NEURODIVERGÊNCIA

Autismo na vida adulta: o diagnóstico como ferramenta de libertação

Neuropsicólogo dá dicas de como lidar com a situação, as principais reflexões, os caminhos e os direitos

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Sabe aquela sensação de se sentir diferente ou de não pertencer a nenhum grupo? De ter dificuldade para lidar com mudanças imprevistas, de ter pavor de estar em um ambiente barulhento, com som alto e muitas pessoas falando ao mesmo? Esses são alguns sintomas que podem indicar o diagnóstico de autismo na vida adulta.

Será que sou autista e nunca soube? Se essa pergunta já ecoou em seus pensamentos, sim, você pode ser autista. “Essa dúvida já ou pela cabeça de uma infinidade de pessoas adultas, e é mais comum do que se imagina. Mais importante do que qualquer rótulo é o que essa pergunta abre: um convite à autocompreensão, à escuta do próprio funcionamento e, acima de tudo, ao direito de existir plenamente com todas as suas singularidades”, observa Guilherme Cosme, neuropsicólogo na INSELF Neuropsicologia Avançada.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que acompanha a pessoa ao longo da vida e se expressa de forma diferente em cada indivíduo. Até há pouco tempo, o autismo era geralmente retratado com base em estereótipos infantis, o que contribuía para o apagamento de milhares de adultos neurodivergentes que não se encaixavam nesse perfil.

De acordo com o neuropsicólogo, “após a ampliação dos estudos, da escuta qualificada e de vivências compartilhadas, começamos a reconhecer a diversidade de formas com que o autismo pode se manifestar, inclusive em quem sempre ‘deu conta de tudo’, mas às custas de um imenso esforço e sofrimento interno”.

Mas afinal, o que é estar no espectro do autismo?

O TEA envolve um conjunto de características que afetam principalmente a comunicação social, a flexibilidade de pensamento e o processamento sensorial. Em adultos, essas manifestações podem aparecer de maneira mais sutil, mas profundamente impactante. Muitos adultos autistas desenvolveram estratégias de camuflagem para se adaptar às demandas sociais, um processo que pode levar à exaustão emocional, colapsos ou crises de identidade.

Muitos adultos com TEA vivem décadas lidando com sentimentos de inadequação, baixa autoestima, ansiedade social e depressão sem nunca receberem um diagnóstico que explicasse suas dificuldades. E isso é agravado pelo fato de que boa parte da sociedade ainda desconhece as expressões do autismo fora dos estereótipos midiáticos.

Oito sinais que podem estar presentes em adultos no espectro

  • Sentimento persistente de ser “diferente” ou de não pertencer
  • Dificuldade em manter conversas triviais ou sentimento de exaustão após interações sociais
  • Hipersensibilidade a sons, cheiros, luzes ou texturas
  • Interesse profundo e intenso por temas específicos, que muitas vezes se tornam fonte de hiperfoco
  • Rigidez cognitiva, ou seja, dificuldade com mudanças imprevistas ou processos novos
  • Dificuldade em entender ou expressar emoções próprias ou alheias
  • Episódios frequentes de sobrecarga emocional (meltdowns) ou desligamento (shutdowns)
  • Uma vida marcada por tentativas constantes de se “encaixar” e de se comportar de forma “socialmente aceitável”

“Esses sinais podem ser vividos de forma silenciosa, confundidos com timidez, ansiedade, introversão ou até diagnosticados erroneamente como transtornos de personalidade. Por isso, é fundamental considerar a cognição social nesses casos, a forma como a pessoa compreende o outro, interpreta o mundo e responde a ele”, alerta Cosme.

O processo de avaliação e diagnóstico

A investigação diagnóstica deve ser feita por uma equipe multidisciplinar especializada. A avaliação neuropsicológica é um dos pilares nesse processo. Ela permite analisar o funcionamento cognitivo, emocional e adaptativo, fornecendo dados objetivos sobre como a pessoa percebe, organiza e responde ao mundo. Também permite diferenciar o TEA de condições como TDAH, ansiedade social, depressão e outros transtornos que compartilham sinais semelhantes.

A consulta psiquiátrica também é fundamental, especialmente para avaliar comorbidades e prescrever tratamentos, se necessário. Outros profissionais, como terapeutas ocupacionais, psicólogos clínicos e fonoaudiólogos, também podem contribuir para um diagnóstico mais completo e cuidadoso.

“O processo avaliativo não deve ser vivido como um ‘teste para saber se você é autista ou não’, mas como um caminho de escuta, acolhimento e entendimento. Diagnosticar o autismo em adultos é, antes de tudo, um exercício de empatia, que considera a história de vida, os esforços de adaptação e os impactos subjetivos dessa trajetória”, orienta o neuropsicólogo.

O diagnóstico como ferramenta de libertação

O diagnóstico não é uma sentença, mas uma chave que abre a porta da autocompreensão. Muitas pessoas vivem anos se achando inadequadas, e compreender-se como autista permite reescrever a própria história com mais clareza, validar sofrimentos ados e desenvolver estratégias mais respeitosas consigo mesmo.

Além disso, o diagnóstico possibilita:

  • o a tratamento adequado: psicoterapia adaptada à neurodivergência, treinamento de habilidades sociais, e sensorial e intervenções baseadas nas reais necessidades da pessoa
  • Reconhecimento de direitos: políticas públicas de saúde, educação, trabalho e benefícios legais, como BPC e adaptações em concursos ou ambientes de trabalho
  • Fortalecimento de redes de apoio: grupos autistas, coletivos neurodivergentes e espaços de escuta têm crescido e se tornado referências na luta anticapacitista e quanto à visibilidade social
  • Ativismo e pertencimento: ser autista é também um posicionamento político. Trata-se de reconhecer que o mundo foi desenhado para um modo de funcionar, mas há múltiplas formas legítimas de ser, sentir e pensar

Orientações para quem deseja investigar essa possibilidade

O primeiro o é procurar um psicólogo ou neuropsicólogo com experiência em autismo na vida adulta. Prefira clínicas que ofereçam avaliações completas, com entrevistas clínicas, aplicação de testes, observação comportamental e escuta subjetiva;

  • Reúna a sua história: relatos do período escolar, memórias de infância, relatos de familiares ou amigos podem ser úteis
  • Não tenha medo do diagnóstico: ele não muda quem você é, apenas oferece uma nova lente para olhar sua trajetória com mais generosidade
  • Respeite o seu tempo: para algumas pessoas, o processo leva meses. Para outras, é quase imediato. O importante é que seja verdadeiro

“Se você sente que viveu por muito tempo em desconforto com o mundo, ou consigo mesmo, saiba que você merece compreensão, respeito e e. O autismo na vida adulta é real, legítimo e merece visibilidade. Nomear é validar, e validar é cuidar”, aconselha o especialista

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