesmo) de pobre com farofa”, um mistura de diversos tipos de carne, fritas na chapa com cebola e pimentão, servida com farofa e vinagrete.
A iguaria foi criada especialmente para o evento e segue a tradição adotada por Wanusa, desde as primeira edições do circuito, de batizar seus pratos com nomes inusitados. Ela já participou do circuito com pratos batizados de “porco na lama”, “pé no rabo”, “moela na goela” e “frango com pó de quiabo”.
Essa última receita ela conta que herdou de família e é feita com pó mesmo de quiabo. “E eu já tenho outro prato bolado para a próxima edição que quero fazer com carne de lata”, conta Wanusa, enquanto atende um aglomerado de pessoas ao redor de sua barraca.
O sonho dela é montar um restaurante no Morro das Pedras, onde mora com a família. Wanusa vê no circuito uma oportunidade de juntar recursos para quem sabe ter seu próprio negócio. “Tudo aqui é feito com muito amor, por isso é tão gostoso. Cozinhar é isso”.
Rede afetiva e solidária
A idealizadora do circuito, a produtora cultural Danusa Carvalho, conta que o projeto existe desde 2017 e tem como propósito a criação de uma rede afetiva e solidária para potencializar a cultura alimentar das pessoas do morro, dando visibilidade e proporcionando renda. Não existe ingrediente obrigatório e cada um faz o prato que quiser.
“Desde 2017, o circuito já percorreu 15 comunidades. Temos hoje, nessa edição, 10 cozinheiros de comunidades diversas. A importância deste festival é a valorização dos cozinheiros que estão nas casas, nos bares e restaurantes, mas quase nunca têm oportunidade de mostrar seu próprio sabor como empreendedor”.
“São pessoas que estão sempre levando afeto, amor para a mesa, seja qual for, do bar, da casa, dos restaurantes, e agora eles têm uma oportunidade, uma barraca deles, o público deles, a renda deles, uma forma de valorização desse trabalho tão importante que essas pessoas desenvolvem”, afirma.
Segundo ela, 100% das vendas são dos próprios cozinheiros e o projeto também auxilia na compra dos ingredientes usados nos pratos.
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Ao longo desses anos de existência, conta Danusa, o circuito já ajudou muitos cozinheiros das periferias a se tornaram conhecidos e a ter seu próprio estabelecimento. Desde a primeira edição, cerca de 45 cozinheiros já aram pelo projeto.
A ação também distribui marmitas com apoio do Sopa de Pedra, um projeto que promove jantares gratuitos para pessoas em situação de rua no Centro da capital.